Perdas na soja se agravam no Paraná; veja fotos e vídeos
Com a situação das perdas mais severas por conta da seca na safra brasileira de soja sendo registrada no Paraná, os produtores do estado continuam mostrando a evolução da quebra no estado. Fotos e vídeos têm ilustrado esse momento.
Em Juranda, na região Noroeste do estado, as vagens estão secas, sem grãos. Os poucos grãos que foram colhidos resultaram em uma produtividade de algo entre 9 e 13 sacas por hectare (20 a 30 sacas por alqueire).
Os produtores já se preocupam, inclusive, com os compromissos assumidos que possuem, principalmente de vendas feitas antecipadamente.
Na região de Medianeira, a situação é semelhante. Segundo o produtor local Mauro Vendrame, essa já considerada uma das piores estiagens da história no local.
O Notícias Agrícolas agradece pelo carinho com que foi recebido nosso relato sobre ter de noticiar as perdas e a dificuldade que é termos de dar informações dessa natureza. Esse reconhecimento, porém, só confirma que estamos no caminho certo e cumprindo nosso papel de trazermos a realidade para cada vez mais perto do produtor brasileiro.
Produtor, nós sabemos que perder soja vai muito além das perdas
Por Carla Mendes
Os mais pessimistas já falam em uma perda de 20% sobre o total da safra 2018/19 de soja do Brasil. As informações até este momento divergem, já que os estágios de desenvolvimento das lavouras também são diferentes, em um país de proporções continentais como este. São centenas de 'Brasis' em um Brasil só e, por isso, centenas de safras em uma safra só.
Até agora, é verdade, as notícias, apesar de divergentes sobre os números, são consensuais e não são boas. As mais de 120 milhões de toneladas que seriam colhidas nesta temporada não serão alcançadas e é possível ver todo nosso potencial sendo reduzido dia a dia em que as chuvas não chegam onde são mais necessárias.
Não importa o número que será alcançado, mas todo aquele que venha abaixo da estimativa inicial - a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), por exemplo, esperava uma produção de 120,9 milhões, e consultorias privadas falavam em algo de até 126 milhões - é informação dolorida de dar.
Mais um mês e completo 10 anos de Notícias Agrícolas. Neste tempo todo, meu maior compromisso - e talvez meu maior desafio diário - tenha sido - e vem sendo - o de não me perder entre os fatos. Busco, ao lado da nossa equipe, garantir que nada passe despercebido pelos olhos atentos dos milhares de produtores rurais e demais profissionais do campo que nos acompanham todos os dias como sua principal fonte de informação que nenhum dado lhes falte.
E sejam os 20% - como acreditam os mais "pessimistas" - ou "apenas" algo próximo de 5%, como esperam os mais otimistas, a notícia de uma quebra de safra está entre as mais difíceis de serem produzidas. A busca por não perdermos o momento exato do chamado factual, da notícia quente, como diz o jargão do jornalismo, por vezes limita o tempo para que possamos ver além dele.
Não nos é satisfatório ter que relatar uma colheita de 30 sacas por hectare em uma área com potencial para 70, selecionar imagens de plantações dizimadas pela seca, definir regiões que serão abordadas pela "prioridade" de suas necessidades ou pela intensidade de suas perdas.
E em todo este processo está o sentimento dos produtores. São estes profissionais que têm sido, há mais de 20 anos, nosso principal insumo para a produção de um conteúdo responsável e de qualidade. Qual o tamanho do abismo entre as especulações e os resultados reais de anos-safra em que as perdas são tão intensas? Trabalhamos para desenhar este cenário o mais próximo da realidade que pudermos . São tons pesados.
O produtor rural é hoje elo de uma cadeia produtiva de extrema complexidade e uma perda de rendimento como esta tem resultados muito mais profundos do que aqueles que estão visíveis ou são noticiados.
Falamos de soja, mas passamos pelo milho, pelo café, pela cana-de-açúcar, pela laranja, hortaliças, pecuária, granjeiros, trigo, feijão, leite. Toda e qualquer cultura, cada qual com seus desafios, cada qual com suas peculiaridades.
No pré, são os vendedores de insumos, os provedores de crédito, inúmeros agentes econômicos que sentirão os impactos - majoritariamente financeiros - de um cenário como este. No pós, são compradores, tradings, pequenas revendas ingressando no mercado, compromissos financeiros, os entraves logísticos. E em todo o processo, a incerteza e a volatilidade tão típicas do Brasil.
Um levantamento rápido mostra que, aproximadamente, 70% do capital de giro utilizado na formação da lavoura seja financiado por terceiros. Nesse ambiente, problemas generalizados de quebra geram prejuízos em cadeia e essa é mais uma notícia nada fácil de se compartilhar.
Trata-se da natureza cíclica dessa atividade. Na temporada 2003/2004, a quebra levou muitos profissionais de mercado e produtores a se perderem. Em 2005, por exemplo, as perdas na soja por conta da seca foram de mais de 60% somente no estado do Rio Grande do Sul. Na safra 2012/13, in loco, pude relatar dois terços do Corn Belt, nos Estados Unidos, sob severa estiagem, perderem muita soja e milho.
