Ibovespa fecha em alta com benefício da dúvida a Lula, Petrobras e BB despencam
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou no azul nesta segunda-feira, no primeiro dia após Luiz Inácio Lula da Silva vencer a corrida presidencial, diante da percepção de menor risco de contestação do resultado, que ofuscou a forte queda de Petrobras e Banco do Brasil.
Investidores também deram o benefício da dúvida a Lula quanto à formação de seu ministério, em particular quem ocupará a pasta da Fazenda, bem como acerca de suas políticas econômicas, em particular a fiscal.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,31%, a 116.037,08 pontos, em sessão volátil, em que chegou a 112.113,34 pontos na mínima (-2,12%) e 116.763,47 pontos na máxima (+1,94%).
O volume financeiro somou 47 bilhões de reais, bem acima da média diária do mês, de 33,7 bilhões de reais.
Com tal resultado, o Ibovespa acumulou uma alta de 5,45% em outubro, mês marcado por forte volatilidade por causa do processo eleitoral, além de expectativas ligadas aos movimentos do banco central norte-americano para a taxa de juros dos Estados Unidos. Em 2022, o índice acumula ganho de 10,66%.
Lula derrotou o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da disputa presidencial no domingo e voltará à Presidência pela terceira vez, impondo uma inédita derrota nas urnas a um ocupante do Palácio do Planalto que buscava um segundo mandato - mesmo que por uma margem bastante apertada.
Políticos aliados a Bolsonaro se manifestaram em reconhecimento à vitória de Lula nas urnas, o que trouxe algum alívio quanto à possibilidade de uma extensão do processo eleitoral, mesmo com Bolsonaro não tendo se manifestado desde a confirmação do resultado.
"Na falta de um evento tipo Capitólio, houve um alívio", pontuou o gestor de renda variável da Franklin Templeton, Frederico Sampaio, referindo-se à invasão do Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores do então presidente dos EUA, Donald Trump, após ele perder a eleição para Joe Biden.
"Tinha um grande receio, principalmente dos estrangeiros."
A expectativa é de que o mandatário quebre o silêncio ainda nesta segunda-feira, enquanto diversos chefes de Estados estrangeiros, incluindo os presidentes dos Estados Unidos e da China, já reconheceram a vitória de Lula, que assumirá em 1º de janeiro para seu terceiro mandato.
"Ninguém no mercado espera nada de especial do Bolsonaro", afirmou o estrategista-chefe da casa de análise Inv, Rodrigo Natali, afirmando que a expectativa é de que o presidente reconheça a vitória de Lula. Mesmo o movimento de caminhoneiros, acrescentou, parece não estar incomodando muito os investidores.
Caminhoneiros favoráveis a Bolsonaro interromperam ou prejudicaram o fluxo de veículos em algumas rodovias do país, nesta segunda-feira, em um movimento sem liderança clara e que não contava com a adesão de toda a categoria.
A atenção agora se volta ao anúncio do ministério de Lula, particularmente a equipe econômica. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, disse que o partido começa a montar nesta semana a equipe de transição, com a indicação de quem coordenará o time que preparará a formação do novo governo.
Na visão do sócio e estrategista da Meta Asset, Alexandre Póvoa, a vitória de Lula a princípio só traz risco às estatais, porque ele mesmo falou que vai acabar com a paridade de preços na Petrobras e fará do Banco do Brasil um indutor de crédito e crescimento.
Além disso, acrescentou, com a composição do Congresso bem à centro-direita e dos governadores dos Estados mais importantes na oposição, não há como Lula não ser obrigado a migrar para o centro, enquanto o Banco Central independente garante uma transição tranquila na política monetária.
"Resta saber quem vai ser o ministro da Economia e sua política fiscal. E nesse ponto, o mercado está dando o benefício da dúvida", afirmou Póvoa, destacando, ainda, que o estrangeiro prefere Lula a Bolsonaro.
Não está descartada, porém, a chance de a volatilidade continuar elevada na bolsa paulista, conforme forem sendo divulgados primeiros nomes e políticas da equipe de Lula.
Nos Estados Unidos, Wall Street teve um dia negativa, com o foco do mercado se voltando para a reunião do Federal Reserve desta semana, com o S&P 500 caindo 0,75% no dia, mas valorizando-se quase 8% no antepenúltimo mês do ano.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caiu 8,47%, a 29,81 reais, e PETROBRAS ON recuou 7,04%, a 33,26 reais, refletindo percepção de aumento de incertezas sobre as estratégias de companhia com a eleição de Lula. O JPMorgan cortou a recomendação das ações. A sessão também teve ruídos sobre potencial nome para presidir a estatal.
- BANCO DO BRASIL ON cedeu 4,64%, a 37,02 reais, afetada por receios sobre as políticas públicas futuras. Entre os privados, ITAÚ UNIBANCO PN avançou 2,91%, a 30,4 reais, e BRADESCO PN evoluiu 2,74%, a 19,86 reais.
- GOL PN disparou 8,83%, a 9,61 reais, e AZUL PN saltou 8,91%, a 16,13 reais, apoiadas pela forte queda do dólar. No setor de viagens, CVC BRASIL ON valorizou-se 9,63%,
- ALPARGATAS PN subiu 9,04%, a 21,96 reais, tendo no radar o balanço trimestral no próximo dia 3, em dia de forte alta do setor de consumo, com a perspectiva de políticas voltadas para a melhora da renda no país. Lula prometeu reajustar o salário mínimo acima da inflação.
- YDUQS ON avançou 5,42%, a 16,13 reais, e COGNA ON terminou com elevação de 3,46%, a 3,29 reais, apoiadas nas promessas de Lula de fortalecer a educação no país.
- VALE ON fechou em queda de 0,47%, a 67,13 reais, após trocar de sinal mais de uma vez, e após queda dos preços do minério de ferro na Ásia.
- B3 ON avançou 6,06%, a 15,04 reais, engatando a terceira alta seguida.
- TAURUS PN caiu 4,67%, a 14,89 reais, uma vez que o presidente de saída é um grande defensor de políticas para armar a população, flexibilizando inclusive o acesso às armas, enquanto Lula.
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