Quase 3,5 milhões de hectares estão afetados pelas inundações na Argentina; saiba o que aconteceu até agora

Publicado em 19/01/2017 09:06

Uma imagem de satélite revela que quase 2,5 milhões de hectares estão com graves problemas por conta das inundações no centro sul de Santa Fe, no norte de Buenos Aires e no leste de Córdoba, na Argentina. Além disse, havia também outro 1 milhão de hectares com inconvenientes, porém, em condições mais leves.

O fenômeno, que deixou acumulados até 600mm nos últimos 30 dias, surpreende porque o habitual para esta época seria um período com chuvas não tão abundantes. Com esse risco, nos últimos anos o plantio dos cultivos começou a ser atrasado.

Os dados de imagem foram apresentados ao jornal La Nación por Pablo Ginestet, especialista da empresa de serviços de imagem e análise Ripear e membro pelas Confederações Rurais Argentinas (CRA) na Comissão Nacional de Emergências e Desastres Agropecuários. Ginestet mostrou uma imagem de anteontem do satélite Terra que, por conta da nebulosidade, não incluiu a província de Entre Ríos.

Por províncias, segundo a análise de Ginestet, os hectares afetados são os seguintes: 1.063.452 hectares em Buenos Aires (no Norte e no Oeste), 821.463 hectares em Santa Fe (sobre o Centro Sul) e 483.307 hectares no leste de Córdoba. Desses quase 2,5 milhões de hectares comprometidos, 351.491 hectares estão inundados, 1.440.603 hectares alagados e 588.821 hectares saturados.

 

Mapa das áreas inundadas na Argentina

Mapa de umidade no solo da Argentina

Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, toda a região central representa 12,5 milhões de hectares do plantio total de soja do país, ou seja, 65% do plantio total projetado. Para Ginestet, dessa região, há 700.000 hectares com soja em problemas, 5,6% do total. O restante dos hectares afetados correspondem a outros cultivos, pecuária, atividade leiteira e locais próximos à área urbana.

Pode não parecer uma perda importante, mas vale ter em conta que, em relação ao ano passado, o plantio da oleaginosa no país caiu 800.000 hectares e estes 700.000 agregam uma incerteza ao resultado final da safra. "A metade desses 700.000 hectares estão com alto risco de perda", disse o especialista, acrescentando que, mesmo no caso de não haver uma perda, os rendimentos poderão ser menores. Para o milho, de 180.000 hectares já comprometidos, 100.000 estão com alto risco de perda.

Inundação em Santa Fe

Inundação na Província de Santa Fe (Foto: Agrofy News)

"Para esta época do ano não houve algo tão generalizado em chuvas nos últimos cinco anos", disse Ginestet. Em Santa Fe, as inundações chegaram no outono nos três últimos anos e, em Buenos Aires, na saída do inverno ou na primavera, como em outubro passado, em General Villegas, que hoje está com problemas novamente.

Imagem de satélite das queimadas em Buenos Aires, La Pampa e Rio Negro

Imagem de satélite da NASA com as queimadas ocasionadas pela seca em Buenos Aires, La Pampa e Río Negro

O contraste é a seca no sul de Buenos Aires e no leste de La Pampa, onde o plantio de soja de primeira etapa finalizou com uma queda de 20% na superfície em relação aos planos iniciais. Por sua parte, a soja de segunda etapa de plantio teve apenas 50% da área plantada.

Soja em risco e suas estimativas

Com isso, as estimativas de uma superssafra de soja na Argentina começam a diminuir. Enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta uma safra de 57 milhões de toneladas para o país e o Ministério da Agroindústria do país diminuiu sua previsão de 56 para 55 milhões de toneladas, outras estimativas indicam uma perda mais severa.

O consultor internacional Michael Cordonnier, que é especialista na produção sul-americana, aponta uma projeção de 51 milhões de toneladas para a safra da Argentina. Enquanto isso, Pablo Adreani, da consultoria AgriPAC, fala em 50 milhões de toneladas. O presidente da Federação Argentina de Contratistas de Máquinas Agrícolas (Facma), apontou para o jornal La Nación uma estimativa de 52 milhões de toneladas.

Alcorta, em Santa Fe

Área alagada em Alcorta, em Santa Fe

Na última segunda-feira (16), o governo de Santa Fe fez uma estimativa de que 4 milhões de hectares estavam afetados na província, com perdas que devem ser avaliadas em US$1,1 bilhão. Considerando as províncias de Buenos Aires e Córdoba, as perdas podem chegar a US$1,75 bilhões, segundo estimativas oficiais e privadas.

Em Buenos Aires, estima-se ainda que haja uma área de 1 milhão de hectares sem plantio: 300.000 por conta da seca que afetou o sul da província e 700.000 por conta das inundações.