Não muito distante, relatamos com o mesmo pesar a quebra de mais de 30% da safra de soja da Argentina. Inicialmente estimada em 57 milhões de toneladas, foram colhidas pouco mais de 35 milhões. Centenas de produtores se endividaram e tiveram o planejamento de sua temporada seguinte severamente comprometido. Isso em um país onde o agronegócio já enfrenta tantos entraves e limitações.
O drama proporcional dos argentinos pode ser, de fato maior, mas, como venho relatando, não é mais duro de ser noticiado. Também se trata da natureza cíclica da atividade de informar.
Afinal, nestes mesmos 10 anos em que tenho me especializado em agrojornalismo - esse novo termo para nós comunicadores do campo - os ciclos me permitiram relatar o Brasil aumentando sua produção de soja de 57,4 milhões de toneladas em 2009 para 120,5 milhões em 2018. Ou ter o privilégio de dar a notícia de que fechamos o último ano com nossas exportações em recordes 82,3 milhões de toneladas. Noticiamos a soja chegar aos quase US$ 18,00 por bushel e reportamos, mais de uma vez, mínimas em semanas, meses e anos.
Sabemos de um 2019 que começa intenso e diferente para o Brasil, frágil e nebuloso para o mundo. Acompanhamos de perto uma guerra comercial ainda vigente entre as duas maiores economias do mundo e que, por ironia do destino, vêm a ser maior comprador e vendedor globais de soja.
Entramos em mais um ano incertos de qual será o valor do frete rodoviário para o escoamento dos grãos em um país com tanto potencial logístico, mas que ainda usa suas precárias rodovias como principal modal. Damos o start em 2019 sem saber qual será o futuro do passivo do inconstitucional e, cinco anos depois, constitucional Funrural.
Ainda neste intervalo, pude acompanhar e compartilhar no Notícias Agrícolas também o legado de grandes profissionais que trabalharam e trabalham para que perdas como estas possam ser mitigadas ao longo do avanço das pesquisas. Com um enorme vazio, noticiamos a perda de nomes como o de Dirceu Gassen e José Tadashi Yorinori, mas, mais uma vez, tivemos o privilégio de ajudar a registrar suas conquistas. Nomes com quem aprendi sobre soja, sobre plantas, clima, fisiologia e, principalmente, comunicação. Nomes pelos quais agradeço a todos os grandes pesquisadores do Brasil.
Continuaremos firmes no papel de editores do produtor rural, que é nossa missão maior no Notícias Agrícolas, e nos comprometendo a trazer um aprofundamento cada vez maior dos efeitos "além-fato" de cenários como estes das perdas na soja. O que veio antes delas? O que vem adiante? Essas informações são nosso maior compromisso. Nosso plantão não para.
Carla Mendes
Editora Chefe do Notícias Agrícolas
4 comentários
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geraldo emanuel prizon Coromandel - MG
A melhor estratégia para a quebra de safra é divulgá-la. Em que pese o sentimento de tristeza, solicito as amigos que mandem fotos e vídeos de diferentes regiões e cidades do Brasil onde estão ocorrendo as perdas. Só assim pode-se dar publicidade ao fato, bem como dimensionar e quantificar as perdas. Caso contrário, os "analistas" de plantão, aqueles que gostam de propalar super safras, se incumbirão dessa tarefa.. Aliás, aproveitando o tema, gostaria de perguntar aos entendidos: Saímos com uma previsão de super safra (120 mmT), a maior já colhida, caso confirmada. Esse número já era uma crescente das safras anteriores que também foram super safras (114-117), ou seja, muito difícil de ser alcançado. No entanto, nossos renomados analistas resolveram falar, do nada, sem base alguma, em 126 até 130 MMt. Da onde tiraram esses números? Quais foram os critérios, a metodologia, etc...?
E' sempre bom BOTAR A BOCA NO TROMBONE para avisar todos a nao vender barato..
gilberto evaristo Kasper toledo - PR
Parabéns pela matéria, com um relato bem aproximado da realidade... Em áreas de Guarapuava Pr, onde plantam mais tarde, já tem partes onde a soja nem nasceu.... Esperamos que esse redução nas estimativas seja compensada por aumento nos preços, do contrário estamos lascados...
joão Lunardi SÃO JOSÉ DOS QUATRO MARCOS - MT
Agricultura ...unico investimento onde o risco é maior que a expectativa de ganho... Sem preço minimo e seguro agrícola é muito difícil sobreviver na atividade... Hoje são vcs e amanhã seremos nós. Meus sinceros sentimentos pelas perdas, irmãos produtores . Não percam as esperanças pois, se isso acontecer, todos serão prejudicados . Abraço e fiquem com Deus.
Carlos Augusto Brasília - DF
Muito triste tudo isso. Que Deus tenha misericórdia e que as chuvas cheguem o mais rápido possível!
Que tamanho prejuizo!!!.., nós tivemos perdas no milho estimadas em 70%.