Soja: Preços podem ceder com as novas ofertas, mas demanda ainda é muito intensa

Publicado em 10/02/2017 11:15

A safra de soja da América do Sul está caminhando para seus estágios finais, as projeções mais otimistas do que há alguns meses e outra já começa a ser preparada nos Estados Unidos, onde o que mais chama a atenção agora é a disputa por área entre a oleaginosa e o milho. Entre as duas temporadas, porém, o potencial, a força e presença da demanda também continuam sendo avaliados e assim, diante de novos fatores e de outros em vias de serem definidos, um novo cenário pode se desenhar para os preços. 

Oferta

Um levantamento feito pela Radar Investimentos mostra as projeções de algumas das principais consultorias brasileiras, além da Conab(Companhia Nacional de Abastecimento) e do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), e aponta que as empresas nacionais se mostram bastante otimistas com a produção brasileira 2016/17. 

Enquanto o último reporte do USDA projeta um safra de 104 milhões de toneladas, a Conab, em seu último reporte divulgado nesta quinta-feira (9) estimou 105,55 milhões de toneladas e o número esperado pela Safras & Mercado é ainda expressivo, já que trabalha com uma colheita de 106,9 milhões de toneladas. 

Tabela Radar

A AgResource Company, baseada em Chicago, também mantém suas projeções inalteradas neste início da fevereiro e, para a América do Sul, espera uma produção de mais de 165 milhões de toneladas de soja. Caso esse potencial todo se confirme, "deve continuar colocando pressão nos preços internacionais da oleaginosa , caso a demanda não surpreenda", informa o relatório diário da consultoria.

Como explica o consultor de mercado Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, juntos, EUA, Brasil e Argentina vendem 88% da soja do mundo e frente às boas condições da oferta que podem ser registradas até esse momento, uma pressão maior poderia ser sentida pelas cotações a partir de um avanço maior da colheita sulamericana, especialmente a brasileira. 

"Quando chegar o momento mais forte da colheita, que é março, naturalmente, devemos ter uma pressão nas cotações, perdendo de 20 a 40 cents, mas não vejo o preço despencando tanto. E com essa taxa de dólar próxima de R$ 3,00, fica difícil os preços de Chicago caírem muito, porque isso afastaria completamente o vendedor brasileiro da comercialização", diz.

Enquanto isso, das 55,79 milhões de toneladas previstas pelo USDA para serem exportadas pelos EUA neste ano comercial, já há 90% comprometido com as vendas e 75% embarcado. Na Argentina, com algumas incertezas que ainda rondam a produção, as vendas também acontecem de forma bem comedida. "Assim, a soja ainda a ser negociada é a soja brasileira", explica Fernandes. 

Nesse ambiente, a possibilidade de os futuros da soja buscarem os US$ 10,00 de volta é, como afirma o consultor, grande. Entretanto, acredita também que esse movimento, ao vir a acontecer de fato, deve durar pouco, já que nesses patamares, os preços se tornam ainda mais atrativos e grandes oportunidades para os compradores. 

Enquanto isso, o mercado internacional já começa a especular sobe a nova safra dos Estados Unidos e essas informações ajudarão a ajustar o tom das cotações na Bolsa de Chicago. A 'briga' por área já movimenta os fundos internacionais e pode intensificar a volatilidade entre os futuros da oleaginosa, principalmente nos vencimentos mais distantes. 

Em um material reportado nesta sexta-feira pelo portal Agrimoney, o grupo Pimco, de gerenciamento de ativos - um dos maiores do mundo - revelou que seu fundo de commodities estava bastante otimista sobre suas perspectivas para os futuros do milho e nem tanto assim para a soja. 

"Acreditamos que os preços da soja podem cair em relação aos do milho, com base em nossas avaliações, diante de uma provável e grande troca de área do milho para a soja nos EUA este ano", diz Nic Johnson, gerente de portfólio do fundo de commodities da Pimco. E a companhia não está sozinha, com outras instituições e consultorias também já sinalizando um aumento do espaço destinado à soja nesta próxima temporada. 

Demanda 

Embora a demanda mundial pela soja esteja, agora, migrando para a América do Sul, a competitividade dos Estados Unidos é grande e ainda atrai os compradores. E esse movimento se estende também para os derivados. Embora o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) não tenha alterado suas projeções para as importações de soja da China neste ano comercial - mantendo os números em 86 milhões de toneladas - a força do consumo continua muito presente no mercado. 

Somente em janeiro deste ano, a China importou 7,66 milhões de toneladas de soja em grão, o volume foi o maior para omês desde 2010, de acordo com informações da Administração Geral Alfandegária do país. Apesar de uma redução de 15% em relação ao mês anterior, o total cresceu 35% se comparado a janeiro de 2016. 

As margens de esmagamento têm subido de forma expressiva nas últimas semanas, estimulando ainda mais a demanda. "No último trimestre de 2016, os processadores assinaram muitos contratos a termo frente a atrasos de embarques das importações e também em função de problemas logísticos internos, os quais aparecem agora nos números das importações", explicou, à Reuters Internacional, a analista da consultoria chinesa JCI. "Além disso, as margens de esmagamento estão boas, assim, a demanda dos processadores pelas importações continua muito forte", completa. 

Segundo a consultoria Safras & Mercado, as exportações de soja do Brasil, no ano comercial 2016/17, deverão somar 57,5 milhões de toneladas, 10% a mais do que no anterior. Os negócios por aqui, porém, ainda estão travados diante dos patamares de preços que não são atrativos para os sojicultores, já que os mesmos seguem esbarrando no dólar baixo. 

"A demanda está tentando pegar produto brasileiro, mas existe uma certa lentidão na entrada da safra em relação ao que se esperava. Então, os compradores voltaram a buscar uns lotes nos Estados Unidos em uma época em que não era provável ou esperado, o que também ajuda a dar suporte para os preços em Chicago", explica o consultor de mercado Flávio França Junior, da França Junior Consultoria. 

E França reafirma a força dessa demanda e seu potencial de crescimento. 

"Mesmo que se desloque dos EUA e venha para a América do Sul, o importante é que o conjunto do mercado se mantém bastante sólido de consumo. E na nossa concepção, essa questão financeira é uma variável importante para essa determinação do rumo dos preços nos próximos mseses. Mas, eu ainda apostaria no conjunto de demanda, de safra menor na Argentina, e apostaria em preços médios melhores, inclusive até com chances de melhora em relação aos níveis atuais, não exatamente nos próximos dois meses, mas na sequência do ano", conclui.  

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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