Soja começa a semana acima dos R$ 67 no Brasil com portos quase vazios
Protesto dos Caminhoneiros em Candelária/RS
Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago devolveram boa parte dos ganhos registrados na última semana e fecharam a sessão desta segunda-feira com baixas de dois dígitos - superando os 16 pontos nas posições mais negociadas. O vencimento maio/15, referência para a safra brasileira, ficou em US$ 10,13 por bushel.
Como explicou o consultor de mercado Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, a percepção de que o movimento dos caminhoneiros no Brasil começa a ser menos intenso foi um dos principais fatores de baixa para o mercado neste início de semana. Apesar de ainda haver muitos pontos de bloqueio em pelo menos seis estados nesta segunda, a greve já não mostra a mesma força que exibia na última sexta-feira (27).
"Em relação ao que se tinha no final da semana passada, a situação já está bem melhor. Em meados da semana passada, chegamos a ter menos de 10% do que estava no line-up sendo embarcado no porto de Paranaguá, depois tivemos ainda a obstrução no porto de Santos", relata o consultor. E com o fluxo comprometido no Brasil, segundo maior produtor e exportador mundial da oleaginosa, a demanda forte e crescente deve exigir cada vez mais da oferta norte-americana.
No porto de Paranaguá, onde o preço da soja fechou o dia em R$ 67,50 por saca com o produto para entrega em abril/15, o fluxo de caminhões ainda está muito abaixo do normal e deverá contar ainda com um bom tempo para que o cenário se reestabeleça. Os estoques de carga para embarque devem durar somente até esta terça-feira (03). Em Rio Grande, o preço fechou o dia valendo R$ 67,50 e em Santos, R$ 68,00/saca. Apesar das baixas em Chicago, a alta do dólar compensou parte das perdas e a moeda norte-americana subiu mais de 1% frente ao real nesta segunda, voltando a se aproximar dos R$ 2,90.
Nesta manhã, passaram pela triagem do terminal 90 caminhões, quando o normal para essa época do ano é uma média de 950 veículos. Ainda segundo Cogo, durante o dia esses números foram melhorando e isso também foi pesando sobre as cotações. No último final de semana, entre sábado e domingo, 590 caminhões descarregaram cargas no porto, contra a média de três mil para o período.
Outro fator que pesou sobre as cotações em Chicago no pregão desta segunda-feira (3) foram os números dos embarques semanais, que vieram em pouco mais de 600 mil toneladas e ficaram abaixo das expectativas do mercado, além de menores também do que as registadas na semana anterior.
Entretanto, como explica Cogo, mais importante do que esse número semanal é importante observar o quadro geral, que já aponta o total de soja embarcada na temporada 2014/15 superando 41 milhões de toneladas - bem acima dos mais de 35 milhões do mesmo período da safra 2014/15 - enquanto o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projeta as exportações totais norte-americanas em 48,72 milhões de toneladas.
"Em uma visão de mais médio ou longo prazo, esse volume já contratado de soja norte-americano é muito elevado mesmo. Lembrando que o ano comercial se encerra somente no final agosto, e atá lá temos, praticamente, cinco meses de contratações", afirma o consultor.
Assim, a perspectiva é de que as cotações da soja na Bolsa de Chicago continuem se mantendo em um piso de US$ 10,00 por bushel, uma vez que, ainda segundo Cogo, ao se aproximar desse valor o mercado volta a ser comprador. "É importante lembrar que uma boa parte dos ganhos recentes foi em função de uma coisa muito pontual, mas o patamar de um piso de US$ 10 continua tanto para o médio, quanto para o longo prazo", diz.
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Protesto dos Caminhoneiros em Candelária/RS
Negócios x Greve dos Caminhoneiros
Os produtores brasileiros têm aproveitado de forma bastante intensa esses picos de preços no Brasil, principalmente porque, ainda segundo explicam analistas e consultores de mercado, os mesmos não ocorrem, geralmente, em época de pico de colheita no Brasil. Bons volumes de vendas foram registrados nesses últimos dias, entretanto, os armazéns estão lotados de produto nos campos, enquanto os portos estão se esvaziando.
"O protesto continua, está muito forte na região oeste, sudoeste do Estado (do Paraná), e o noroeste pega a região de Campo Mourão. É um problema sério, o pessoal não consegue se planejar, os armazéns estão começando a encher (nas propriedades rurais e cooperativas)", disse uma importante fonte do setor produtivo, que pediu para não ser identificada por temer represálias dos manifestantes à agência Reuters.
O fluxo de produto para os portos ainda está muito comprometido e deverá levar ainda alguns meses para se normalizar. Além de portos vazios, vemos ainda plantas processadoras de soja e fábricas de ração sem matéria-prima. Nas granjas, animais estão morrendo por falta de alimentação e milhões de litros têm sido desperdiçados diariamente.
O mês de fevereiro foi o pior dos últimos quatro anos para as exportações brasileiras de soja, que somaram 869 mil toneladas, refletindo não só os protestos em estradas de todo o Brasil, como também o atraso na colheita em função de adversidades climáticas. Agora, os trabalhos de campo devem ser mais uma vez atrasados, uma vez que um novo levantamento mostra que cerca de 80% dos produtores rurais de Mato Grosso já estão sem óleo diesel para abastecer suas colheitadeiras.
