Dólar tomba a R$5,30 com ajuste técnico e aceno de Lula, mas tensão eleitoral permanece
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tombou quase 1,5% frente ao real nesta quinta-feira, abatido por movimento de ajuste de posições após forte disparada da moeda norte-americana no início da semana, enquanto acenos do candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a uma agenda fiscalmente responsável ajudaram a sustentar o humor do mercado doméstico perto do final do pregão.
No entanto, a volatilidade dos negócios se mostrou elevada, e agentes financeiros citaram a manutenção de preocupações na reta final da corrida eleitoral, com alguns temendo eventual contestação da credibilidade do processo e extensão da incerteza para além do segundo turno de domingo.
A moeda norte-americana à vista tombou 1,48%, a 5,3026 reais, registrando a maior depreciação percentual diária desde 3 de outubro (-4,03%), pregão que sucedeu o primeiro turno do pleito presidencial.
No final dos negócios, por volta de 16h40, o dólar chegou a despencar 2,62%, a 5,2409 reais, com investidores se animando pontualmente pela notícia de que Lula publicaria nesta quinta-feira uma carta em que se comprometeria com a responsabilidade fiscal caso fosse eleito.
Poucos minutos antes do fechamento dos mercados, a carta do ex-presidente foi divulgada, e, como não trouxe grandes novidades, na avaliação de investidores, a euforia dos mercados perdeu fôlego e o dólar se afastou dos menores patamares do pregão. No documento, Lula disse que vai aliar responsabilidade fiscal, social e desenvolvimento sustentável para gerir o país, repetindo sinalizações já feitas durante a atual campanha.
"Houve uma primeira animação do mercado com o 'headline' em relação a responsabilidade fiscal", escreveu Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, mas o especialista ponderou que houve "pouca coisa substancial nova".
Apesar da forte queda do dólar, investidores notaram forte volatilidade no mercado nesta quinta-feira. Uma medida da volatilidade implícita do real para os próximos três meses subiu nesta sessão para o maior patamar desde o início de setembro, o que participantes do mercado disseram ser efeito da aproximação do segundo turno de domingo.
Flavio Pretti, planejador financeiro pela Planejar, disse à Reuters que o maior receio dos mercados no momento em relação ao pleito é de haver "instabilidade do processo democrático".
Nesta semana, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltar a atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com acusações sem provas de irregularidades na veiculação das inserções de rádio de sua campanha. Bolsonaro disse na noite de quarta que irá até as últimas consequências, dentro da Constituição, contra as supostas infrações, após o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, ter rejeitado a denúncia por falta de provas.
Observadores do processo eleitoral enxergaram a movimentação da campanha de Bolsonaro como uma tentativa de descredibilizar o pleito e preparar o terreno para eventual contestamento do resultado de 30 de outubro caso saia perdedor.
"Qualquer coisa que sai do combinado, que acrescenta uma incerteza não prevista é ruim para o investidor. O capital é extremamente volátil no mundo todo, basta ver o que aconteceu na Inglaterra", disse Pretti, referindo-se à turbulência financeira que se instalou no Reino Unido em reação à agenda fiscal da ex-primeira-ministra Liz Truss. "A melhor coisa para o Brasil é, de fato, o cumprimento da Constituição."
Embora tenha apontado eventual instabilidade ou questionamento do processo eleitoral como um risco para a confiança de investidores no Brasil, Pretti disse não ver evidências "relevantes" no momento de que esse cenário indesejado possa se concretizar, chamando os acontecimentos políticos da última semana de "ruído".
Uma estrategista do JPMorgan disse à Reuters em entrevista publicada nesta quinta-feira que qualquer evento que adie o desfecho da corrida presidencial no Brasil no próximo domingo é uma preocupação dos investidores, destacando que as pessoas querem virar a página da incerteza eleitoral.
Já o Goldman Sachs disse em relatório que o mercado financeiro doméstico deve "reagir positivamente a sinais de paz social, estabilidade política e reformas que alavanquem o investimento e o crescimento" no período após as eleições.
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