Powell diz que Fed não cortará juros este ano, mas mercados entendem de outra maneira
Por Ann Saphir e Lindsay Dunsmuir
(Reuters) - O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou uma mensagem clara na quarta-feira: por mais "gratificante" que seja a inflação ter começado a desacelerar, o banco central norte-americano não está perto de reverter o curso ou declarar vitória.
"Vai levar algum tempo" para que a desinflação se espalhe pela economia, disse Powell em entrevista coletiva após o último aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros pelo Fed. Ele disse que espera mais algumas altas de juros e, "dada a nossa perspectiva, simplesmente não vejo cortes este ano".
Os investidores o ignoraram, mantendo as apostas em apenas mais um aumento de juros e apostando ainda mais em cortes até o final do ano.
Não é óbvio qual visão se mostrará correta: nem o Fed nem os mercados têm um grande histórico de previsões desde que a atual rodada de altas de juros do banco central começou em março passado.
Os mercados tiveram repetidamente que descartar as apostas de uma mudança rápido, afastando essas expectativas ainda mais à medida que o banco central avançava com o aperto de política monetária mais agressivo em 40 anos.
De sua parte, as autoridades do Fed continuaram aumentando a cada trimestre do ano passado suas próprias estimativas do quanto elevariam os juros, já que a inflação se mostrou mais forte e rígida do que o previsto. Nem uma vez eles sinalizaram que os juros seriam cortados este ano.
Como a atual desconexão deve ser resolvida depende de a inflação cair mais rápido do que o banco central espera ou se os mercados de trabalho se moderarem mais do que o esperado.
E enquanto houver essa incerteza, é do interesse de Powell tentar evitar que os mercados financeiros apostem pesadamente em cortes de juros que afrouxariam as condições financeiras, possivelmente minando o progresso duramente conquistado do Fed contra a inflação.
Mesmo o simples reconhecimento da possibilidade de um corte de juros mais tarde no ano pode desfazer parte do trabalho do Fed, forçando mais aperto pelo banco central e tornando ainda mais difícil evitar uma recessão. Por isso Powell afirma repetidamente sobre não cortar os juros e, de fato, precisar levá-los pelo menos acima de 5%, como as autoridades previram em dezembro.
"Nosso julgamento é de que ainda não estamos em uma postura de política monetária suficientemente restritiva, e é por isso que dizemos que esperamos que aumentos sejam apropriados", disse Powell.
Mas até agora, disse Megan Greene, economista-chefe global do Kroll Institute, "os mercados não estão comprando o que o Fed está vendendo".
A taxa de juros referência do banco central é agora de 4,50% a 4,75%. Operadores de juros futuros estão precificando mais um aumento de 25 pontos-base em março, antes que o Fed faça uma pausa para avaliar como seus movimentos estão desacelerando a economia.
Eles esperam que os cortes de juros comecem em setembro, uma visão que Powell disse na quarta-feira ser impulsionada pela expectativa de inflação em rápida desaceleração.
Os dados de inflação estão tendendo da maneira certa nos últimos três meses. Pela medida preferida do Fed, a inflação está agora em uma taxa anual de 5%, ainda mais que o dobro da meta de 2% do banco central, mas abaixo da máxima de 7% no verão passado.
As pressões salariais também estão diminuindo, o que pode permitir que o Fed reduza os juros neste ano, enquanto tenta engendrar um "pouso suave" elusivo, em que a inflação cai sem prejudicar gravemente o crescimento econômico e o emprego.
O Fed, disse Powell na quarta-feira, não pode arriscar fazer muito pouco. "Não temos incentivo nem desejo de apertar demais, mas se sentirmos que fomos longe demais... se a inflação estiver caindo mais rápido do que esperamos, então temos ferramentas que funcionariam nisso", disse ele.
(Reportagem de Ann Saphir e Lindsay Dunsmuir)
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