Na Reuters: Protestos afetam negociações de grãos, enchem silos no interior e esvaziam nos portos
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Os protestos de caminhões no Brasil entraram em seu décimo terceiro dia nesta segunda-feira com menos adesões do que na semana passada, mas a situação ainda é crítica especialmente no Sul, afetando atividades agropecuárias, os negócios e a movimentação de grãos, como soja e milho.
Com os bloqueios concentrados no Sul, ocorrendo ainda em 23 pontos nesta tarde nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, produtores, cooperativas e compradores de grãos têm receio de efetivar negócios devido à imprevisibilidade da entrega por conta dos protestos nas rodovias, com impacto na logística, armazenagem e na exportação de grãos.
"O protesto continua, está muito forte na região oeste, sudoeste do Estado (do Paraná), e o noroeste pega a região de Campo Mourão. É um problema sério, o pessoal não consegue se planejar, os armazéns estão começando a encher (nas propriedades rurais e cooperativas)", disse uma importante fonte do setor produtivo, que pediu para não ser identificada por temer represálias dos manifestantes.
Se os armazéns estão ficando cheios na origem, nas áreas de produção de soja e milho, eles estão mais vazios nos destinos, nas agroindústrias ou nos portos exportadores, na medida em que navios vão esgotando os estoques portuários para completar cargas programadas ou em que criações se alimentam com o que resta nos silos.
"O produto que vai para o porto é muito pouco, os estoques estão vazios nos portos, e não está chegando carga para completar. Ou está chegando muito pouco (nos portos), tem navio que carregou uma parte (da carga planejada) e está aguardando mais para fechar carga, e aí começa a pagar demurrage (multa por sobre-estadia do navio)", afirmou a fonte, com sede no Paraná.
Um porta-voz de Paranaguá afirmou à Reuters que o porto paranaense, o terceiro em soja do Brasil, tinha recebido 950 caminhões até a manhã de segunda-feira, o dobro dos dias anteriores, mas ainda bem abaixo do normal para esta época do ano. No fim de semana apenas 590 dos habituais 3.000 caminhões chegaram, acrescentou. Estradas foram bloqueadas em quatro pontos do estado do Paraná nesta segunda-feira.
No porto de Rio Grande (RS), segundo exportador brasileiro de soja em grãos, a situação continua crítica, considerando que os desbloqueios efetuados pela polícia no final de semana não aliviaram muito a situação, disse um porta-voz da administração portuária.
"Eles conseguiram liberar cerca de 60 caminhões para o porto, mas 60 caminhões não mudam muito a situação. Existem navios que estão esperando para completar o carregamento", disse nesta segunda-feira Andre Zenobini, da assessoria do porto.
Essa pausa no ciclo do escoamento do produto agrícola pode ter impacto mais grave nas exportações, caso as manifestações não sejam encerradas. Fontes do setor estão ansiosas para que os protestos terminem no Sul, como foram encerrados em outros Estados, após medidas governamentais que incluíram multas de até 10 mil reais por hora.
Mas, se a greve continuar, o porto de Paranaguá poderia ter problemas para atender aos pedidos de exportação de soja até terça-feira ou quarta-feira, disse o porta-voz.
Isso num momento em que a exportação de soja começaria a ganhar ritmo por conta da colheita, que está atingindo o seu pico, enchendo os silos das propriedades que têm infraestrutura de armazenagem.
Os trabalhos de colheita chegaram a ser atrasados nos últimos dias em algumas áreas, como em Mato Grosso, por conta da falta de diesel para abastecer a colheitadeira --o abastecimento de combustíveis também está sendo prejudicado pelos protestos.
As exportações de soja do Brasil no mês passado foram as piores para o mês de fevereiro dos últimos quatro anos, somando 869 mil toneladas, com influência dos protestos nas estradas e do atraso na colheita.
A Abiove, associação que representa a indústria e os exportadores de soja, afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto.
AGROINDÚSTRIA SOFRENDO
Se o agricultor e a cadeia exportadora estão tendo prejuízos, o setor da agroindústria, em especial de carne e leite, está tendo mais perdas.
Os prejuízos acontecem porque não se pode abater os animais, que já passaram do peso ideal, ou por falta de ração para alimentá-los. No caso do leite, o produto tem apenas um dia de vida útil na propriedade.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, disse em nota nesta segunda que o movimento grevista está causando transtornos insuportáveis ao segmento.
"O fluxo de matérias-primas das áreas rurais para as indústrias foi interrompido --e leite, grãos, frutas, hortigranjeiros, aves, bovinos e suínos deixaram de chegar às agroindústrias. No contrafluxo, rações, pintinhos, leitões e outros insumos deixaram de chegar aos estabelecimentos agrícolas", afirmou ele.
Para o presidente da Faesc, as consequências são catastróficas. As indústrias paralisaram a produção por falta de matéria-prima e de local para estocagem dos produtos processados.
Segundo a Faesc, "cerca de 6 milhões de litros de leite estão sendo jogados fora todos os dias" em Santa Catarina porque não é permitido o transporte até os laticínios.
Ainda segundo o presidente da federação, falta ração para um plantel permanente de quase 100 milhões de aves e 5,5 milhões de suínos.
A exportação de carnes também está sofrendo. Os embarques de cortes suínos in natura do Brasil em fevereiro foram os menores em nove anos, devido às dificuldades de logística.
(Com reportagem adicional de Gustavo Bonato e Marcelo Teixeira)
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Aproveitem os picos e vão fechando negócios para não ficarem com o mico na mão....