Ibovespa fecha em queda com ruídos locais minando efeito externo
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, renovando mínimas no ano, em meio a ruídos envolvendo o ministro da Fazenda e receios com o cenário fiscal do país, que prevaleceram sobre a repercussão favorável a dados de inflação dos Estados Unidos.
O Federal Reserve manteve os juros entre 5,25% e 5,50%, como esperado, enquanto as projeções da autoridade monetária passaram a embutir apenas um corte de 0,25 ponto percentual este ano, movimento também antecipado por muitos no mercado.
Índice de referência no mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,4%, a 119.936,02 pontos, após chegar a 119.544,21 pontos no pior momento e avançar a 122.482,51 pontos na máxima do dia.
O volume financeiro somou 58,49 bilhões de reais, em pregão também influenciado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa e do índice futuro.
A estabilidade no índice de preços ao consumidor dos EUA em maio, divulgada às 09h30 (horário de Brasília), apoiou a abertura positiva na bolsa paulista, mas o humor azedou em meio a especulações envolvendo o ministro Fernando Haddad.
Na véspera, o Senado devolveu a MP do PIS/Cofins, editada e apresentada pela Fazenda na semana passada como alternativa para compensar a desoneração da folha de pagamento de vários setores, mas que provocou uma série de reações negativas.
Alguns colunistas publicaram que o desfecho envolvendo a MP acelerou ataques de dentro do próprio governo a Haddad, com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizando o ministro ao apoiar a atitude do Senado.
"O mercado brasileiro ficou mais focado nessa nova rodada de ruídos em torno do ministro da Fazenda, e isso atrapalhou bastante o desempenho (na bolsa)", afirmou o chefe da EQI Research, Luís Moran.
"Em outras condições, a gente deveria ter ido bem."
De acordo com o gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, em um contexto de equilíbrio fiscal fragilizado, pesou o fato de os ruídos envolverem Haddad, "que até agora tem sido fiador da credibilidade do governo junto ao mercado".
À tarde, o Ibovespa renovou mínimas após o Fed sinalizar apenas um corte de juros em 2024 -- na última reunião com divulgação de projeções, em março, o "dot plot" mostrava três cortes. Para 2025, são esperados quatro cortes de 0,25 ponto.
No comunicado que acompanhou o anúncio da decisão de manter a taxa, contudo, o banco central norte-americano reconheceu "progresso modesto" em direção à sua meta de inflação de 2% -- uma melhoria em relação ao comunicado do encontro de maio.
Em Wall Street, o S&P 500, referência do mercado acionário norte-americano, renovou máxima histórica, dada a combinação de atividade e evolução benigna da inflação, enquanto o Fed ainda trabalha com um cenário de corte.
O rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos EUA marcava 4,3258% no final da tarde, de 4,402% na véspera.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caiu 2,41%, apesar do avanço dos preços do petróleo no exterior, uma vez que prevaleciam preocupações com o cenário doméstico. A CEO da estatal, Magda Chambriard, também afirmou que poderá anunciar mudanças na diretoria executiva até o começo da próxima semana.
- VALE ON recuou 1,38%, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China. A mineradora confirmou nesta quarta-feira que apresentou junto com as mineradoras BHP e Samarco uma proposta de 140 bilhões de reais para acordo de reparação pelo rompimento da barragem de Mariana (MG) em 2015.
- ITAÚ UNIBANCO PN registrou declínio de 0,16% e BRADESCO PN fechou em baixa de 1,86%, sucumbindo à piora do sentimento no mercado brasileiro.
- MAGAZINE LUIZA ON perdeu 7,96%, pressionada pelo movimento na curva de DI, que minou também outros setores sensíveis a juros em meio aos ruídos políticos e preocupações com cenário fiscal no país. O índice do setor de consumo encerrou com um decréscimo de 1,53%.
- EMBRAER ON avançou 2,99%, entre as poucas altas do Ibovespa na sessão, conforme segue embalada por expectativas favoráveis sobre encomendas de aviões da brasileira.
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