Soja: Lavouras plantadas mais cedo já têm perdas irreversíveis

Publicado em 21/12/2018 11:30

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As adversidades climáticas vão cada vez mais preocupando os produtores brasileiros de soja nesta safra 2018/19. Há problemas de seca no Paraná, Sul de Mato Grosso do Sul, Goiás e partes de Mato Grosso, enquanto outros pontos do Brasil sofrem pelo excesso de umidade. Fato é que a nova temporada tem perdido potencial produtivo diariamente e, segundo relatos de produtores e especialistas, o volume inicialmente projetado não deverá ser alcançado.

E os problemas no Paraná e demais estados não começaram a aparecer só agora, mas no início da nova safra, que já sofreu com algumas adversidades, como explicou o fisiologista Elmar Floss em entrevista ao Notícias Agrícolas. 

"No Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná primeiros tivemos aquele excesso de chuva no plantio, temperaturas mais baixas do solo, o que aumentou o tempo de germinação das sementes. Esse excesso de chuvas facilita o aparecimento de muitos fungos e então a morte repentina de plantas foi muito grande. E agora temos esses vários dias sem chuvas no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás", diz Floss. 

O especialista afirma, portanto, que nas lavouras de soja que já estão na fase de formação de vagens ou enchimento de grãos e que sofreram esse longo período sem chuvas já contabilizam perdas irreversíveis, mesmo com as precipitações que estão previstas para os próximos dias nessas áreas. 

"Os mapas climáticos atualizados hoje trazem a gradual volta das chuvas sobre as regiões afetadas pelas estiagens da última semana, principalmente em regiões do Centro-Sul brasileiro. Nos próximos 5 dias, índices pluviométricos entre 40-65mm acumulados são projetados para o norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná", explica a ARC Mercosul.

Mapa ARC

Ainda segundo a consultoria, São Paulo e o sul de Mato Grosso do Sul - que também sofrem com a seca e o calor intenso deverão receber chuvas mais amenas, variando entre 20 e 40 mm, além do Centro-Oest de Mato Grosso e extremo sul do Goiás. Para a região do Matopiba não são previstas chuvas até o Natal. 

"A ARC lembra que há pontos de safra verão sofrendo gravemente com o estresse hídrico, entretanto os prejuízos poderão ser amenizados com a volta e regularização das chuvas neste fimde dezembro e começo de janeiro", explicam os analistas da ARC. 

"Sim, o clima assusta. Há uma preocupação dos produtores no Paraná, todo Mato Grosso do Sul, o sudeste de Mato Grosso, médio Sul de Goiás, médio norte de Minas Gerais . Matopiba ainda não é uma preocupação, é normal períodos de estiagem mais prolongados por lá e os produtores estão acostumados", explica o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira. 

Ainda segundo o executivo, a consultoria estima uma produção de soja no Brsil de 121,8 milhões de toneladas, e acredita que esse número possa ser alcançado, uma vez que esse aumento em relação à temporada anterior é proveniente de um aumento expressivo da área, e não de produtividade. 

"Mas, hoje, o viés de uma correção das estimativas é para baixo. Não temos mais perspectivas de que nossa estimativa de 12,8 milhões de toneladas possa crescer, pelo contrário, pode sim vir a ficar menor", completa Pereira. 

Ainda segundo Elmar Floss, é difícil se estimar as perdas na safra brasileira de soja neste momento, uma vez que trata-se de uma temporada bastante irregular e com diversos estágios de desenvolvimento das lavouras neste momento. 

"O que se pode dizer com certeza é que aquela soja que entrou em floração antecipada - seja pela falta de luminosidade ou pelo déficit hídrico - terá uma ramificação menor e, consequentemente, um menor número de vagens por planta, mesmo que daqui em diante as condições climáticas sejam as mais favoráveis", diz. 

Da mesma forma, o fisiologista explica ainda que a população de plantas é muito baixa em diversos estados produtores e aí entram ainda outros fatores que se associaram para desenhar este quadro. "Entre eles estão semente de baixo vigor, condições de solo excessivamente úmido, temperatura de solo, a questão dos patógenos. E isso é outro fator que vai diminuir o número de vagens por área que também compromete o rendimento". 
 
O sul de Mato Grosso do Sul e o Paraná são algumas das áreas que mais sofrem com a seca.

PREVISÃO DO TEMPO

Começa neste 21 de dezembro o verão no Brasil e as condições para estes primeiros dias da nova estação ainda não são as mais adequadas para as regiões produtoras de soja do país, especialmente no Paraná, onde a situação é mais crítica. 

Segundo explica Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as chuvas entre a véspera e o Natal no estado paranaense serão volumosas, generalizadass, porém, de passagem muito rápida. 

"Boas chuvas devem acontecer entre 23 e 25 de dezembro, mas a partir de 26 já começam a ser aquelas chuvas típicas de verão, acontecendo de um lado, não acontecendo de outro. E no dia 28 deve dar uma nova parada, mas na sequência, uma nova frente fria vinda da Argentina traz novas chuvas", diz Melo. 

E o verão será condicionado pelo El Niño. "Não será um El Niño intenso, mas as temperaturas serão mais elevadas, principalmente na região Sudeste",  complementa o meteorologista. 

Saiba mais:

BOX - Chuva volumosa, generalizada, porém com passagem muito rápida pelo PR entre a véspera e o natal

Paraná 

O Deral (Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná) já reduziu sua estimativa para a nova safra de soja do estado agora para 19,1 milhões de toneladas, cerca de 500 mil a menos do que a projeção anterior. O departamento já afirmou, inclusive, que esse número ainda deverá ser reavaliado.

