Soja volta a cair em Chicago com pressão do financeiro, mas dólar dá suporte ao BR
A terça-feira (14) terminou com os preços da soja em baixa na Bolsa de Chicago. Os futuros da oleaginosa até testaram pequenos ganhos mais cedo, porém, os contratos mais negociados concluíram o dia com baixas de 6 a 11,25 pontos, com o julho sendo cotado a US$ 16,98 e o agosto a US$ 16,16 por bushel.
O mercado ainda sente a pressão do financeiro e da aversão ao risco, com os investidores ainda atentos às movimentações na China e a volta de algumas regiões aos lockdowns, a continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia e também as mudanças que o Federal Reserve fará na taxa de juros dos Estados Unidos nesta quarta-feira.
Ainda assim, apesar das interferências externas, do macrocenário bastante nebuloso deste momento, os traders não desviam as atenções de seus fundamentos, que ainda são positivos em algumas frentes, como explicam analistas e consultores.
"Apesar dos fundamentos, os grãos e commodities sentem a pressão do macro nessa semana. Fundos de índice continuam batendo em retirada, tendo em vista o aperto monetário nos EUA e o menor crescimento global. China com seus problemas internos e a inflação global corroendo o poder de compra da população. Tudo isso junto acaba reduzindo o brilho das commodities como forma de investimento", afirma o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
E entre os fundamentos estão, principalmente, as condições de clima para o desenvolvimento da safra americana no Corn Belt.
De acordo com os números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reportados no final do dia de ontem, 88% da área destinada à soja já foi semeada, em linha com os 90% esperados pelo mercado e com a média dos últimos cinco anos. São 70% das lavouras em boas ou excelentes condições, 25% em condições regulares e 5% em condições ruins ou péssimas. No ano passado, estes números eram de 62%; 30% e 8%, respectivamente.
Assim, com a fase final do plantio em andamento, o clima se torna ainda mais preocupante, principalmente porque os próximos dias podem ser de calor um pouco mais intenso, de acordo com os mapas atualizados. Mais do que isso, as chuvas deverão se mostrar mais irregulares, uma vez que há no país a formação de uma zona de alta pressão na parte central.
"A combinação calor, menos chuvas e atraso de plantio é o que o mercado esperava para fazer novas máximas – na última 5ª-feira (9) a soja renovou a máxima histórica de fechamento a 1770", afirma Vanin.
Ao lado do clima, há a questão da demanda. A China ainda precisa vir a mercado para garantir algumas compras de soja para estar adequadamente abastecida nos próximos meses, o que deve ser adquirido entre Brasil, Estados Unidos e leilões ainda a serem realizados pelo governo chinês.
Neste momento, ainda como explica o analista da Agrinvest, a soja brasileira se mostra cerca de 20 centavos de dólar mais barata do que a americana para embarque julho, posto China, e 10 cents no embarque agosto.
"Será que a China pode cancelar soja americana e repor com a brasileira? A China tem 2 milhões de toneladas compradas nos EUA e ainda não embarcadas. Desse total 500 mil são de origem opcional – o vendedor pode originar em outro local, exemplo no Brasil", diz Vanin.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, o destaque continua sendo o dólar, que se mostra como o principal vetor de formação de bons preços para a soja no mercado nacional. Segundo explica o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, os atuais valores formados no país ainda são favoráveis e seguem dando boas oportunidades de comercialização.
Nesta terça, a moeda americana encerra o dia com 0,42% de alta, chega a R$ 5,14 se une a prêmios ainda positivos e elevados e resulta em bons preços para a soja brasileira, principalmente nos portos. No mercado de balcão, preços estáveis, de acordo com o levantamento da Brandalizze Consulting, variando de R$ 178,00 a R$ 188,00 por saca.
Para o mercado de lotes, colocados nas indústrias, os indicativos variaram de R$ 195,00 a R$ 198,00, e os lotes livres variando de R$ 188,00 a R$ 195,00, R$ 193,00, a depender da localidade. Já nos portos, R$ 202,00 no disponível e olhando para R$ 205,00 no embarque agosto.
"O pessoal está tirando o pé do acelerador nos prêmios. Há duas semanas, o prêmio para o agosto tinha algo perto de 220, 230 (centavos de dólar por bushel sobre os preços de Chicago). Hoje, o comprador já que pagar 170 cents, o vendedor está disponível a vender com 190", afirma o consultor.
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