Soja: Com safra recorde, pressão sobre receita deve ser aliviada pelo câmbio
A produção de soja nacional e mundial na temporada 2014/15 deve ser recorde. Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, explicam que, além do aumento da área, estimativas sinalizam, pelo menos por enquanto, que o Brasil pode ter a segunda maior produtividade da sua história. Como a Argentina também pode ter safra recorde em 2015 e os Estados Unidos tiveram, em 2014, a maior colheita da sua história, os estoques mundiais de soja devem crescer, mesmo com o consumo também avançando.
Com isso, os preços em 2015, pelo menos em dólares, devem operar bem abaixo dos registrados em 2014. Segundo pesquisadores do Cepea, aos vendedores brasileiros, um lenitivo vem do câmbio, já que são fortes as sinalizações de desvalorização do Real em relação ao dólar. “O efeito do câmbio na contabilidade do produtor deve ser potencializado pelos fatos de que as vendas antecipadas estão menores que no mesmo período da safra passada e os custos já foram quase que totalmente travados”, detalha o professor da Esalq/USP Lucilio Alves, responsável pelas pesquisas sobre o mercado de grãos do Cepea.
Levantamentos do Cepea apontam negócios para exportação entre US$ 23,60 e US$ 24,80/sc 60 kg, FOB Porto de Paranaguá, para o primeiro semestre de 2015, um dos menores níveis desde 2010. Mantendo-se como referência as negociações FOB, embarque por Paranaguá, dados do Cepea indicam preços ao redor de US$ 400,00/t no semestre. Para os derivados, há tendência de queda mais intensa das cotações até abril de 2015. Para o óleo de soja, os preços médios passariam de US$ 796,00/t, em jan/15, para US$ 747,00/t, em abril, mantendo-se neste patamar nos meses seguintes. Para o farelo, as cotações passariam de US$ 455,00/t para embarque em janeiro por Paranaguá para US$ 385,00/t em abril. “Como se vê, somente taxa de câmbio em níveis iguais ou superiores à média de dezembro de 2014 poderia ajudar na receita dos produtores”, avalia Lucilio Alves.
Dados da equipe de custos agrícolas do Cepea apontam que, considerando-se a compra de todos os insumos a preços de novembro e a venda de toda a produção no mesmo mês, mantendo-se a tecnologia adotada na safra 2013/14, a rentabilidade média dos produtores sobre o custo total seria de 15%. Em novembro de 2013, era de 30%. Para esses cálculos, foram considerados os custos e receitas das regiões de Carazinho/RS, Londrina/PR, Cascavel/PR, Dourados/MS, Rio Verde/GO, Sorriso/MT, Primavera do Leste/MT, Uberaba/MG e Barreiras/BA.
No cenário internacional, dados do USDA mostram que a relação estoque/consumo mundial deve fechar a safra 2014/15 em cerca de 32%, o maior já registrado por aquela instituição, que tem informações desde 1964/65. As negociações na Bolsa de Chicago (CME Group) sinalizam preços na casa de US$ 10,00/bushel para os próximos três anos, pelo menos, o que significaria os menores valores desde a safra 2010/11. Os preços do óleo de soja também tenderiam a poucas mudanças nos próximos anos, operando entre US$ 0,32/lp e US$ 0,33/lp. Já os preços do farelo teriam quedas de 7,5% durante o ano de 2015, com o contrato Dez/15 da Bolsa de Chicago chegando a US$ 333,00/tonelada curta. Nesta linha, somente alguma ocorrência brusca de oferta (fator climático), principalmente, e/ou demanda poderiam alterar os níveis de preços da soja com maior intensidade.
No atual ano-safra, segundo a Conab, a soja ocupa 31,7 milhões de hectares, 4,9% a mais que na temporada passada, um recorde. Deste total, 27,6 milhões de hectares (+4,5%) estão no Centro-Sul e 4,1 milhões de hectares (+7,7%), no Norte/Nordeste. Ainda segundo dados da Conab divulgados em 10 de dezembro, devem ser colhidos em média 50,4 sacas de 60 kg por hectare, produtividade inferior apenas à da temporada 2010/11. Com isso, a produção aumentaria 11,2%, chegando a 95,8 milhões de toneladas em 2014/15. Destes, 84,1 milhões de toneladas (+10,5%) devem ser colhidas no Centro-Sul e 11,7 milhões de toneladas (+17%), no Norte/Nordeste.
Pesquisadores do Cepea explicam que, somando-se a produção, o estoque inicial e o pouco que é importado, o Brasil terá disponibilidade de 98,2 milhões de toneladas. Destes, 44,2 milhões de toneladas devem ser processadas internamente, 49,6 milhões exportadas ainda em grão e 4,3 milhões de toneladas ficariam para o estoque final.
O processamento interno e as exportações de soja em grão também devem ser históricos, assim como a produção e o consumo interno de farelo e de óleo de soja. No caso da exportação, adicionando-se o farelo e o óleo exportados, cerca de 2/3 da produção brasileira de soja deve ser enviada ao mercado externo.
Paralelamente, o escoamento da produção continua sendo um desafio, destacam os pesquisadores. De qualquer forma, considerando-se que os crescimentos mais expressivos devem ocorrer nas regiões Norte e Nordeste, há expectativa de que o escoamento do grão pelos portos daquelas regiões seja intensificado, desafogando Paranaguá e Santos.
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