Dólar salta mais de 1% às vésperas do 2° turno com temor de contestação das eleições
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava mais de 1% em relação ao real nesta sexta-feira, com investidores buscando proteger suas carteiras no último pregão antes do segundo turno das eleições presidenciais, em meio a temores sobre possível contestação do resultado de domingo, embora a moeda tenha reduzido pontualmente seus ganhos na esteira de dados de inflação dos Estados Unidos.
Às 10:03 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,20%, a 5,3662 reais na venda. No pico do dia, a divisa norte-americana chegou a saltar 1,52%, a 5,3835 reais.
Na B3, às 10:03 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,61%, a 5,3675 reais.
Esta sessão é a última oportunidade para investidores prepararem suas posições para o segundo turno de 30 de outubro e seus possíveis desdobramentos. Desta forma, "não tem como o tom não ser impactado pelas eleições, ainda mais se o mercado começar a enxergar que tem um risco de contestação do resultado eleitoral", disse à Reuters Rafael Perez, economista da Suno Research.
Há meses o atual presidente e candidato a um segundo mandato Jair Bolsonaro (PL) vem atacando, sem provas, as urnas eletrônicas, que diz serem passíveis de fraude, e durante a campanha ele e aliados têm insistido na mensagem de que as autoridades eleitorais trabalham contra sua reeleição.
Nesta semana, alimentando temores sobre possível tentativa de descredibilizar o processo eleitoral e preparar o terreno para contestação do resultado de domingo, a campanha de Bolsonaro foi ao TSE para denunciar, sem provas, uma suposta irregularidade na exibição de inserções em rádios da Bahia e de Pernambuco.
Embora tenha afirmado que o risco de extensão do processo eleitoral para um "terceiro turno" é motivo de preocupação para os mercados financeiros, Perez disse que se trata mais de "burburinho" do que uma ameaça concreta, pelo menos até o momento.
"Acredito que será dificil ter uma contestação de fato, o Brasil tem uma democracia consolidada o suficiente" para contornar ataques à credibilidade das eleições, opinou o economista, acrescentando que, se as eleições transcorrerem tranquilamente, sem contestação, os mercados podem viver momentos de alívio a partir da semana que vem.
O Citi tem visão parecida. Em relatório desta sexta-feira, analistas do banco disseram que, "embora acreditemos que a chance de eleições contestadas não seja tão baixa quanto gostaríamos, as consequências não seriam duradouras e os tribunais eleitorais derrubariam uma possível acusação de Bolsonaro, provavelmente dentro de um mês, em nossa opinião".
Passado esse "ruído", o foco dos mercados provavelmente mudará para a agenda econômica do próximo presidente, disse o Citi, que vê uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o cenário mais provável.
Mais cedo nesta sexta-feira, o dólar chegou a moderar pontualmente seus ganhos, na esteira de dados de inflação norte-americanos amplamente em linha com o esperado. Na mínima do dia, a divisa subiu 0,52%, a 5,3300 reais na venda.
Segundo Perez, da Suno, os mercados internacionais têm se agarrado a esperanças de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, moderará seu ritmo de aperto monetário a partir de dezembro, em meio a sinais de que a instituição está tendo sucesso em seu esforço para esfriar a economia e domar a inflação mais alta em décadas.
Na véspera, a moeda norte-americana à vista tombou 1,48%, a 5,3026 reais, registrando a maior depreciação percentual diária desde 3 de outubro (-4,03%).
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