Membros do BCE alertam sobre desafio da inflação
Por Balazs Koranyi
FRANKFURT (Reuters) - Os membros do Banco Central Europeu (BCE) advertiram nesta sexta-feira que a etapa final do esforço para reduzir a inflação para 2% poderia ser especialmente difícil, mas disseram que estão confiantes de que a política estava funcionando como pretendido, enquanto alguns até viam espaço para flexibilizá-la ainda mais em 2024.
Na quinta-feira, o BCE reduziu as taxas de juros de seus recordes de alta, em um movimento há muito tempo previsto, mas não se comprometeu a flexibilizar ainda mais a política depois que os dados de inflação e de crescimento salarial das últimas semanas ficaram acima de suas expectativas, indicando que será necessário ainda mais tempo para atingir sua meta de inflação.
A maior advertência talvez tenha vindo da Alemanha, a maior economia da zona do euro, que jogou água fria sobre as sugestões de que um grande salto salarial neste ano seria um fato isolado.
"Espera-se que os salários negociados aumentem de forma particularmente acentuada este ano e continuem a apresentar um forte crescimento depois disso", disse o Bundesbank. "A inflação está se mostrando teimosa, especialmente no caso dos serviços."
Os aumentos salariais aumentam a renda disponível e, portanto, pressionam os preços para cima, principalmente em setores sensíveis aos salários, como o de serviços.
O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, disse que o corte da taxa de juros na quinta-feira não foi prematuro, dado o progresso da inflação, mas ele também disse que o BCE não estaria no piloto automático para novos cortes nas taxas.
Robert Holzmann, da Áustria, o único integrante do Conselho do BCE a se opor ao corte de quinta-feira, disse que a inflação está mais rígida do que o previsto pela autoridade monetária europeia e que, portanto, o banco precisaria agir com mais cautela no futuro.
MESES COMPLICADOS
O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, disse que a inflação ainda pode aumentar em relação aos níveis atuais antes de cair de volta para 2% no final do próximo ano, tornando os próximos meses difíceis.
"Haverá meses em que a inflação poderá até mesmo se acelerar ligeiramente, mas estamos convencidos de que no próximo ano ela convergirá para a meta", disse ele à estação de rádio espanhola Onda Cero.
"Os próximos meses não serão fáceis", disse.
Embora a maioria dos membros do Conselho do BCE tenha evitado fazer previsões de política econômica, Gediminas Simkus, da Lituânia, sugeriu que poderia haver espaço para flexibilizar ainda mais a política monetária da zona do euro neste ano.
Quando questionado sobre a possibilidade de mais flexibilização monetária neste ano, Simkus disse: "Se a economia se desenvolver de acordo com a previsão, acho que sim".
Os mercados preveem entre um e dois cortes este ano e um total de quatro cortes entre agora e o final do próximo ano na taxa de depósito do BCE, atualmente em 3,75%.
Os economistas argumentam que qualquer taxa igual ou superior a 3% restringe o crescimento econômico, de modo que a política do BCE continuará a conter a economia até o próximo ano.
O mais próximo que a presidente do BCE, Christine Lagarde, chegou de prever futuros movimentos na quinta-feira foi quando ela disse que havia uma "forte probabilidade" de que o corte de quinta-feira não fosse único, mas sim o início de um processo de redução.
No entanto, membros da autoridade monetária que falaram com a Reuters na quinta-feira disseram que qualquer medida em julho é altamente improvável e que a próxima janela possível para cortar as taxas seria em setembro, desde que os dados anteriores a essa reunião apoiassem tal medida.
(Reportagem adicional de Andrius Sytas)
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