Ibovespa recua com ações sensíveis a economia em meio a receios fiscais
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa recuava nesta sexta-feira, no último pregão do semestre, após marcar máxima em um mês na véspera, com ações sensíveis à economia doméstica sofrendo diante de nova alta na curva de juros por preocupações com o cenário fiscal.
Por volta de 11h15, o Ibovespa recuava 0,75%, a 123.375,67 pontos, mas ainda caminhando para um resultado positivo na semana, com um ganho de 1,68% acumulado até o momento.
Nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o patamar atual da taxa Selic, a 10,50% ao ano, afirmando que o nível dos juros é "irreal" diante de uma inflação que está "controlada".
Também reiterou que os recentes ganhos do dólar contra o real são consequência de especulação com derivativos.
A pauta doméstica, por sua vez, mostrou que o setor público consolidado registrou um déficit primário de 63,895 bilhões de reais, pior do que as expectativas no mercado e acima do saldo negativo um ano antes.
De acordo com um gestor ouvido pela Reuters, o que está realmente preocupando o investidor no médio e longo prazos, principalmente os locais, é o quadro fiscal, quais os próximos passos do governo em relação a medidas fiscais.
"E, obviamente, as palavras do presidente têm um peso grande em relação ao que pode acontecer... então, o mercado se antecipa a isso e se vê eventualmente estresse no dólar, principalmente, mas também na curva de juros, e depois na bolsa."
As preocupações com o quadro doméstico ofuscavam o potencial efeito positivo do exterior, onde dados mostrando desaceleração na inflação ao consumidor dos Estados Unidos apoiavam ganhos em Wall Street e variações modestas nos Treasuries.
O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) ficou estável em maio, após aumento de 0,3% em abril, em linha com o esperado, segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA. Em 12 meses, passou de 2,7% para 2,6%.
De acordo com o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, a leitura do PCE parece ser positiva sob o ponto de vista do combate à inflação, ainda que a queda dos gastos pessoais denote uma desaceleração da economia.
"Ainda é prematuro para afirmar em cortes de juros, mas o dado de hoje deixa o cenário aberto para que tal possibilidade possa se materializar na reunião de setembro, caso vejamos mais evolução positiva na inflação até lá", acrescentou.
DESTAQUES
- ITAÚ UNIBANCO PN recuava 1,11% e BRADESCO PN cedia 0,72%, em sessão negativa para os bancos do Ibovespa, dado o clima mais negativo com o cenário doméstico. BTG PACTUAL UNIT mostrava decréscimo de 1,86%, tendo ainda no radar o anúncio da aquisição do M.Y. Safra Bank, instituição financeira fundada nos Estados Unidos.
- MRV ON caía 4,89%, conforme setores sensíveis à economia voltavam a sucumbir ao avanço das taxas futuras de juros em meio a preocupações com o quadro fiscal do país e novas declarações do presidente Lula. O índice do setor de imobiliário na B3 cedia 1,76%, enquanto o de consumo perdia 2,21%. MAGAZINE LUIZA ON recuava 3,93%.
- VALE ON avançava 0,83%, endossada pela alta dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian subiu 0,18%. No noticiário sobre a mineradora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou a companhia para que pague reparação por tragédias de Mariana e Brumadinho, enquanto a companhia anunciou que concluiu a venda de fatia na PT Vale Indonesia.
- PETROBRAS PN subia 0,29%, em dia de variações modestas dos preços do petróleo no exterior. A companhia também informou que seu conselho de administração elegeu nesta sexta-feira três novos integrantes da diretoria apontada pela nova presidente-executiva da estatal, Magda Chambriard.
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