A tarifa de 25% da China sobre a soja importada dos Estados Unidos já está valendo e a semana começa com os traders buscando entender quais serão os efeitos práticos desta medida que, até a última sexta-feira (6), vinham atuando somente no campo das ameaças. O importante será saber agora, como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, qual será a demanda de fora da China que se voltará à soja norte-americana e que tamanho ela terá.
"Quem não é China vai comprar nos EUA. Mas, essa demanda será suficiente para fazer um início de temporada nos EUA?", questiona Vanin, em um momento em que as lavouras norte-americanas estão em franco desenvolvimento no Corn Belt.
Do mesmo modo, o executivo acredita que as compras chinesas ficarão, portanto, cada vez mais concentradas no Brasil, uma vez que a oleaginosa brasileira - apesar dos prêmios muito altos nos portos nacionais - se mostra um pouco mais barata do que a americana em função da taxação.
Prêmios voltam a superar os 200 pontos no Brasil - Fontes: Ary Oleofar + Bloomberg
Entretanto, o analista afirma: "essa não é uma notícia boa para ninguém". Vanin explica que, por um caminho ou por outro, a China vai comprar soja muito mais cara, o que pressiona as margens de esmagamento no país e pode levar a uma redução em suas importações da oleaginosa. "Nunca vimos a China racionar demanda, esse pode ser o primeiro ano", diz. "Eles precisam comprar de 8 a 9 milhões de toneladas de soja por mês e isso não está acontecendo. A média tem sido de algo entre 6 e 7 milhões", completa.
Exportações de soja do Brasil supera as dos EUA em 2013 - Fontes: Bloomberg e USDA
Diante das incertezas sobre os próximos movimentos tanto dos EUA, quanto da China, um dos mais voláteis mercados neste momento tem sido o do farelo de soja na nação asiática. Na última sexta-feira, o mercado chinês registrou o maior volume de negócios nesta commodity desde o início de abril, quando teve início a guerra comercial. Nesta segunda, o contrato setembro fechou o pregão na Bolsa de Dalian com altas de mais de 1%. Desde fevereiro, os ganhos acumulados passam de 14%.
A preocupação com a falta de matéria-prima para a produção do derivado, afinal, preocupa e traz efeitos como este para os preços do farelo. "E há uma falta de grão não por uma falta de produto, mas porque o preço sobe", diz o analista da Agrinvest.
Na última semana, o mercado já vinha trabalhando com informações de que a o governo chinês estaria reunido com as maiores processadoras de soja do país para acordar uma redução nas compras internacionais da ordem de 15 a 20%.
Reembolso
Segundo informações apuradas pela agência internacional Bloomberg, a China irá reembolsar os compradores dessas taxas de 25% sobre a soja importada dos EUA caso os carregamentos sejam destinados aos estoques do país. O pagamento da tarifa deverá ser feito e depois acontecerá o reembolso. Há, no entanto, ainda mais detalhes de como isso será feito.
Pelo menos uma das embarcações que estão a caminho do país asiático neste momento terá como destino os estoques chineses, ainda de acordo com as fontes ouvidas pela Bloomberg. No entanto, como explica o analista da Shanghai JC Intelligence Co., Li Qiang, a maior parte de cerca de outras 20 cargas compradas anteriormente já teriam sido canceladas.
"Pode haver algum tipo de compensação", explicou Qiang, uma vez que as compras foram feitas em nome do governo, que acredita ainda que isso não deverá ser considerado, uma vez que companhias chinesas cancelaram e recompraram alguns carregamentos de soja americana na sexta-feira.
Nesse impasse, o Ministério do Comércio da China também disse na última segunda-feira (2) que irá encorajar e estimular as importações de produtos agrícolas - incluindo soja e farelo e outros países, enquanto avalia o impacto da guerra.
O gráfico da Bloomberg, com dados do Rabobank, mostram o destino da soja dos principais exportadores globais
Soja no coração da disputa
Um estudo da Universidade do Tennessee mostra que as tarifações sobre a soja americana poderiam causar um impacto na casa dos US$ 4,5 bilhões nos embarques dos EUA para exportação. E ai o tarifar a soja norte-americana, a China ataca um dos setores da economia dos Estados Unidos que ainda sustenta um superávit comercial, e em um momento em que a renda agrícola pode recuar de forma significativa e chegar a seu menor nível em 12 anos.
As exportações de soja americana para os chineses ficam atrás, em valores, somente das vendas de aeronaves e veículos neste ano, de acordo com a análise da Bloomberg Intelligence.
O que poderia, no entanto, trazer algum suporte às cotações da commodity na Bolsa de Chicago e proteger, pelo menos em partes, da renda do agricultor americano seria uma retração vendedora por parte dos produtores.
"O preço abaixo de US$ 8,70 em Chicago estimula uma certa retração vendedora pelo produtor americano, e com uma retração vendedora, deveríamos ver os preços se sustentando e aumentando em Chicago, acreditando que eles devam voltar a superar os US$ 9,00 por bushel", explica o analista de grãos do Rabobank, Victor Ikeda.
