Dólar dispara acima de R$5,30 com fuga internacional para segurança e temor fiscal por PEC dos auxílios
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar operava em forte alta contra o real nesta sexta-feira, superando com folga a marca de 5,30 reais, com investidores reagindo à aprovação pelo Senado na véspera de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um estado de emergência para ampliar e criar novos auxílios sociais, enquanto temores internacionais de recessão colaboravam para a busca por segurança.
Além de reconhecer o estado de emergência para criar o "voucher caminhoneiro" e de ampliar o Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, a PEC aprovada foi complementada para incluir a concessão de um benefício destinado a taxistas e ainda um crédito suplementar a programa alimentar.
A votação da PEC, que ainda deve passar pela Câmara dos Deputados, ocorreu a cerca de 100 dias das eleições gerais de outubro e é apontada por críticos como eleitoreira. A proposta --chamada por alguns participantes do mercado como "PEC das bondades"-- também é vista como fiscalmente danosa, já que prevê despesas fora do teto de gastos.
"Os rumos da situação fiscal no Brasil, adicionados ao cenário internacional mais desafiador, têm mantido o dólar mais alto, a curva de juros pressionada e a bolsa com dinâmica negativa", escreveu Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.
Às 10:21 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,77%, a 5,3237 reais na venda, rondando os picos do dia.
Com a performance desta sexta-feira, o dólar caminhava para registrar uma quinta semana consecutiva de ganhos.
Na B3, às 10:21 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,27%, a 5,3635 reais.
Além de refletir ambiente doméstico turbulento, essa alta acompanhava a forte valorização do índice do dólar contra uma cesta de divisas fortes, que se aproximava dos maiores níveis em duas décadas nesta sexta-feira em meio a receios generalizados de recessão.
Ao mesmo tempo, a maioria das divisas arriscadas ou ligadas às commodities tinha forte baixa no dia, com pesos mexicano e chileno, rand sul-africano e dólar australiano perdendo entre 0,9% e 2%.
Com a perspectiva de que o Federal Reserve, banco central dos EUA, siga com posicionamento agressivo no combate à inflação, investidores vendiam ações e buscavam a segurança do dólar e da dívida soberana dos Estados Unidos, cujos rendimentos caíam acentuadamente diante da grande demanda por Treasuries.
"Os próximos meses serão marcados por um Fed que deve subir os juros de forma mais intensa para ancorar as expectativas de inflação, mesmo com efeitos negativos para o crescimento", disse a equipe de macro e estratégia do BTG Pactual em relatório, citando impacto negativo desse cenário sobre moedas emergentes, como o real.
"Esse vetor já nos motivava uma menor exposição ao risco e volatilidade nos últimos meses, guiando as estratégias neste início de trimestre."
A moeda norte-americana fechou a última sessão em 5,2311 reais, saltando 10,03% em junho --melhor mês desde março de 2020 (+15,92%)-- e acumulando avanço de 9,83% no segundo trimestre.
Apesar desse resultado, o dólar ainda está em território negativo no acumulado de 2022, depois de ter fechado o ano passado em 5,5735 reais.
O BTG Pactual disse no relatório que um cenário de apreciação expressiva do real está ficando mais desafiador, com os riscos domésticos amplificando a tendência de aversão a risco vista no mercado global. Mesmo assim, o banco manteve cenário anterior de dólar a 4,80 reais ao fim deste ano.
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