Na reta final, colheita da soja desacelera por causa das chuvas no Centro-Norte do país
As chuvas que se intensificam no centro-norte do Brasil nos últimos dias e previstas para continuarem até a primeira quinzena de março colocam os produtores rurais em alerta. Embora os impactos sejam pontuais até este momento, tanto a conclusão da safra de soja, quanto o desenvolvimento do plantio da safrinha de milho exigem mais atenção.
O mapa a seguir, do Inmet, mostra os elevados acumulados de chuvas nos últimos três dias nessa região, com destaque para Tocantins, Maranhão, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Mapa das áreas com precipitação acumulada nos últimos 3 dias - Fonte: Inmet
"A soja está mais frágil neste momento e começa a se perder mais rápido. Os desconto estão grandes nos armazéns, com entregas de até 20% de ardidos. E também impacta em atraso do plantio (da safrinha de milho) que se encerrou em muitos estados agora no fim de fevereiro. Então, o produtor tem que buscar outras culturas, outras alternativas", explica o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira.
Em Mato Grosso, já há mais de 80% da área de soja colhida, segundo dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), e este é o maior percentual já registrado no estado para este período do ano. Assim, os impactos sobre a safra são pontuais.
"Analisando em um panorama geral, o ritmo da colheita para esta safra está 22,03 pontos percentuais à frente do observado na safra passada, isto devido, principalmente, à antecipação no processo de semeadura e ao trabalho acelerado na colheita", diz o Imea.
No entanto, o instituto afirma que, de fato, a expectativa é de que o ritmo da colheita pode ser reduzido nesse reta final dos trabalhos de campo até sua conclusão. Há regiões como Diamantino e Tapurah, no estado, onde a colheita está paralisada há alguns dias por conta das chuvas e onde também já começam os registros de grãos ardidos.
As imagens a seguir mostram alguns campos encharcados na região:
Campos enchardos em Tapurah/MT - Fotos de Jonas Amalfi e compartilhadas nas redes sociais
Já em áreas como Sorriso e Lucas do Rio Verde, a colheita já está praticamente concluída e as chuvas destes últimos dias e as previstas para os próximos preocupam mais para a safrinha de milho.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Lucas, Carlos Alberto Simon, toda a soja já foi colhida no município e as chuvas já chegaram mais ao final do processo. "Mas o milho sofre mais, já temos alguns campos com encharcamento por aqui, mas quando o tempo abre conseguimos seguir com os trabalhos de campo", diz.
Chuvas em Lucas do Rio Verde/MT entre 26 e 27 de fevereiro
O quadro é semelhante em Sorriso, como relata o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade. Segundo ele, com a colheita da soja finalizada, o que preocupa agora é o atraso no avanço do plantio e nas aplicaçõs dos químicos nas lavouras de milho por conta desse clima intensamente chuvoso.
Em Goiás, como explica o analista técnico do IFAG (Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás), Leonardo Machado, as chuvas atrapalham a colheita e o plantio, no entanto, de forma também pontual, o que não é capaz de provocar um comprometimento da safra de maneira geral. Todavia, para os produtores que passam por essa condição, o problema é uma preocupação.
Afinal, para esta safra, o estado goiano registra um considerável aumento de na área destinada à segunda safra de milho e espera colher uma produção 20% maior, principalmente na esperança de equilibrar os números após as perdas na safra de verão, que chegaram a 10% na soja. Em Goiá, a colhieta da oleaginosa está concluída em 60% da área.
Saiba mais sobre o quadro em Goiás na entrevista de Leonardo Machado ao Notícias Agrícolas:
>> Goiás registra incremento na área da safrinha de milho e espera produção 20% maior com 7,7 MT
No Tocantins, onde 50% da área com soja está colhida, a preocupação é maior, segundo o presidente da Aprosoja TO, Maurício Buffon. A última semana foi de muita chuva, com pouco avanço dos trabalhos de campo nos últimos cinco dias. Apesar de os problemas ainda não terem sido relatados, principalmente de soja ardida, os produtores estão no limite.
"Precisamos que abra o tempo para o produtor conseguir avançar com a colheita. Dentro de dois ou três dias, se não conseguirmos entrar nas lavouras, vamos ter prejuízo com soja ardida. A situação começa a ficar complicada", explica Buffon.
As chuvas deverão continuar chegando à maior parte do Brasil nos próximos dias, de acordo com as últimas previsões do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), e esse deverá ser o padrão, pelo menos, até a primeira quinzena de março.
Mapa com a precipitação acumulada nos próximos 7 dias no Brasil - Fonte: Inmet
E ainda segundo o instituto, áreas centrais do Brasil terão chuvas de até 150 milímetros acumulados em um intervalo de 7 dias, com volumes elevados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
"A tendência é de que a chuva em áreas centrais do Brasil se estenda até a primeira quinzena de março. Elas podem até ser fortes em algumas áreas, mas para a agricultura não são esperados danos. A preocupação é para o Rio de Janeiro e São Paulo", disse Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Inmet.
Assim, o presidente da Aprosoja TO diz ainda que "haverá sério problema se essas chuvas se confirmarem. Temos que rezar para essas chuvas virem a noite, para podermos ir trabalhando em alguns momentos durante o dia. Se fechar o tempo e não conseguirmos evoluir, teremos grandes perdas".
Veja mais informações sobre o clima:
>> Tempo: No Pará, BR-163 terá chuvas até dia 10 de março; Centro-Norte seguirá com instabilidades
Além disso, o NOAA - o serviço oficial de clima do governo americano - informa que entre 9 e 17 de março, essas precipitações podem ser ainda mais intensas, concentradas ainda no Centro-Norte brasileiro. Entretanto, a região do Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) deverão contar com tempo um pouco mais firme e acumulados menores.
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