Gráfico da CBOT mostra os momentos do anúncio e da confirmação das tarifas impactando nos preços - Fonte: Bloomberg
Além disso, mesmo com essa taxa, a China ainda irá depender da soja americana e irá compra-lá para sanar sua demanda até que novas alternativas sejam efetivadas. Ainda segundo uma projeção do Rabobank, no último trimestre do ano a nação asiática deverá precisar de algo próximo a 20 milhões de toneladas da oleaginosa, com o Brasil podendo suprir com algo entre 4 e 5 milhões de toneladas.
"Assim, se analisarmos mais para frente, vai haver uma necessidade da China por parte da soja americana e isso vai promover um reajuste do mercado para patamares mais próximos dos US$ 9,00. A América do Sul sozinha não é capaz de abastecer a China em 2018", diz Ikeda.
Por outro lado, os EUA semearam, na safra 2018/19, mais soja do que milho pela primeira vez em 35 anos e isso também preocupa os agricultores locais. "Quando se começou a ter uma deterioração dos preços em Chicago, a soja americana, basicamente, já estava no chão e não havia como mudar a oferta americana", explica o analista do banco internacional.
China diz que usará tarifas sobre produtos dos EUA para reduzir impactos de guerra comercial
PEQUIM (Reuters) - O Ministério do Comércio da China disse nesta segunda-feira que usará fundos coletados a partir de tarifas cobradas sobre as importações dos Estados Unidos para ajudar a aliviar o impacto das ações comerciais dos EUA sobre as empresas chinesas e seus funcionários.
O Ministério do Comércio também afirmou, em comunicado, que incentivará as empresas a aumentar as importações de produtos como soja.
China e EUA aplicaram na sexta-feira tarifas de importação mútuas, no que está se tornando uma longa batalha comercial.
(Reportagem Redação de Pequim)
Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR
Embora a commodity soja esteja no coração do problema, há outras razões que estão na raiz do problema.
Em 2015 o governo chinês lançou uma diretriz estratégica para atualizar a estrutura econômica e o modelo de crescimento do país na próxima década, a qual foi chamada de: "Made in China 2025". A China trabalha com o objetivo de que seu mercado interno consuma 70% de produtos chineses em 2025. Esse plano conta com cinco prioridades principais. A primeira prioridade é promover e acelerar a inovação, indicando que os líderes chineses entendem que o modelo de crescimento anterior, com sua dependência de mão-de-obra barata, está perdendo força. A segunda prioridade é melhorar a qualidade dos produtos e serviços. A terceira e quarta prioridades são impulsionar técnicas de produção "verdes" ou ambientalmente sustentáveis e energia renovável e promover a transformação estrutural de indústrias e empresas. E a prioridade final é o investimento em capital humano e desenvolvimento de talentos. O presidente Xi Jinping em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de 2017, explicitou que a resposta para que a China alcance o status de um país de alta renda esteja na própria tecnologia. Empresas transnacionais que montaram fabricas na China, são "obrigadas" a terem como sócias empresas chinesas e, aí a chance da tecnologia de uma Apple, GM, ser transferida é alta, ou seja, os chineses terão sua "própria tecnologia".Heber Marim Katuete - PY - PI
Tá aí um assunto que gostaria de entender... Controlar a demanda... Durante a greve dos caminhoneiros estava em Curitiba, acompanhando tratamento de saúde de familiar..., tive que entrar numa fila para abastecer, conversei com algumas pessoas, pessoas que não eram acostumadas a encher o tanque, mas devido à greve estavam completando o tanque..., na minha frente tinha uma camionete que estava carregada de galões e secou a bomba, me deixando um resto de 14 litros de diesel... Será que em um país desenvolvido consegue fazer a migração para outros produtos? Ouvi na televisão de uma senhora que havia comprado 35 kilos de arroz somente para ela durante a greve...
Nas crises, as populações ficam selvagens. Principalmente em países menos desenvolvidos. Egoísmo, efeito manada !!
Sr. Heber, esse conceito de demanda agregada foi criado por um economista chamado Jonh Mayard Keynes, e foi a alegria dos políticos pois basicamente ele afirmava que criando dinheiro do nada a demanda seria estimulada, etc... Os governos e apaniguados tem interesse na divulgação dessas idéias, é uma farra. Ao contrário, nas universidades brasileiras não é sequer mencionada a lei de Say, em que a oferta faz sua própria demanda, o que é principio básico na escola austríaca de economia, Rothbard, Mises, etc... o principio básico de que para ser demandado, todo e qualquer produto precisa antes ser produzido e que se esse mesmo produto continuar a ser produzido é por que existe demanda. Essa mesma demanda que é tão falada não sofre apenas a influencia do consumo, sendo deslocada muitas e muitas vezes pelo valor dos juros e o cambio.