Ativos brasileiros devem enfrentar nova volatilidade após atos em Brasília
Por Carolina Pulice e Tatiana Bautzer
(Reuters) - Os ativos brasileiros devem enfrentar uma nova volatilidade nesta segunda-feira, depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram a sede dos Três Poderes em Brasília, ecoando a invasão do Capitólio por apoiadores de Donald Trump em 2021, disseram analistas.
As imagens das invasões coordenadas na tarde deste domingo sem ter, por horas, uma efetiva resposta das forças de segurança deixou o edifício do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros locais gravemente danificados internamente, chocando os espectadores, inclusive os do setor financeiro.
Ricardo Lacerda, fundador e presidente-executivo do banco de investimentos brasileiro BR Partners, disse esperar que os mercados reajam com volatilidade no curto prazo, especialmente na segunda-feira, devido ao maior risco institucional.
"O fim da polarização parece estar longe e pode esgotar as energias do novo governo", disse Lacerda.
O real e o índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, que superaram o desempenho de outros mercados emergentes na América Latina durante a maior parte de 2022, já haviam sido impactados pela turbulência nos primeiros dias depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido a preocupações com a alta dos gastos do governo.
Mas tanto real quanto o índice Bovespa registraram um desempenho melhor rumo à sexta-feira, depois que Lula prometeu que o país poderá crescer mantendo as finanças do governo sob controle.
Ainda assim, alguns analistas disseram que qualquer reação negativa do mercado pode durar pouco. "Dado que a situação parece estar sob controle em Brasília, espero que qualquer impacto na classe de ativos seja de curta duração", disse Alejo Czerwonko, diretor de tecnologia para Mercados Emergentes das Américas do UBS Global Wealth Management.
Carlos Eduardo Furlanetti, professor da FIA Business School, prevê que uma forte reação das instituições, incluindo do Congresso Nacional e do STF, apoiando o presidente possa até ajudar politicamente o governo Lula no médio prazo.
Bruno Komura, analista da gestora de recursos Ouro Preto, espera uma reação inicial ruim nos mercados, com juros subindo e câmbio e bolsa em queda. Mas Komura prevê recuperação dos mercados até o final da semana, considerando uma forte reação institucional contra os invasores.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, aponta que os bolsonaristas foram ajudados pela fraca aplicação da lei no Distrito Federal, algo que não aconteceu no Capitólio e que aumenta a percepção de risco político no país. Mas isso pode ser revertido se as instituições mostrarem união contra os invasores de Brasília, ela acrescentou.
Enrico Cozzolino, sócio da gestora de ativos Levante Investimentos, disse que os atos mostram uma forte divisão na sociedade. "Temos visto a falta de consenso desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff."
Enquanto grandes setores do setor bancário nacional tendem a apoiar Bolsonaro devido às suas credenciais de livre mercado em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, a principal associação industrial do setor condenou veementemente a violência deste domingo. Isaac Sidney, chefe da entidade representativa dos bancos brasileiros Febraban, pediu uma "reação firme" contra as ações.
(Reportagem de Carolina Pulice na Cidade do México, Tatiana Bautzer em São Paulo e Rodrigo Campos em Nova York)
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