Dólar sobe e bate novo recorde sob influência do exterior e do pacote fiscal
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou a segunda-feira em alta superior a 1% ante o real, no quinto avanço consecutivo, estabelecendo uma nova cotação recorde, com o mercado reagindo às ameaças do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, contra os Brics e ainda sensível ao pacote de medidas fiscais anunciado na semana passada no Brasil.
O dólar à vista fechou o dia com alta de 1,07%, cotado a 6,0652 reais -- maior valor nominal de fechamento da história. No ano a divisa dos EUA acumula elevação de 25%.
Às 17h31, o dólar para janeiro -- o mais líquido no Brasil -- subia 1,42%, aos 6,0865 reais.
No sábado Trump exigiu que os países membros do Brics -- entre eles, o Brasil -- se comprometam a não lançar uma nova moeda ou apoiar outra divisa que substitua o dólar, sob pena de enfrentarem tarifas de 100% sobre seus produtos.
"Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano, caso contrário, eles sofrerão 100% de tarifas e deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana", escreveu Trump em sua plataforma de mídia social, a Truth Social.
Em reação, o dólar subia ante todas as divisas dos Brics nesta segunda-feira, além de avançar em relação às demais moedas em um dia marcado pela queda do euro.
Internamente, o pacote fiscal lançado pelo governo na semana passada seguia como fonte de pressão de alta para o dólar. Se por um lado o corte de 71,9 bilhões de reais em despesas em dois anos foi bem recebido, por outro a isenção de Imposto de Renda para quem ganha acima de 5 mil reais por mês seguia sendo criticada.
“Beirou o fisco a forma como o pacote foi trazido. O governo trouxe o aviso esperado, com cortes, mas veio com a questão da isenção do IR”, pontuou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital. “Foi muito ruim. O mercado reagiu muito fortemente a isso e o câmbio desancorou.”
Desde o lançamento do pacote, apesar das tentativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de reduzir a pressão, defendendo as medidas anunciadas, o dólar segue em trajetória de alta.
Nesta segunda-feira, após marcar a cotação mínima de 6,0052 reais (+0,07%) às 9h15, o dólar à vista atingiu a máxima de 6,0920 reais (+1,51%) às 13h05.
Em análise do cenário brasileiro, os estrategistas Thierry Wizman e Gareth Berry, da gestora global Macquarie, afirmaram que embora o Banco Central do Brasil siga “agressivo” nos juros diante das preocupações com a política fiscal frouxa, os aumentos da Selic “não serão suficientes para dissuadir novas minicrises”.
“Isso ocorrerá enquanto os operadores não puderem ter fé na estabilidade da relação dívida/PIB do Brasil”, afirmaram os estrategistas, acrescentando que eles esperam agora um dólar em 6,30 reais em meados de 2025.
Apesar do cenário de forte pressão para o dólar desde a semana passada, o Banco Central seguiu ausente do mercado.
Durante evento pela manhã em São Paulo, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, reiterou que a autarquia só atua no câmbio em caso de disfuncionalidades.
"Efetivamente, a gente vai continuar fazendo atuações só por questões de disfuncionalidades, como essa de você ter uma sazonalidade de final de ano de dividendos que vão para fora e coisas desse tipo", afirmou.
Ele disse ainda não esperar mudanças na política cambial do BC com a chegada de Nilton David, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir a diretoria de Política Monetária a partir de janeiro, quando Galípolo tomará posse como presidente da autarquia.
No exterior, às 17h25, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,22%, a 106,270.
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