Dólar supera R$5,20 com tensão entre governo e BC, receios fiscais e cautela externa
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava acentuadamente e operava acima de 5,20 reais nesta segunda-feira, com novas tensões entre governo e Banco Central e a possível intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ampliar a isenção do Imposto de Renda afastando investidores do risco, em meio ainda a temores sobre a trajetória de aperto monetário do Federal Reserve.
Por volta de 14h42 (de Brasília), a moeda norte-americana à vista subia 1,28%, a 5,2108 reais na venda, rondando os maiores níveis do dia.
Segundo Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora, a valorização do dólar vinha em linha com o fortalecimento da divisa no exterior frente à maioria de seus pares, diante da redução de esperanças de que o banco central dos EUA poderia encerrar seu atual ciclo de aperto monetário com juros abaixo de 5%.
No entanto, disse Rugik, investidores também se mostraram desconfortáveis com a aparente tensão entre o governo e o Banco Central, depois que Lula classificou nesta segunda-feira de "vergonha" a explicação do Comitê de Política Monetária (Copom) para o atual patamar da taxa de juros e pediu que a classe empresarial e a sociedade reclamem do nível da taxa Selic.
Lula e membros de sua administração têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC. Uma Selic alta beneficia o real ao torná-lo atraente para estratégias de investimento que lucram com diferenciais de juros entre economias, mas tende a restringir a atividade econômica, o que joga contra a agenda desenvolvimentista do governo.
A pauta fiscal também colaborava para a cautela no mercado doméstico nesta segunda-feira, depois de duas fontes terem dito no sábado que o governo Lula estuda aumentar a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos este ano.
Uma isenção mais ampla representaria uma renúncia de receita muito maior em um momento em que a equipe econômica busca reduzir o forte déficit primário esperado para 2023 e sinalizar disciplina fiscal.
"Tem uma preocupação efetivamente sobre como o governo vai lidar com essa isenção do IR... Não se tem ainda ideia de onde vai sair esse dinheiro, até porque vai ter que ter uma contrapartida para conseguir aprovar isso conforme a lei de responsabilidade fiscal e jogar isso em cima do Orçamento", explicou Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
(Por Luana Maria Benedito)
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