China e EUA divergem sobre volume de soja americana importado pelos chineses
As conversas efetivas entre China e Estados Unidos serão retomadas nesta terça-feira (30) em Xangai, para onde já viaja uma delegação norte-americana, mas as expectativas do mercado para esse novo capítulo da guerra comercial não são das melhores.
Trata-se da 12ª rodada de conversas. A delegação americana será liderada por Steve Mnuchin, Secretário do Tesouro Americano, e Robert Lighthizer, representante do comércio, enquanto a chinesa fica sob os olhos do vice premier Liu He, braço direito de Xi Jinping quando os assunto são as finanças e o comércio.
Robert Lighthizer, Liu He e Steve Mnuchin - Foto: AFP
Segundo especialistas, as negociações deverão ter pouco avanço já que o conflito se tornou muito mais profundo do que uma 'simples' guerra comercial.
"Começou como uma guerra comercial, passou para um conflito em torno de questões de propriedade intelectual e hoje já é um conflito internacional muito mais sério. Então, essa reunião não vai resultar em nada muito forte, em um acordo efetivo, fim das sanções e não se fala mais nisso. Não", explica o economista Roberto Dumas Damas, especialista em China.
Ele continua, dizendo que a possível reeleição de Donald Trump em 2020 também traça caminhos diferentes para a disputa, bem como o caminhar das duas economias, que são as maiores do mundo. E faz um alerta "Eu acho que estão todos muito otimistas com o momento, mas o problema é bastante sério. Ao lado dessa guerra comercial temos o Brexit, a Argentina, a Turquia". E enquanto os problemas se agravam, as commodities continuam sentindo a pressão.
SOJA X GUERRA COMERCIAL
As discussões são muitas e em um dos centros dessas inúmeras conversas segue o mercado da soja. Agora, chineses e americanos divergem sobre quanto da oleaginosa dos EUA já foi enviada à China desde que foi sinalizada uma ação de 'boa vontade' por parte da nação asiática de comprar mais produtos agrícolas norte-americanos, desde que Trump e Xi se reuniram na última reunião do G20, no final de junho, em Osaka, no Japão.
Donald Trump e Xi Jinping na última reunião de cúpula do G20, no fim de junho, em Osaka/Japão
A agência estatal de notícias chinesa Xinhua News Agency, neste domingo (28) trouxe informações de que "milhões de toneladas de soja compradas por empresas chinesas foram enviadas para a China (pelos EUA), e espera-se que o lado norte-americano agora cumpra suas promessas". Na outra ponta, os dados alfandegários ainda não mostram todos estes volumes e indicam uma participam muito menor do produto dos EUA entre os embarques chineses.
Mais do que isso, a mídia da China diz ainda que "fontes de importantes departamentos do governo chinês disseram que o lado americano deve adotar medidas concretas para cumprir suas promessas e criar condições favoráveis para as consultas econômicas e comerciais entre os dois lados".
Mais do que isso, a nota diz que a nação asiática se compromete a adquirir mais produtos agrícolas dos EUA na medida em que contar com "preços razoáveis e boa qualidade", uma vez que o país também teria se proposto a rever as tarifas implementadas sobre cerca de 110 produtos.
No entanto, enquanto as discussões continuam, um gráfico da agência internacional de notícias Bloomberg, com dados da Administração Geral de Alfândegas da China, mostra que as compras de soja dos chineses no mercado norte-americano chegaram ao seu menor volume desde 2004 no primeiro semestre de 2004.
Números apurados pela agência mostram que na primeira metade deste ano, as compras chinesas de soja norte-americana somaram 5,9 milhões de toneladas, o menor montante para o período em mais de uma década.
Somente em junho, a China comprou 614,806 mil toneladas de soja nos EUA, ainda segundo dados da Secretaria de Alfândegas. No mesmo mês, as compras no Brasil foram de aproximadamente 5,5 milhões de toneladas.
Segundo o diretor do SIMConsult Liones Severo, também especialista em China, os números da China estariam corretos. "Os embarques das 13,6 milhões de toneladas, de um negócio iniciado em maio, estão quase concluídos. As notícias das mídias são problemáticas. E o total das compras deste negócio que ainda se discute são de 2,2 milhões de toneladas para estatais e 3,8 milhões que estão sendo concedidas às tradings privadas da China", diz.
Severo completa dizendo que além dos 13,6 milhões, os demais volumes são de cotas que dependem de confirmações do órgão regulador chinês, as quais deverão chegar nos próximos dias ou semanas. "A questão é que a soja americana está mais cara do que a brasileira, e por isso as compras não se realizam na velocidade das liberações", conclui.
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