Em entrevista ao Notícias, o presidente da Aprosoja PR, Márcio Bonesi, a principal região afetada é o oeste do estado, que já sofre com 30 dias sem  chuvas, porém, com a situação já espalhando pelo Norte e Noroeste do Paraná. Ainda como explicou, as lavouras plantadas mais tarde tem um pouco mais de chance de recuperação, enquanto nas áreas plantadas mais cedo, a colheita está sendo antecipada e os índices de produtividade já são menores do que o esperado. 

Veja sua entrevista na íntegra no link abaixo:

>> Falta de chuvas e temperaturas altas já comprometem cerca de 50% da safra de soja no Paraná

Colheita da soja em Santa Helena/PR

Colheita da soja em Santa Helena/PR

Colheita da Soja em Santa Helena/PR 

O plantio paranaense ocorreu mais rápido este ano, com boas condições de clima e as chuvas também chegando mais cedo e, por isso, se estima que a colheita também será antecipada. No entanto, já há produtores esperando colher ainda mais cedo ao verem suas lavouras perdendo cada dia mais e sem chances de recuperação, mesmo com a volta das chuvas para a região nos próximos dias. 

"A seca avança sobre os campos do Paraná, parte do Mato Grosso do Sul e Santa Catarina e com isso perdas vão crescendo. Os olhos dos produtores destas regiões nos apontam que tem perdas que devem superar os 50% e outras apontadas que não dará colheita. Desta forma, o potencial produtivo, principalmente do Paraná, devera cair bastante", explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. 

Soja em Mercedes/PR

Soja castigada pela seca em Mercedes/PR

Em algumas localidades como Palotina e Ubiratã a colheita da soja já foi iniciada e acontece entre 20 e 30 dias antes do previsto em função da seca e das altas temperaturas. As produtividades, segundo relatos de produtores locais. Na sequência, o vídeo abaixo mostra essa situação. 

Mato Grosso do Sul

No Mato Grosso do Sul, a produtividade inicialmente esperada também não será alcançada e nem mesmo o número do ano anterior de 59 sacas por hecatre deverá ser alcançado, como explica o presidente da Aprosoja MS, Juliano Schmaedecke em entrevista ao Notícias. Algumas áreas do estado sofrem com a falta de chuvas há quase 60 dias. 

“De 20 a 25% da safra está na fase de enchimento de grão e algumas lavouras estão sem chuvas desde de o dia 23 de outubro. Na última semana, alguns pontos tiveram chuva, mas o Sol está escaldante e isso traz bastante apreensão ao campo. Já não conseguimos mais fazer a produtividade do ano passado devido à seca e acredito em uma safra a baixo das 10 milhões de toneladas”, diz Schmaedecke.

>> Soja no MS sofre com falta de chuvas e produtores vão precisar de gestão para fechar a conta

Segundo relatos de produtores, há lavouras nos arredores de Chapadão do Sul que não conseguirão alcançar as 30 sacas por hectare nesta safra. As plantas estão morrendo sob o sol forte e sem água. As temperaturas na região estão casa dos 35 graus quase que diariamente. 

Lavouras prejudicadas pelo clima em Dourados (MS). Envio de Leandro Valente

Soja prejudicada pela seca em Dourados/MS

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • elcio sakai vianópolis - GO

    Venho observando que as variedade mais produtivas, na maior parte das vezes são as que tem menos estabilidades, se antigamente tínhamos seis variedade de soja adaptadas pra região, hoje temos no mínimo 10 vezes mais de variedades novas, cada uma mais produtiva que a outra, ou pelo menos é o que dizem os seus representantes. As áreas dos produtores está sendo um laboratório a céu aberto, é lógico que muitas destas variedades provavelmente irão se destacar, mas aquelas variedades lançadas que não conseguiram atingir o mínimo do seu potencial, o prejuízo fica todo pro produtor.

    Não entendo a ideia de uma grande empresa de sementes lançar um variedade hoje e dentro de poucos anos tirar ela do mercado, será que não estão queimando etapas dos processos, tudo justificável pra uma empresa ter um maior portfólio de variedades?

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    • Carlos William Nascimento Campo Mourão - PR

      Elcio, as empresas lançam variedades continuamente para vender "novidade". Dizem que este último lançamento é que é o bom, que vai fazer o agricultor produzir 100 sacas por hectare. Tudo que é novo é mais caro. Agricultor vive de sonho, esperança, e assim compra mais um engodo. E digo mais, as empresas que fazem estas variedades não testam em ambientes adversos. O que interessa é a produção de grãos, kilos por hectare. Plantam os testes em terras super férteis e não observam morte de plântulas, brotamento de vagens, resistência a seca e outras coisas que uma empresa como a Embrapa faz. Uma soja da Embrapa, por melhor que seja na produção, se tiver morte por fitóftora, não é lançada. Ela testa em várias regiões do estado e leva em consideração a estabilidade. Não ganho nada da Embrapa para falar bem, mas é a verdade. Infelizmente não é muito vendida porque existem acordos comerciais que dificultam a vida da Embrapa. Entendeu? Mas experimenta na sua roça.

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    • elcio sakai vianópolis - GO

      ..É isso mesmo que estou vendo, estão pulando etapas e o ônus está ficando com o produtor. O produtor compra a semente a fim de ter lucratividade e não de servir como laboratório de uma empresa.

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    • LAURICIO RIBEIRO DE MORAES Tangara da Serra - MT

      Concordo em vários pontos neste comentário: as mais produtivas são as menos rústicas, o problema se chama precocidade, o que todos produtores buscam..., imaginem o sistema radicular pouco pronunciado, aliado à adubação a lanço, e outras variáveis. Temos que repensar muita coisa na agricultura...

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