Dólar dispara mais de 2% e supera R$5,17 com temores sobre a pasta econômica de Lula
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar saltou mais de 2% frente ao real nesta segunda-feira, em meio a temores sobre a configuração da futura equipe econômica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujos planos de gastos extra-teto para 2023 têm preocupado investidores.
A moeda norte-americana à vista fechou em alta de 2,39%, a 5,1733 reais na venda, maior valorização percentual diária desde 24 de outubro (+2,94%) e patamar de encerramento mais alto desde 28 de outubro (5,3023), pregão que antecedeu o segundo turno das eleições.
O real teve, de longe, o pior desempenho entra uma cesta de divisas globais nesta sessão.
Investidores se mostravam preocupados com a falta de indicações claras sobre quem será o ministro da Fazenda de Lula. Há semanas os mercados vêm se atendo a esperanças de que o petista poderia indicar um nome amigável aos mercados para o cargo, como Henrique Meirelles, mas o ex-presidente do Banco Central já disse várias vezes que não recebeu convites para integrar o governo eleito, não toma decisões com base em hipóteses e tem responsabilidades no setor privado.
À medida que o próximo chefe da pasta econômica brasileira segue indefinido, crescem os temores de que o Ministério da Fazenda acabe sendo liderado por alguém mais à esquerda e que poderia ser inclinado a uma maior flexibilidade das regras fiscais do país.
Diante dessa possibilidade, alguns agentes financeiros entenderam o tombo dos ativos brasileiros nesta segunda-feira como um "recado" dos mercados.
"É bom o recado do mercado... Aventuras não serão aceitas", disse Sergio Machado, sócio da NCH Capital, em publicação no Twitter.
Os ganhos desta segunda-feira vieram depois de, na sessão anterior, na sexta, a moeda norte-americana spot ter perdido 1,36%, a 5,0524 reais, menor patamar para encerramento desde 29 de agosto (5,0330). No acumulado da semana passada, período que sucedeu a vitória eleitoral de Lula, o dólar despencou 4,71%, maior queda semanal desde o período findo em 29 de julho (-5,91%).
"Logo após as eleições, (o dólar) apontou uma tendência de queda após uma sinalização de uma transição um pouco mais tranquila. Porém, para que se confirme essa tendência, se faz necessária a divulgação da equipe que vai compor o gabinete nos próximos anos, em especial da equipe econômica", disse Márcio Riauba, chefe da mesa de câmbio da StoneX.
O especialista também citou temores sobre a PEC que a equipe de transição do próximo governo planeja encaminhar para garantir uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem às promessas de campanha de Lula, como a manutenção dos 600 reais do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo. Os valores embutidos na PEC ainda não foram definidos oficialmente, mas a expectativa é de que possam superar os 200 bilhões de reais.
A disparada do dólar no mercado doméstico destoou do clima no exterior, onde a moeda norte-americana caía 0,9% contra uma cesta de seis pares fortes nesta tarde.
Nesta semana, investidores ficarão atentos à divulgação de dados de inflação norte-americanos e falas de dirigentes do Federal Reserve, que podem oferecer pistas sobre as próximas decisões de política monetária do banco central dos Estados Unidos.
O BTG Pactual disse em relatório desta segunda-feira que ainda vê "suporte para um dólar global forte" depois de indicações recentes do Fed de que pode elevar os juros a patamar mais alto do que se pensava anteriormente e mantê-los assim por mais tempo.
O foco também fica sobre as eleições de meio de mandato nos EUA, que acontecerão na terça-feira. Um resultado muito dividido entre republicanos e democratas seria visto, num geral, como positivo para ativos arriscados.
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