Dólar dispara 4% com Mantega na transição agravando medo de descontrole fiscal sob Lula
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar disparou mais de 4% nesta quinta-feira, para perto de 5,40 reais, com arrancada no final da sessão após anúncio de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega integrará a equipe de transição do governo eleito agravar o humor de um mercado já pessimista diante de o que investidores enxergam como riscos de descontrole fiscal sob o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A moeda norte-americana à vista fechou em alta de 4,09%, a 5,3968 reais na venda. Foi a maior disparada percentual diária desde o salto de 4,86% registrado em 16 de março de 2020, em meio ao pânico dos mercados no início da pandemia de Covid-19, e o patamar de encerramento mais alto desde a cotação de 5,54976 reais vista em 22 de julho passado.
A moeda já vinha de fortes altas desde o início do pregão, mas acelerou o passo após o anúncio do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin de que Mantega e outros nomes associados ao PT farão parte da equipe de transição.
Mantega chefiou o ministério da Fazenda durante governos anteriores do PT e não tem credibilidade aos olhos de boa parte dos mercados financeiros, principalmente depois da adoção de medidas econômicas heterodoxas e expansionistas durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
"Na parte da tarde houve as declarações de Lula colocando o fiscal aparentemente fora da lista de prioridades e depois veio anúncio do Mantega na equipe de transição, que o mercado enxerga de forma muito ruim", disse à Reuters Paulo Cunha, especialista em mercado financeiro e fundador da iHUB Investimentos, sobre o tombo dos ativos brasileiros nesta quinta. "Foi uma conjunção de notícias muito ruins."
Mais cedo, Lula afirmou que há gastos públicos que têm que ser considerados como investimentos durante discurso em Brasília, no qual voltou a criticar o mecanismo de teto de gastos e disse que ele deve ser discutido com a mesma seriedade que a questão social do país.
A fala veio em meio a discussões sobre a PEC da Transição, Proposta de Emenda à Constituição que está sendo debatida pelo futuro governo para garantir financiamento fora do teto de gastos para promessas de campanha, como a manutenção do principal programa social em 600 reais, que voltará a se chamar Bolsa Família, e o aumento real do salário mínimo.
"Dado que o IPCA veio acima do esperado nesta manhã, há uma preocupação de que uma política fiscal expansionista em 2023 contribua para uma taxa de inflação mais persistente e mais alta no próximo ano, o que forçaria o Banco Central a manter uma rigidez da política monetária por mais tempo e prejudicaria ainda mais o crescimento econômico, o que poderia afastar investidores", disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou a subir 0,59% em outubro, informou o IBGE nesta quinta-feira, acima do esperado e interrompendo sequência de três meses de deflação.
"Nem mesmo a divulgação do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos abaixo do esperado --que derrubou o valor do dólar de forma abrangente contra outras moedas-- serviu para aparar" as perdas do real neste pregão, acrescentou Mattos.
O índice que compara a divisa norte-americana a seis pares fortes tombava 1,8% por volta de 16h30 (de Brasília), em meio a esperanças de que o Federal Reserve possa desacelerar seu ritmo de aperto monetário diante de sinais de arrefecimento da inflação.
O índice de preços ao consumidor norte-americano subiu 0,4% no mês passado, após avançar pela mesma margem em setembro, informou o Departamento do Trabalho dos EUA nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam que o índice avançaria 0,6%.
(Edição de Isabel Versiani)
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