Dólar ronda R$5,67 conforme investidores digerem IPCA acima do esperado
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar era negociado em torno dos 5,67 reais nesta terça-feira, conforme agentes do mercado digeriam dados de inflação domésticos mais fortes do que o esperado e seu provável impacto sobre a atividade econômica brasileira.
O IBGE informou nesta terça-feira que o IPCA subiu 0,73% em dezembro, acumulando em 2021 salto de 10,06%. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 0,65% no mês passado e de 9,97% em 12 meses. [nL1N2TR11G]
Com esse resultado, a inflação ao consumidor brasileiro encerrou 2021 bem acima do teto da meta e no nível mais elevado em seis anos, mantendo a pressão sobre o Banco Central para que contenha as altas dos preços com seu ciclo de aperto monetário.
No ano passado, a autarquia levou a taxa Selic de uma mínima histórica de 2% para 9,25% ao ano, mostrando, em sua última reunião, preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação.
O resultado acima do esperado do IPCA de dezembro deve reforçar essa "pressão em cima do BC em relação ao aperto monetário que vem fazendo e deve continuar promovendo daqui para frente", comentou Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest.
Há, entre participantes do mercado, percepção de que juros mais altos no Brasil podem beneficiar o real, uma vez que elevariam a rentabilidade do mercado de renda fixa doméstico, atraindo mais recursos para o país.
Mas a inflação e uma Selic mais alta --que deve chegar aos dois dígitos já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC-- podem ter um custo elevado à atividade econômica brasileira, uma vez que tendem a frear os gastos do consumidor.
"Aquela ideia do começo de 2021 de que a inflação seria algo temporário veio abaixo há algum tempo. A gente deve se preocupar, porque é um dos vetores que podem e devem impactar nosso crescimento econômico", afirmou Cunha.
Às 10:00 (de Brasília), na esteira dos dados de inflação, o dólar à vista recuava 0,20%, a 5,6607 reais na venda.
Na B3, às 10:00 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,08%, a 5,6855 reais.
Esse movimento também estava amplamente em linha com o desempenho internacional do dólar, cujo índice frente a uma cesta de moedas rondava a estabilidade nesta manhã.
Os mercados globais estavam à espera de declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, ao Comitê Bancário do Senado dos Estados Unidos mais tarde nesta terça-feira, em busca de pistas sobre o momento do esperado aperto da política monetária nos EUA.
"Juros americanos mais elevados aumentam a atratividade dos investimentos em dólar e tendem a drenar recursos de países emergentes, o Brasil entre eles", disse a Levante Investimentos em relatório.
Para além dos acontecimentos desta terça-feira, agentes do mercado financeiro destacavam riscos políticos e fiscais domésticos como desafios ao Brasil ao longo deste ano.
"Incertezas políticas e fiscais deverão continuar trazendo bastante volatilidade ao longo de 2022, principalmente diante de um cenário eleitoral que será marcado por uma forte polarização", disseram em nota analistas da Genial Investimentos.
A credibilidade fiscal do Brasil foi prejudicada depois de o governo ter conseguido alterar a regra do teto de gastos por meio da PEC dos Precatórios, abrindo espaço para financiar mais despesas neste ano. Com várias categorias de servidores pressionando a União por reajustes salariais, investidores temem que as contas públicas sejam ainda mais afetadas em 2022.
A divisa norte-americana fechou a última sessão em alta de 0,72%, a 5,6723 reais na venda.
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