Soja: Preços no Brasil já caíram mais de 5% desde o início de janeiro, vendas estão atrasadas
Nesta safra 2014/15 de soja do Brasil, os negócios no mercado interno vêm acontecendo em um ritmo mais lento do que o observados em temporadas anteriores e a comercialização está próxima de 40%, se considerada uma safra perto de 90 milhões de toneladas. Nos últimos anos, nesse mesmo período, o número já chegava a 50%. Nesta segunda-feira, sem a referência de Chicago em função do feriado de Martin Luther King nos Estados Unidos, os preços fecharam estáveis nos portos brasileiros e com ligeiras baixas no interior, apesar da alta de mais de 1% do dólar e da moeda norte-americana chegar aos R$ 2,65 novamente.
Com um dólar mais fraco e preços mais baixos sendo praticados na Bolsa de Chicago - onde as cotações perderam o patamar dos US$ 10,00 por bushel -, os preços recuaram também no Brasil e o interesse de venda por parte dos sojicultores está cada vez menor.
Na última semana, os preços da soja nos portos brasileiros perderam 5,47% em Paranaguá e 3,76% em Rio Grande, com o produto para entrega em maio/15, com R$ 60,50 e R$ 61,50 por saca, respectivamente, depois de os preços terem registrado valores superiores a R$ 68,50. Em Chicago, entre os dias 5 e 16 de janeiro, as posições mais negociadas perderam mais de 5%. E o dólar recuou, no mesmo intervalo, mais de 3%, segundo mostra o economista do Notícias Agrícolas, André Bittencourt Lopes. Veja os gráficos ilustrando esse cenário.
"Em alguns momentos, os preços foram acima dos R$ 70,00 nos portos, e agora o mercado está trabalhando entre R$ 61 e R$ 63, basciamente em cima do avanço do pico de colheita no Brasil, e já há uma tradicional pressão de alta nos fretes, automaticamente derrubando as cotações da soja pelo Brasil a fora. E, nesses últimos dias, o câmbio se retraiu um pouco do patamar dos R$ 2,70 para pouco mais de R$ 2,60 e acabou afetando as posições", explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Nesse mesmo período, as principais praças de comercialização no interior do Brasil apresentaram baixas de 3,77% a 8,40%. Em Cascavel, no Oeste do Paraná, o preço foi de R$ 58,00 a R$ 55,00; em Tangará da Serra, Mato Grosso, de R$ 54,00 para R$ 51,00 e em Não-Me-Toque, de R$ 59,50 para R$ 54,50 por saca.
Diante desse quadro atual e do fato de estarem melhores capitalizados, os produtores brasileiros têm evitado efetivar novos negócios e acreditam em melhores oportunidades de comercialização. Assim, já com uma capacidade ainda melhor apurada para comercializar, o sojicultor não vê uma necessidade grande de vender na boca da safra, em plena colheita, uma vez que já tem seus custos cobertos quase na totalidade.
Alguns fatores que poderiam trazer uma recuperação das cotações seriam novas informações sobre a safra brasileira, a qual sofre com severas adversidades climáticas nesse mês de janeiro, principalmente por conta de uma irregularidade do regime de chuvas em todo país. Ao mesmo tempo, há ainda a possibilidade de os prêmios atingirem níveis melhores nos portos, principalmente a partir do meio do ano.
"A política do produtor dos últimos dois, três anos de ir vendendo nos momentos em que o mercado registra picos de altas tem dado certo e eu acredito que ele não deveria mudá-la pois, se está ganhando, não tem que mudar sua prática", orienta o consultor.
Além dessa administração da comercialização e da recuperação esperada para as cotações em Chicago, há ainda como fator de estímulo para os preços no Brasil uma demada interna aquecida, principalmente do setor de rações e do biodiesel. Atualmente, há 7% de biodiesel no diesel brasileiro e a principal matéria-prima desse produto é o óleo de soja.
"Grande parte do setor do óleo de soja vai para o biodiesel, porque não temos outros produtos concorrentes que possam competir com o óleo de soja na produção de biodiesel. Então, uma boa demanda interna de óleo de soja para biodiesel vai reter uma parcela da soja que não vai para exportação. Teremos ainda uma demanda interna aquecida também para o setor de ração e, automaticamente, ficaremos limitados aos volumes de exportação", afirma Brandalizze.
Problemas com o clima seco
Com algumas regiões registrando mais de 20 dias sem uma gota de chuva sequer, as lavouras que já começaram a ser colhidas, as mais precoces, já apresentam produtividade bem abaixo do esperado, o que também limita uma aceleração no ritmo dos negócios, de acordo com o que explica o consultor.
Os volumes que estão sendo colhidos têm sido utilizados para que os produtores exerçam seus contratos já firmados - os quais apresentam, inclusive, níveis de preços bem acima do que têm sido praticados atualmente - e, dessa forma, não há um "excedente" de oferta que possa ser utilizado para a efetivação de novos negócios.
"É normal no final de janeiro e começo de fevereiro não ter muitos negócios. A safra ainda está no início, a produtividade das lavouras de soja precoces está muito baixa, não está sobrando excedente, ou seja, não há volume de soja disponível para ser negociada e, com isso, os negócios estão praticamente parados", relata Brandalizze. "Acredito que, no começo de fevereiro, teremos mais oferta e os negócios devem começar a fluir. Essa deve ser uma semana de poucos negócios, porque justamente não tem soja", completa.
Prêmios
Outro diferencial para os preços da soja praticados no Brasil nessa temporada deverá ser o prêmio pago nos portos. A partir de março, quando os embarques de soja brasileira para exportação começam a acontecer efetivamente, poderá ser registrado um avanço desses valores como forma de compensar os valores mais baixos em Chicago e dar estímulo às vendas por parte dos produtores.
"Os compradores sabem que os produtores brasileiros estão em uma situação melhor do que no passado e se o preço não chegar aos níveis que cubram os custos de produção e garantam uma margem, ele não vai vender porque pode esperar um pouco mais. Mas, o mercado mundial não pode parar, precisa de soja, de farelo, o mercado asiático todo precisa de óleo para o consumo humano e industrial, então terão que pagar um pouco mais no prêmio se Chicago não se recuperar nas próximas semanas para dar uma condição melhor ao produtor", afirma Vlamir Brandalizze.
Bolsa de Chicago
Para os preços na Bolsa de Chicago, o consultor da Brandalizze Consulting acredita que as oscilações deverão continuar acontecendo entre os US$ 10,00 e US$ 10,70 por bushel entre os principais vencimentos.
E esse cenário deverá se confirmar, principalmente, a medida em que a safra brasileira se confirmar menor do que as últimas estimativas oficiais. O último levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projetou a colheita brasileira em 95 milhões de toneladas e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em 95,5 milhões. Ambos os números, entretanto, são resultado de um levantamento realizado em um período em que as lavouras ainda não tinham sido tão castigadas pela falta de chuvas regulares e que não tinham seu potencial produtivo tão ameaçado.
Paralelamente, Brandalizze afirma ainda que o mercado, nos últimos dias de fortes realizações de lucros, foi pressionado pela saída de grandes fundos de investidores das commodities para "cobrir seus prejuízos e tapar buracos" nas baixas fortes registradas nas empresas petroleiras e afins. "Com o mercado mais acomodado, esses recursos deverão vir, novamente, para as commodities, dando fôlego para o mercado", acredita o consultor.
Veja como fecharam as cotações da soja nesta sexta-feira:
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