Analistas confirmam momento positivo para o farelo de soja no Brasil e em Chicago com oferta reduzida
O mercado do complexo soja registra mais uma sexta-feira de destaque para o farelo. Tanto na Bolsa de Chicago, quanto no Brasil, os preços subiram e ajudam a dar suporte importante às cotações do grão. O mercado nacional já havia sido impactado, na semana passada, pela informação da fixação da mistura do biodiesel em 10% para 2022 pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) no Brasil e, nesta pela confirmação de que o governo Joe Biden reduziu o mandatório dos biocombustíveis nos EUA.
A notícia provocou não só uma alta nos futuros do farelo de soja na CBOT, como pressionou severamente o óleo. Somente no pregão desta sexta-feira (10), o farelo encerrou os negócios com altas de 2% e os do óleo com baixas também de 2%.
"Com o ajuste do oilshare - rendimento do óleo de soja no esmagamento - podemos observar que os futuros do farelo e do óleo se "canibalizam" ao passo em que o farelo sobe mais de 2 e o óleo cai 2%. Um oilshare próximo há 32% deve neutralizar essa dinâmica", explica Victor Martins, risk manager da Hedge Point Global Markets.
E "a intensificação da correlação dos movimentos do farelo com a soja se deve ao ajuste do "oilshare", que perdeu expressiva participação na remuneração do crush na rolagem do vencimento dezembro para o janeiro, além da sazonalidade de maior consumo de rações nos EUA e risco climático na Argentina", completa.
As condições adversas de clima provocadas pelo La Niña para importantes regiões produtoras da América do Sul ganharam muito espaço no radar dos traders nas últimas semanas e foram ampliando os prêmios de risco tanto no grão, quanto no farelo. Afinal, Argentina é responsável por mais de 40% das exportações mundiais e é a maior exportadora mundial do derivado.
"O prêmio de risco aumenta a cada dia ao passo em que o clima continua incerto e altas temperaturas são previstas ao longo da segunda quinzena de dezembro do mês de janeiro. O La Nina possui 91% de chance de ocorrência ao longo do próximo mês, principal período de formação de vagens e enchimento de grãos das lavouras argentinas", complementa o analista de mercado da Hedge Point.
Somente no acumulado de dezembro - do dia 1º ao dia 10 - as altas no farelo de soja negociado na Bolsa de Chicago passam de 5%. O contrato janeiro, que é o mais negociado agora, subiu 5,07%, passando de US$ 349,10 para US$ 366,80 por tonelada curta, enquanto o março apresentou ganho de 5,72%, saltando de US$ 346,10 para US$ 365,90/ton.
Diante deste quadro, Victor Martins explica ainda que os basis (prêmios) do farelo seguem descolados no interior do EUA, oscilando entre US$ 5,00 e US$ 10,00 por tonelada curta, ao passo em que o prêmio CIF barcaça é ofertado acima dos US$ 30/ton.
Além de seus próprios fundamentos, os futuros do farelo de soja sentiram também o apoio vindo do trigo, como explicou o consultor da Brandalizze Consulting, da Brandalizze Consulting. "A Rússia informou que irá restringir suas importações de trigo e isso também vai impactar o setor de rações, exigindo mais do farelo", diz.
E complementando o quadro, o consultor relembra ainda que em seu boletim mensal de oferta e demanda reportado nesta quinta-feira (9) pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe uma redução de quase três milhões de toneladas na safra de soja da China - passando de 19 para 16,4 milhões de toneladas - como mais um ponto de atenção.
Com tudo isso, os futuros da soja terminaram o dia em campo positivo na Bolsa de Chicago, com pequenas baixas de 2,75 a 3,50 pontos nos contratos mais negociados. O janeiro concluiu a semana com US$ 12,68 e o maio com US$ 12,82 por bushel. As altas no trigo foram de 6 a 9,75 pontos.
E O FARELO BRASILEIRO?
Os impactos para os preços do farelo brasileiro são imediatos e também se destacaram nesta semana. Os negócios, porém, são pontuais. "Os indicativos subiram a R$ 2100,00 para R$ 2300,00 e o mercado não mostra compradores", diz Vlamir Brandalizze.
Os prêmios do derivado FOB nos portos nacionais também subiram e foram destaque, uma vez que passaram de -US$ 12,00 por tonelada curta abaixo do contrato janeiro em Chicago para US$ 10,00 acima no mesmo mês de referência. E o movimento é um sinal importante para o complexo brasileiro da oleaginosa.
"Isso projeta para o mercado que a demanda do mercado físico é forte e sobrepõe a alta de Chicago, fortalecendo ainda mais o flatprice, ou seja, o preço no interior considerando as cotações em Chicago e mais o prêmio", explica Victor Martins.
E os preços poderiam continuar subindo no Brasil ao passo em que a demanda internacional exigir ainda mais da demanda por aqui diante de possíveis perdas na safra de soja da Argentina por conta do clima adverso e, consequentemente, de um menor esmagamento da oleaginosa.
E nos EUA o processamento também poderá ser reduzido com a chegada da nova determinação de mandatórios menores nos biocombustíveis. O mandato de 2020 foi reduzido para 4,63 bilhões de galões, queda de 10% em relação ao anterior. Dessa forma, ao contrário do que se desenha para o farelo, o quadro para o óleo é baixista, como explica o executivo, e exige atenção.
"O mercado interno americano deverá esmagar menos soja ao longo dos próximos três meses para refletir a menor necessidade de consumo de óleo de soja para atender a demanda do setor de biocombustiveis, o que pode significar menos farelo para exportação e aumento mais intenso nos prêmios internos e um aumento no contrato na CBOT", conclui o risk manager da Hedge Point Global Markets.
MERCADO DO GRÃO NO BRASIL
A semana foi fraca de negócios também para a soja em grão no Brasil. Para a soja disponível, ainda segundo Vlamir Brandalizze, os preços seguem firmes na casa dos R$ 172,00 por saca, porém, sem novos negócios sendo efetivados, com o produtor deixando para comercializar o restante de sua safra no início do próximo ano. Há cerca de 7% da safra 2020/21 ainda a ser vendida.
Na safra 2021/22 os preços e os negócios evoluíram muito melhor na semana passada. Esta termina com indicativos no intervalo de R$ 162,00 a R$ 167,00 - quase R$ 10,00 por saca abaixo do observado na última semana - e as vendas perderam o fôlego.
"No mês passado os preços vieram bem e negociamos cerca de 12% da safra nova. Neste mês a força é menor", explica Brandalizze, que já estima uma perda de cinco milhões de toneladas no potencial produtivo da safra brasileira, considerando principalmente o quadro crítico do Rio Grande do Sul e do Paraná por conta da falta de chuvas.
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