China importa menos soja em fevereiro, mas ainda foca demanda no Brasil
A demanda da China por soja mostra que, de fato, caminha a passos mais lentos nestes últimos meses. Dados divulgados pela Administração Geral da Alfândega do país mostram que as importações chinesas da oleaginosa, em fevereiro, foram as menores em quatro anos totalizando 4,46 milhões de toneladas.
Esse volume representa uma baixa de 17% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o mercado global da commodity começava a sentir os primeiros efeitos da guerra comercial entre China e Estados Unidos.
Em relação a janeiro, a queda é de 40%, uma vez que as compras foram de 7,38 milhões de toneladas no primeiro mês de 2019, período em que o consumo é mesmo maior no país em função do feriado do Ano Novo Lunar - o mais longo da China - e quando os esmagadores intensificam sua produção para atender às necessidades do período. O que também justifica, portanto, as menores aquisições em fevereiro, mês do feriado.
"Essa baixa se dá, principalmente, por conta da tarifação que ainda vigora sobre a soja dos EUA", diz Tian Hao, analista sênior da First Futures, à Reuters Internacional.
Além disso, Hao explica ainda que os compradores chineses têm, de fato, encontrado respaldo na soja brasileira, porém, começaram a ficar mais atentos às possibilidades de compras nos Estados Unidos à medida em que os Washington e Pequim avançam em suas negociações.
O produto brasileiro, porém, ainda é o principal a ser adquirido pela nação asiática neste momento, uma vez que ainda é o mais competitivo por conta da taxação ainda em vigor. A imagem abaixo, uma reprodução do sistema Refinitiv Eikon, da Reuters, mostra uma considerável fila de navios carregados com soja - e outros produtos - seguindo do Brasil para a China. Estas são cargas de compras feitas há alguns meses, com os embarques previstos para este período do ano.
O Brasil já acumula números recordes de embarques no primeiro bimestre de 2019. São 14,66 milhões de toneladas comprometidas (embarcadas + nomeadas) no acumulado do ano, contra 12,8 milhões do mesmo período de 2018, como mostra um levantamento da Agrinvest Commodities.
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A mesma imagem mostra que ainda não há muitos navios saindo dos EUA com destino ao país asiático.
Pequenas setas verdes indicam o fluxo dos navios, com destaque para os que se dirigem do Brasil para a China Fonte: Refinitiv Eikon
Entretanto, o analista afirma ainda que a demanda chinesa por soja, em um contexto geral, está menor por conta também da peste suína africana, que tem castigado de forma severa e considerável os planteis chineses. "Por isso, os importadores não compraram muita soja brasileira em fevereiro também, enquanto esperam o acordo entre China e EUA, mas também porque não há benefícios comerciais em trazer essa soja da América do Sul para cá diante de uma demanda que tem sido comprometida pela peste suína", diz o analista.
Ainda de acordo com números da Reuters Internacional, a China já identificou mais de 110 casos da doença em 28 de duas províncias e regiões desde agosto de 2018.
No período do último trimestre do ano, a China geralmente faz compras maiores de oleaginosas nos Estados Unidos, e depois, na sequência da colheita americana, no meio do ano, mas início do ano comercial, quando a nova oferta começa a chegar ao mercado.
Entretanto, desde o início da disputa comercial, os chineses têm evitado o produto americano por conta da guerra comercial ainda em curso. A previsão do mercado, até este momento, é de que Donald Trump e Xi Jinping assinem um acordo em 27 de março.
Os números das vendas norte-americanas atualizados nesta quinta-feira (7) pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) continuam mostrando que as compras chinesas ainda são fracas no mercado dos EUA. Na semana encerrada em 28 de fevereiro, o país vendeu apenas 311,4 mil toneladas da oleaginosa, número bem abaixo das expectativas do mercado que variavam de 600 mil a 1,2 milhão de toneladas. Em relação à semana anterior, houve uma baixa de 85,5%.
Segundo números da Bloomberg, a China importou, em 2018, 88 milhões de toneladas de soja, um total de US$ 38 bilhões, com o Brasil sendo seu principal fornecedor. Com a efetivação de um acordo, essa demanda poderia se voltar mais agressivamente aos EUA, de acordo com as expectativas dos especialistas.
Nesta quinta, as estatais chinesas fizeram uma compra de 500 mil toneladas de soja nos EUA, parte de um montante total que poderia alcançar até 3,5 milhões de toneladas, segundo a consultoria internacional AgResource. Os totais ainda não foram confirmados. Essa soja teria embarque previsto para algo entre junho e setembro.
É importante lembrar, porém, que as estatais estão isentas da alíquota de 25% sobre a soja americana.
"Os chineses vão aos poucos comprando e sinalizando que querem o acordo, mas precisamos saber quanto será garantido de compra para saber quanto o Brasil vai perder de market share", explica o diretor da ARC Mercosul, Tarso Veloso. "Se a China garantir uma compra baixa, não se muda muito. Haverá um piso na CBOT - não cai mais para US$ 8,00 porque tem demanda garantida, mas não sobe a US$ 11,00 porque a demanda garantida não é muito forte", diz.
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