Lineup de soja no Brasil cresce diariamente, com clima adverso, e já se aproxima de 16 milhões de t
O lineup brasileiro da soja cresce todos os dias com a dificuldade dos embarques nos portos brasileiros e já chega a 15,9 milhões de toneladas, com tendência de alcançar um número maior até o final desta semana. As atuais condições de clima no Brasil comprometem bastante o escoamento e o embarque da nova safra e já causa preocupações ao mercado. E até o último dia 15, apenas 8% dos 15,9 milhões de toneladas do lineup já havia sido embarcado.
As regiões dos principais portos de exportações têm recebido muitas chuvas nos últimos dias, o que limita as operações de embarque, bem como as de descarga pelos caminhões. O acesso aos portos do Arco Norte, nesta semana, tem chamado bastante atenção pelo trânsito intenso e os congestionamentos nas vias transportuárias.
Na região de Itaituba, no Pará, uma nova força-tarefa da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal precisou ser convocada para liberar o fluxo intenso de caminões. Desde a semana passada, milhares de veículos se acumulam e o trânsitou voltou a travar nesta quinta-feira (18).
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Ao Notícias Agrícolas, no início da semana, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) afirmou que as exportações estavam normais. "Não vai ter impacto. Mas é claro que isso gera problemas, principalmente para os envolvidos, caminhoneiros, transportadoras e comunidade local", disse o presidente-executivo da Abiove, André Nassar.
O atraso nos embarques brasileiros de soja tem foi destaque também na mídia internacional nesta quinta-feira, com a agência de notícias Bloomberg destacando que este pode ser um dos maiores lineups da história do país.
Em um reporte trazido nesta quarta-feira (17), a Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), a estimativa para os embarques de soja vieram entre 6 e 7,99 milhões de toneladas. No entanto, destaca ainda que "é importante observar que devido aos atrasos na colheita e previsão de chuvas, a Anec está considerando a possibilidade de embarque menor de cargas".
Em fevereiro de 2020, o Brasil embarcou 6,61 milhões de toneladas. Já neste mês, de acordo com os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), os embarques brasileiros da oleaginosa somam apenas 551 mil toneladas entre as duas primeiras semanas.
CUSTOS
Todo esse atraso nos embarques provoca um acúmulo de navios ao largo dos portos brasileiros e custos mais caros com preços mais elevados dos fretes marítimos, além das despesas de demurrage com a espera dos navios para o embarque, que são de aproximadamente US$ 50 mil por dia.
Segundo informações apuradas pela S&P Global Platts, os atrasos no Brasil combinados com um inverno muito severo no hemisfério norte aumentando a demanda por carvão e mais os lineups altos convergiram para um aumento generalizado dos valores dos fretes.
A rota Santos/SP, no Brasil, até Quingdao, na China, alcançou no último dia 17 o nível recorde de US$ 45,75 por tonelada de soja. E não só os fretes oceânicos da oleaginosa que apresentam altas fortes, como também o milho, o trigo e seus derivados.
"O frete Santos-China que se fazia até pouco tempo com US$ 32 por tonelada, hoje se faz com US$ 46, isso por conta da forte alta do barril de petróleo, ou seja, uma alta do frete marítimo de 45%", explica Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities.
QUESTÕES JURÍDICAS
O Dr. Francisco Torma, advogado agrarista, afirma que já fez algumas notificações de produtores informando empresas que compraram o grão de que as datas fixadas em contratos não poderão ser cumpridas, com laudos agronômicos, já deixandos os compradores cientes de que não se trata de uma "sonegação de produto".
"Assim, o produtor faz uma prestação de informação à empresa de que o grão só ficará pronto um pouco mais para frente do que o vencimento do contrato e que por isso ele não tem como entregar um produto que ainda não existe", explica o especialista.
Documentos como este estão fundamentados, ainda segundo Torma, na lei de Política Agrícola, lei do Crédito Rural e na própria Constituição Federal, onde se sinaliza que "antes de mais nada, antes da ótica comercial da agricultura, as propriedades estão cumprindo uma função social. A agricultura é uma política de estado (...) e que é uma ciência que não é exata. Temos um atraso da colheita e isso se deve à própria agrariedade, que é a sujeição ao risco agrobiológico da agricultura".
Assim, o advogado reafirma que, de fato, este atraso no cumprimento dos contratos da entrega de soja poderia, da ótica comercial, provocar inúmeras discussões jurídicas. Todavia, as questões lógicas da atividade, que nada mais é do que uma "indústria a céu aberto", devem ser levadas em conta
"Entendo que transformar essa situação em disputas judiciais não é o melhor caminho para ninguém. Poderíamos inviabilizar o setor por conta de um atraso de dias. Todas as empresas que estão atuando no agronegócio têm que entender que estamos sujeitos ao risco agrobiológico e isso tem repercussão nos contratos. Talvez, para o ano que vem, poderíamos pensar em fazer cláusulas que prorroguem o vencimento dos contratos em situações onde é demonstrado a necessidade do atraso pelas características da própria produção agrícola", explica o Dr. Francisco Torma.
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