Taxas futuras de juros disparam no Brasil com receios sobre política fiscal
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs passaram nesta quinta-feira por mais uma sessão de forte alta, superior a 20 pontos-base em vários vencimentos, com os prêmios subindo na curva a termo em meio aos receios de que o governo Lula não anuncie o contingenciamento de despesas necessário para atingir a meta fiscal de 2024, em um dia marcado ainda pelos ganhos firmes do dólar ante o real.
O avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior era outro fator de sustentação para a curva brasileira, em especial na segunda metade do dia.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,68%, ante 10,606% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,405%, ante 11,182% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,66%, ante 11,441%.
Em alguns contratos mais longos as taxas voltaram a superar a barreira de 12%: a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,06%, ante 11,899%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,08%, ante 11,921%.
A aproximação do dia 22 de julho estressava os mercados no Brasil nesta quinta-feira. Na data, o governo apresentará seu Relatório Bimestral de Receitas e Despesas com a definição sobre quanto será preciso contingenciar no Orçamento para cumprir a meta de resultado primário zero deste ano.
Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que o mercado teme que o governo anuncie um contingenciamento abaixo do necessário para cumprir a meta do arcabouço fiscal -- cifra estimada por especialistas em pelo menos 10 bilhões de reais, com alguns cálculos apontando para ajustes maiores.
Além do contingenciamento, o mercado aguarda os detalhes sobre como se darão os cortes de 25,9 bilhões de reais em despesas do Orçamento para 2025, anunciados pelo governo há algumas semanas. Como parte destes cortes pode recair já sobre as contas de 2024, algum detalhamento pode surgir no dia 22.
“Lula se manifestou mais de uma vez contra eventual redução de gastos, dizendo inclusive que o ministro (da Fazenda, Fernando Haddad) tem que convencê-lo dos cortes. Diante desta incerteza, há um movimento de aversão a risco muito forte, o que faz o dólar subir e a curva de juros acompanhar”, comentou Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.
A Junta de Execução Orçamentária, que inclui Haddad e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, estava reunida na tarde desta quinta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mercado, não se descartava a possibilidade de que algo concreto pudesse ser anunciado após as discussões.
“O mercado está muito sensível a qualquer notícia e à mínima suspeita de que o governo possa não cumprir o arcabouço fiscal, o que tem estressado os ativos”, comentou João Ferreira, sócio da One Investimentos.
Por enquanto, sem novidades concretas, ainda reverberavam nas mesas as declarações mais recentes de Lula sobre o fiscal, na terça-feira, quando afirmou que o governo não é obrigado a cumprir a meta “se você tiver coisas mais importantes para fazer”.
Além da pressão interna, as taxas dos DIs foram sustentadas pelo avanço dos yields dos Treasuries, em meio ao aumento recente das apostas de que o ex-presidente Donald Trump vencerá a corrida para a Casa Branca.
No exterior, às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 5 pontos-base, a 4,198%.
Neste cenário, perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 81% de chances de manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano no fim deste mês e 19% de possibilidade de alta de 25 pontos-base. Na quarta-feira os percentuais eram de 88% e 11%, respectivamente.
Durante a tarde, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda anunciou que manteve em 2,5% sua projeção para o crescimento econômico do Brasil em 2024, piorando a expectativa para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 de 2,8% para 2,6%.
O ministério também apontou deterioração na visão do governo para a inflação, com a projeção para o IPCA indo a 3,9% para 2024, ante previsão de 3,7% feita em maio. O índice para 2025 foi ajustado de 3,2% para 3,3%.
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