Dólar fica estável em sessão volátil antes do 2° turno das eleições, mas dispara na semana
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou perto da estabilidade frente ao real nesta sexta-feira, sessão marcada por instabilidade devido a fatores técnicos e à aproximação do segundo turno das eleições presidenciais, em meio a temores sobre possível contestação do resultado de domingo e incerteza sobre qual será a agenda fiscal do próximo governo, fatores que ajudaram a impulsionar a moeda no acumulado da semana.
A moeda norte-americana à vista teve variação negativa de 0,01%, a 5,3023 reais na venda, após sessão volátil. No maior nível do dia, a divisa saltou 1,52%, a 5,3835 reais, antes de perder fôlego no final das negociações e fechar perto das mínimas intradiárias.
Na B3, às 17:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,73%, a 5,2960 reais.
Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, disse que o afastamento do dólar em relação aos maiores patamares do pregão refletiu, em parte, a volatilidade antes da formação da taxa Ptax, que acontecerá na segunda-feira, último dia do mês e primeiro pregão pós-segundo turno.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente provoca intenso vaivém nas negociações.
Mas também colaborou para a instabilidade dos negócios nesta sessão o temor de que o resultado segundo turno de 30 de outubro entre o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja contestado.
"Se ele (Bolsonaro) perder, é provável que conteste o resultado", disse em nota Robert Wood, principal economista para América Latina e Caribe da Economist Intelligence Unit (EIU), citando a acusação recente da campanha do atual presidente de que rádios do país estariam cometendo irregularidades na exibição de inserções eleitorais para, supostamente, favorecer Lula.
"Embora isso possa inaugurar um período de instabilidade na esfera política e nos mercados financeiros, esperamos que prevaleça a força das instituições democráticas brasileiras", completou Wood.
O Citi tem visão parecida. "Embora acreditemos que a chance de eleições contestadas não seja tão baixa quanto gostaríamos, as consequências não serão duradouras e os tribunais eleitorais derrubarão uma possível acusação de Bolsonaro, provavelmente dentro de um mês, em nossa opinião", avaliou o banco norte-americano em relatório publicado nesta sexta-feira.
Há meses o atual presidente vem atacando, sem provas, as urnas eletrônicas, que diz serem passíveis de fraude, e durante a campanha ele e aliados têm insistido na mensagem de que as autoridades eleitorais trabalham contra sua reeleição.
Enquanto isso, alguns investidores mostravam preocupação com a questão fiscal, já que Lula, líder nas pesquisa de intenção de voto, ainda não forneceu grandes detalhes sobre o que planeja fazer na frente econômica caso seja eleito.
Na quinta-feira, a publicação de uma carta em que o petista menciona a intenção de governar com responsabilidade fiscal caso seja eleito chegou a animar pontualmente o mercado brasileiro, mas a euforia perdeu força depois que investidores viram que o documento não trazia muitas novidades.
"Ficou claro ontem como o mercado local está carente de um sinal sobre o futuro da economia com a possibilidade, a ser confirmada ou não neste domingo, de um novo mandato do ex-presidente Lula", escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Enquanto isso, no exterior, a manutenção de esperanças de que o Federal Reserve possa desacelerar seu ritmo de altas de juros colaborou para a devolução dos ganhos do dólar nesta sexta-feira, disse Bergallo, da FB Capital. Operadores esperam que o banco central norte-americano eleve sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual em novembro e em 0,50 ponto em dezembro.
Depois de subir acentuadamente no início da semana em meio à cautela eleitoral, o dólar registrou alta de 2,97% frente ao real na comparação com o fechamento da última sexta-feira. Essa foi sua maior valorização percentual semanal desde o salto de 3,14% visto no período findo em 17 de junho.
No mês de outubro, a moeda ainda acumula queda de 1,7%, e, no ano, cede 4,9%.
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