Israel começa a esvaziar parte de Rafah, Hamas denuncia "escalada perigosa"
Por Mohammed Salem e Nidal al-Mughrabi
RAFAH, Faixa de Gaza (Reuters) - Israel instruiu os palestinos a se retirarem de partes de Rafah na segunda-feira, no que parecia ser uma preparação para um ataque há muito ameaçado contra o Hamas na cidade do sul de Gaza, onde mais de um milhão de pessoas desalojadas pela guerra têm se abrigado.
Orientadas por mensagens de texto em árabe, telefonemas e panfletos para se mudarem para o que os militares israelenses chamaram de "zona humanitária expandida", a 20 km de distância, algumas famílias palestinas saíram sob a fria chuva de primavera.
Pouco depois do meio-dia em Gaza, várias explosões foram ouvidas no leste de Rafah, segundo os moradores e a mídia do Hamas, com um ataque aéreo que teve como alvo algumas casas onde surgiram linhas de fumaça e poeira.
Uma autoridade de alto escalão do Hamas, o grupo militante palestino que governa Gaza, disse que a ordem de retirada era uma "escalada perigosa" que teria consequências.
"A administração dos EUA, juntamente com a ocupação, é responsável por esse terrorismo", afirmou Sami Abu Zuhri à Reuters, referindo-se à aliança de Israel com Washington.
Os militares de Israel disseram que começaram a incentivar os moradores de Rafah a deixarem o local em uma operação de "escopo limitado". Não deram motivos específicos nem disseram se uma ação ofensiva poderia se seguir.
Alguns palestinos empilharam crianças e pertences em carroças de burro para iniciar a realocação, enquanto outros saíram em caminhonetes ou a pé pelas ruas transformadas em lama e poças pelas chuvas.
"Está chovendo muito e não sabemos para onde ir. Tenho me preocupado que esse dia possa chegar, agora tenho que ver para onde posso levar minha família", disse um refugiado, Abu Raed, à Reuters por meio de um aplicativo de bate-papo.
Testemunhas disseram que as áreas dentro e ao redor de Rafah, para as quais Israel quer transferir as pessoas, já estão lotadas e quase não há espaço para adicionar mais barracas.
"O maior genocídio, a maior catástrofe ocorrerá em Rafah. Peço a todo o mundo árabe que interfira para que haja um cessar-fogo - que interfiram e nos salvem da situação em que nos encontramos", disse Aminah Adwan, uma palestina deslocada.
Há sete meses em sua guerra contra o Hamas, Israel vem ameaçando lançar incursões em Rafah, que, segundo o país, abriga milhares de combatentes do Hamas e, possivelmente, dezenas de reféns. A vitória é impossível sem a tomada de Rafah, diz o país.
A perspectiva de uma operação com alto número de vítimas preocupa as potências ocidentais e o vizinho Egito, que está tentando mediar uma nova rodada de negociações de trégua entre Israel e o Hamas, na qual o grupo islâmico palestino poderia libertar alguns reféns.
Os negociadores egípcios estão intensificando as conversações para conter a atual escalada entre Israel e o Hamas, segundo uma fonte anônima de "alto nível" citada pela TV Al Qahera, afiliada ao Estado egípcio, na segunda-feira.
A fonte declarou que as negociações de cessar-fogo chegaram a um impasse depois que o Hamas atacou a passagem de Kerem Shalom para Gaza no domingo, matando quatro soldados israelenses.
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