Soja: China desacelera demanda em 2021, mas oferta curta garante manutenção dos preços neste início de temporada
A demanda chinesa por soja dá alguns sinais de ritmo mais lento do que em anos anteriores e os dados reportados nesta sexta-feira (14) sobre as importações da nação asiática da oleaginosa ajudam a ilustrar este momento. As compras da China foram de 96,52 milhões de toneladas da soja durante os 12 meses de 2021, segundo a Administração Geral das Alfândegas, 3,8% menos do que o total adquirido em 2020. Esta foi o a primeira queda nas importações desde 2018.
A demanda mais lenta por soja por parte da maior compradora global desta commodity, como explica Eduardo Vanin, tem origem na suinocultura local. O analista de mercado da Agrinvest Commodities, em entrevista ao Notícias Agrícolas, explicou que depois da recomposição do mercado do mercado de suínos em 2020 - ano de margens muito boas para as esmagadoras locais - o impacto da retenção de matrizes começou a ser sentido.
"Junto a isso veio ainda um aumento das importações de carne suína, trazendo uma saturação para o mercado chinês, que ainda está assim e sem sinais de mudança no curto prazo. No médio ou longo prazo, talvez cinco anos, a China terá que passar por uma consolidação do setor de suínos para aí começar a ter margens melhores. Então, esse é o grande problema", diz.
As processadoras chinesas de soja vieram reduzindo suas compras no segundo semestre de 2021 diante deste quadro e também dos altos custos de importação da matéria-prima dados os aumentos nos preços do petróleo e dos fretes marítimos, motivados pelos inúmeros problemas logísticos que se acumularam em 2021 e que são arrastados para 2022.
O aumento do número de casos de Covid-19 na China também favorece o movimento como tem se dado. O país impôs uma política de tolerância zero frente a doença, como forma de tentar controlá-la, inclusive fechando de portos à cidades quando necessário. E isso se dá em um período onde a demanda por alimentos seria maior com a China se preparando para o feriado do Ano Novo Lunar.
"As pessoas não estão viajando, os dados de volumes de viagens na China reportam grandes quedas. As pessoas vão viajar menos, e se elas se reúnem menos, menor consumo de alimentos. E sabemos que nos banquetes do Ano Novo Lunar que os chineses fazem a carne suína é sempre o prato principal", detalha o analista.
Além disso, as vendas de farelo de soja também não tiveram um ano de grande desempenho e contribuíram para o cenário, e o atual quadro da suinocultura segue limitando as vendas do derivado ainda por lá. A maior utilização de trigo na produção de rações também ajudou a pesar, segudno especialistas, sobre a demanda por farelo de soja.
PARA 2022
Vanin explica que a China está bem coberta para os próximos meses, mas que deverá vir a mercado para garantir suas necessidades a partir de abril com produto brasileiro, mesmo diante dos preços elevados que se observam agora frente às quebras que estão sendo contabilizadas na safra 2021/22 da América do Sul.
"A demanda da China é menor, mas a produção também é menor e a China está pouco coberta. O tempo vai passando e o mercado não cai, aí eles podem ter que vir cobrir sua demanda mesmo com preços elevados e margens ruins", detalha. Ainda assim, se esperam importações de soja por parte dos chineses ainda em um intervalo de 100 a 101 milhões de toneladas, semelhantes as do ano passado, sem grandes mudanças, e mantendo os estoques pouco inalterados, "mesmo com a China não comprando tanto quanto se esperava".
CHINA QUER PRODUZIR MAIS SOJA
O objetivo da nação asiática, de acordo com o plano quinquenal do Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais, é de aumentar 40% a produção de soja em quatro anos, mirando a autossuficiência quando se trata da oleaginosa. Caso a meta seja alcançada, a safra 2025 da China seria de 23 milhões de toneladas.
O aumento, porém, teria que ser bem maior do que isso para que o objetivo do governo chinês pudesse ser alcançado. "A China usa a maior parte de sua produção de soja para a produção de alimentos. O USDA mostrou que o uso da oleaginosa pelos chineses na safra 2021/22 foi de 14,8 milhões de toneladas frente a uma produção de 16,4 milhões. E o uso total chinês de soja em 116,7 milhões, com importações de 100 milhões. Essa matemática nos sugere que, por enquanto, o programa de importações de soja da China não deverá mudar muito", afirma Karen Braun, especilaista em commodities da Reuters Internacional.
Além disso, Karen explica também que embora esta seja um meta de Pequim, os produtores chineses não deixam de olhar para o milho, como se deu na última safra onde, mais rentável, acabou sendo a opção de uma parte maior da classe produtora.
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