No Valor: Mesmo sem um default, EUA devem perder rating AAA
“Neste ponto, estamos mais preocupados com o risco de um rebaixamento do que de um default”, disse Terry Belton, estrategista-chefe global de renda fixa do JP Morgan. Belton disse que a perda do rating AAA pelos EUA pode atingir os mercados, mas ainda assim seria “melhor do que deixar de efetuar um pagamento de juros”. Mesmo com o prazo para elevar o teto da dívida se esgotando, muitos investidores acreditam que Washington vai sacar um acordo de última hora para evitar um catastrófico default.
O Congresso americano tem até o dia 2 de agosto para elevar o teto da dívida nacional, atualmente em US$ 14,3 trilhões, ou os EUA correrão o risco de não ter dinheiro para honrar o serviço da dívida. Até agora, o presidente Barack Obama e os líderes republicanos no Congresso falharam em alcançar um acordo para elevar o limite da dívida e aprovar um grande pacote para reduzir o déficit público. Os políticos vêm condicionando a elevação do teto da dívida a cortes nos gastos.
Pelo menos uma agência de análise de risco já deixou claro que a menos que o acordo inclua pelo menos US$ 4 trilhões em cortes nos gastos ao longo da próxima década, o país vai perder seu rating máximo AAA. Neste momento, as propostas em discussão contemplam cortes ao redor de US$ 2 trilhões ou menos.
Belton, do JP Morgan, disse que seus clientes já começaram a fazer perguntas sobre como os mercados vão reagir caso os EUA venham a perder seu rating AAA. Um rebaixamento para AA significará custos de financiamento mais altos para o governo americano, disse. E como as taxas de juro dos títulos do governo funcionam como um piso para outras taxas de juro, isso significa que haverá uma elevação no custo dos empréstimos, financiamento de imóveis, crédito estudantil, crédito corporativo e etc. Belton estima que os custos de financiamento vão subir entre 0,60 a 0,70 ponto porcentual.
Isso pode não parecer muito, mas a taxa de financiamento imobiliário, que vem oscilando ao redor de 4,5% nas últimas semanas, pode subir esse tanto para mais de 5,1%. Para o governo federal, isso significará um desembolso extra anual de US$ 100 bilhões em pagamento de juros para os portadores dos Treasuries, como a China. “Esse é um número gigantesco”, disse Belton. Esses US$ 100 bilhões por ano poderiam ser gastos em outros setores, da educação à infraestrutura.
IMPACTO SERÁ MAIOR NAS BOLSAS
E um aumento nas taxas de juro pode se tornar um freio em outras partes da economia, segundo especialistas. Os ratings de governos estaduais e de agências de seguros também podem ser rebaixados como consequência da revisão da nota soberana dos EUA. A confiança das empresas pode voltar a despencar, mantendo o desemprego em níveis elevados por um período prolongado.
Mas nem todos os investidores estão insatisfeitos com a perspectiva de um rebaixamento do crédito dos EUA. Don Quigley, que administra um fundo de US$ 1,5 bilhão da Artio Total Return Bond, acredita que tal evento pode proporcionar uma oportunidade de compra. Ele acredita que um rebaixamento levaria o yield (taxa de retorno) dos Treasuries de 10 anos a subir para 3,15%, de ao redor de 3%. Se a economia afundar mais em parte por causa das taxas de juro mais altas, provavelmente os investidores voltariam a comprar os bônus governamentais, disse Quigley.
Isso é o que os investidores fizeram durante os últimos vários anos, durante as crises financeiras e nas recessões e novamente nos últimos meses quando a recuperação econômica voltou a perder força. Os Treasuries vão manter sua atratividade, em parte, porque existem poucas alternativas para grandes compradores estrangeiros à procura de um mercado grande o suficiente para lidar com investimentos gigantescos. “O mercado alemão não é grande o suficiente e o Japão tem seus próprios problemas”, disse Quigley.
Um rebaixamento do rating de crédito americano teria um impacto maior sobre as ações do que os bônus. Um estudo de Janney Montgomery Scott analisou as mudanças de rating soberanos ao longo da última década. Depois de a Espanha ter sido rebaixada em 2009, o mercado de ações espanhol caiu 8% em três meses. Um rebaixamento do rating do Japão em 2011 derrubou o mercado de ações local em 3,4% três meses depois. O estudo, divulgado em abril, sugere que o índice S&P-500 pode cair 6% após um corte no rating dos EUA, apagando o ganho acumulado do ano.
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