Marina Barletta, da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) disse que ainda falta o plantio de um milhão de hectares de soja e que há 500.000 hectares que estão comprometidos entre excessos de água e déficit hídrico. No entanto, ela acredita que nem tudo está perdido. "Os produtores esperarão até o final do mês para plantar soja. Se as águas diminuirem e o solo permitir, poderão terminar de plantar os hectares que faltam", explicou.

Esteban Copatí, chefe de Estimativas Agrícolas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), explica que ainda é complexo fazer um balanço correto das perdas porque muitos produtores ainda não terminaram de plantar e a água não baixou no centro e sul de Santa Fe e Córdoba e nem ao norte da província de Buenos Aires.

Em seu último relatório (19/01), a Bolsa de Cereais de Buenos Aires diminuiu a estimativa de área de soja para 19,2 milhões de hectares, 100.000 hectares a menos do que em seu relatório anterior, que também apontava uma queda de área.

Condições para a safra

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Telmo Amado, professor da Universidade Federal de Santa Maria (RS) apontou que "é muito grave" o que ocorre na Argentina neste momento. O volume de 600mm de chuvas que ocorreu apenas em um mês, segundo ele, "é a precipitação que a soja demandaria em todo o seu ciclo".

Área destruída pelas inundações na província de Buenos Aires

O professor lembra que, se a soja ficar um período de algumas horas debaixo de chuva - e, nesse caso, são muitos dias - o fator se torna bastante prejudicial para a planta, com danos irreversíveis de produtividade. Além disso, algumas plantas podem acamar ou morrer, causando uma diminuição no estande de plantas.

Com a previsão de mais chuvas, em meio a um verão atípico, a Argentina poderá ter ainda um grande dano se esse quadro persistir, analisa o professor.

Previsões climáticas

Para o período compreendido entre quarta-feira (18) e terça-feira (24), as previsões indicam que desde o início até o final do período, as condições climáticas serão estáveis para as áreas atingidas, como informa o Sistema de Estimativas Agrícolas de Santa Fe.

Haverá um leve aumento nas temperaturas médias diárias, com poucas a nulas probabilidades de chuva em toda a área de estudo, o que permitiria visualizar a capacidade de reação nos sistemas produtivos após os excessos hídricos registrados.

Milho em Bouquet, Santa Fe

Milho em Bouquet, Santa Fe (Foto: Agrofy News)

Já o último boletim do Instituto de Clima e Água da Argentina, que previu as chuvas do último final de semana, apontou que as chuvas que afetam a zona semanalmente devem desaparecer apenas em fevereiro ou março. Sendo assim, nas áreas mais baixas, a situação de emergência nessas localidades pode se prolongar até a próxima primavera nas áreas mais baixas, como apontam os dados do boletim.

Emergência agropecuária

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, incluiu o tema em sua agenda na manhã da última terça-feira (17), durante uma coletiva de imprensa na Casa Rosada. Ele disse que será declarada a emergência agropecuária para o setor e que o governo daria "assistência com todas as ferramentas que possui".

Na ocasião, ele apontou ainda que "a mudança climática está cobrando o seu preço", mas evitou comentar as perdas econômicas geradas pelas chuvas e pelas inundações, embora tenha reconhecido a necessidade de avançar com obras de infraestrutura para mitigar os efeitos das chuvas.

Com informações do La Nación

Clima afeta soja na Argentina, e preços sobem (por MAURO ZAFALON, na FOLHA)

Redução de estoques norte-americanos e problemas climáticos na Argentina esquentaram de novo o preço da soja, que está sendo negociada de US$ 10,7 a US$ 10,8 na Bolsa de Chicago, os maiores valores desde julho do ano passado.

Os Estados Unidos já produziram safra recorde em 2016/17. Brasil e Paraguai, por ora, também devem ter volume recorde.

As altas ocorrem por causa da Argentina, onde chove muito em várias regiões produtoras.

O problema, segundo a analista Daniele Siqueira, da AgRural, não é tanto a produtividade, mas o tamanho do estrago que as chuvas estão provocando na área de soja.

Os dados são muito desencontrados, e as estimativas das áreas afetadas de forma mais intensa por chuvas vão de 500 mil a 3,5 milhões de hectares. Parte dessa área ficaria sem plantio.

As informações são que na região da província de Buenos Aires pelo menos 300 mil hectares deixaram de ser plantados. Já no norte, faltam outros 700 mil para serem semeados.

Siqueira diz que é difícil uma avaliação das eventuais perdas de produção, até porque as plantas, semeadas em uma "janela" muito grande –período de plantio–, vão reagir de forma diferente aos efeitos climáticos.

O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), com base em dados colhidos no mês passado, estima a safra argentina em 57 milhões de toneladas.

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Carne nos EUA - A produção comercial de carne bovina atingiu 11,4 milhões de toneladas no ano passado, segundo dados do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA), divulgados nesta quinta-feira (19).

Suínos - Já a produção de carne suína subiu para 11,3 milhões de toneladas no ano passado, 2% mais do que em 2015. 

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Por:
Izadora Pimenta
Fonte:
Notícias Agrícolas

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