Quebras de safra já deixam navios esperando para embarcar soja 2021/22 nos portos do Brasil

Publicado em 05/01/2022 17:28
Lineup para este mês se aproxima de três mi de t, mas produto que carregaria essas embarcações ainda não chegou

Logotipo Notícias Agrícolas

As estimativas para a safra brasileira de soja 2021/22 continuam a ser corrigidas ao passo em que as condições de clima permanecem adversas e os efeitos sobre o mercado aparecem e vão se intensifcando. O lineup para este mês nos portos brasileiros é de quase três milhões de toneladas, os navios estão esperando para serem carregados e não há produto para isso. 

"O Paraná seria o primeiro a colher, essa soja já deveria estar nos portos, mas as baixas produtividades que são relatadas mostram que não há produto para isso agora", explicou o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios. "Temos um problema grave de oferta". 


Nesta semana, o Deral (Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná) cortou sua estimativa para a safra para 13 milhões de toneladas contra o número de 18,4 milhões de dezembro e frente às projeções iniciais de 21 milhões. 

Soja sofrendo com a seca no PR - Janeiro 2022 2

O Brasil teria potencial, de acordo com o especialista, para exportar perto de 92 milhões de toneladas de soja neste ano, volume este que pode ficar para trás diante da quebra da safra.  Além das perdas ocasionadas pela estiagem - que são as mais severas - o excesso de umidade no centro-norte do país também pode tirar produtividade das lavouras ou provocar - como já tem sido registrado em algumas regiões - perda de qualidade dos grãos. 

Soja sofrendo com a seca no PR 4 - Janeiro 2022 2

Soja sofrendo com a seca no PR 3 - Janeiro 2022 2
Lavouras de soja sofrendo com a seca em Honório Serpa e Mangueirinha/PR
Fotos: Ginaldo Sousa

Os estoques globais da oleaginosa vinham de uma temporada de ajuste e volumes bastante apertados, precisando de produções robustas na safra atual para serem adequadamente recompostos, o que não aconteceu, principalmente na América do Sul. E mesmo com preços altos, a demanda tende a seguir seu curso e mesmo que caminhe um pouco mais lentamente do que em anos anteriores, ainda como explica o consultor, será presente e forte. E não só pela soja em grão, mas também pelos derivados.

"Os biocombustíveis estão pagando bem nos Estados Unidos, com boas margens sendo registradas para o etanol e para o biodiesel. E a China não vai deixar de comprar só por conta dos preços mais altos, estamos falando de alimentos, eles precisam comprar", diz Fernandes. Internamente, o quadro não será diferente. As margens de esmagamento tanto do farelo, quanto do óleo estão bastante firmes para a indústria processadora e assim, "irá processar tudo o que puder", acredita o consultor.

Na próxima semana, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz seu novo boletim mensal de oferta e demanda e deverá, segundo expectativas do mercado, apresentar números corrigidos para a safra da América do Sul e, consequentemente, para a mundial. Em seu boletim de dezembro, a produção global foi estimada em 381,78 milhões de toneladas e os estoques finais em 102 milhões. 

Na temporada anterior, os números do USDA foram de, respectivamente, 346,63 milhões e 99,81 milhões de toneladas. Assim, é possível observar que as últimas estimativas do USDA de um ano para o outro mostraram um aumento tímido do lado da oferta. E ao mesmo tempo, com números que já eram apertados e que podem ficar ainda mais, os mapas seguem sem mostrar alívio para importantes áreas de produção da América do Sul, de onde vem quase 50% da oferta mundial da oleaginosa.

Segundo Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, a demanda global por soja na temporada está estimada em 380 milhões de toneladas, um pouco maior em relação a anterior. 

"A Argentina deverá ficar sem boas chuvas, pelo menos, até o dia 19 de janeiro de acordo com os que mapas estão mostrando agora. E além do risco climático, o país já tinha previsto uma área bem menor cultivada com soja. A Argentina pode colher menos de 40 milhões de toneladas", acredita Ênio Fernandes. "O clima dos próximos 20 dias serão determinantes. E só o clima ", completa. 

No Paraguai, as perdas também são graves, a safra se distancia de 10 milhões de toneladas de suas estimativas iniciais e o país já anunciou medidas de socorro à agricultura frente ao quadro de severa estiagem. 

Para o Brasil, as perdas estão se acumulando nos campos e os números de consultorias privadas começam já a ser corrigidos. Somente nesta semana, a StoneX já revisou sua projeção para a colheita brasileira de 145 para 134 milhões de toneladas. A estimativa da Terra Agronegócios é de algo "orbitando próximo de 130 milhões de toneladas" e os recordes de safra esperados vão ficando pelo caminho. 

Para a Safras & Mercado o número ainda não foi atualizado, mas a estimativa será cortada, adianta o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez. "Não tem como ser diferente. Precisaremos cortar no Sul, talvez algo em algum estado do Centro-Oeste, e os destaques negativos são Paraná e Rio Grande do Sul", diz. Os novos números da consultoria chegam no dia 14. 

Também na semana que vem, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) atualiza suas projeções e deverá trazer uma revisão nos números da safra 2021/22, atualmente estimada em 142,8 milhões de toneladas. 

COMERCIALIZAÇÃO

Esses números e estimativas que são deixados para trás se refletem em um comportamento muito mais reticente dos produtores sul-americanos para a efetivação de novos negócios. Tanto no Brasil, quanto no Paragui e na Argentina, os sojicultores evitam novas vendas agora, buscando entender, primeiro, qual será o tamanho de sua safra e como cumprirá os contratos que já firmou. 

"E nos EUA o produtor também não vai vender, vai esperar o mercado romper os US$ 14,00 e vai olhar os mapas entender o clima da América do Sul nos próximos 20 dias", diz Fernandes. E no Brasil, além dos altos patamares em Chicago - que têm espaço para se manterem ainda em patamares elevados, com ambiente para testarem novas altas tão logo as adversidades continuem - soma-se ainda um dólar próximo dos R$ 5,70 e prêmios que seguem positivos. 

O cenário que vai se desenhando para o mercado brasileiro de soja é bem diferente do que se projetava no início da safra, uma vez que com a chegada mais cedo da oferta 2021/ que vinha sendo esperada e mais as exportações mais lentas sendo registradas nos EUA, os prêmios, Chicago e, consequentemente, as referências no mercado nacional poderiam ser pressionadas. 

Ainda de acordo com o levantamento da Brandalizze Consulting, o Brasil já comercializou cerca de 50 milhões de toneladas de soja da safra 2021/22. 

Para Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities, mais uma vez será possível observar o mercado brasileiro da soja descolado de Chicago no segundo semestre, com preços ainda bastante remuneradores sendo esperados ao se contabilizar prêmios que seguem positivos e um dólar futuro superando os R$ 6,00. "Será um ano de grandes desafios", disse Araújo em entrevista ao Notícias Agrícolas. 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Tags:
Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • Ivo Bortolassi Foz do yguacu - PR

    Nao tem a soja e o que tem não tem qualidade padrão exportação!

    0