Dólar interrompe sequência de ganhos após BC voltar a marcar presença no mercado
O dólar caiu ante o real nesta quinta-feira, interrompendo sequência de cinco ganhos diários consecutivos após o Banco Central injetar moeda à vista no mercado, enquanto, no exterior, a divisa norte-americana perdia terreno.
Depois te ter chegado a tocar 5,7259 reais no pico do dia, o dólar spot fechou em queda de 0,47%, a 5,6802 na venda. Na B3, às 17:11 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,06%, a 5,6975 reais.
O Banco Central vendeu 830 milhões de dólares em leilão à vista realizado pouco antes das 13h (horário de Brasília), fazendo a moeda dos Estados Unidos devolver completamente os ganhos registrados mais cedo na sessão contra o real.
Essa é quarta vez em cinco sessões que o Banco Central faz intervenção do tipo no mercado de câmbio, de olho --segundo alguns participantes do mercado-- em movimento sazonal de saída de recursos do país com a aproximação do fim do ano, à medida que empresas fazem pagamentos de juros e dividendos.
Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, notou a pressão sazonal no mercado de câmbio, e ressaltou que o BC faz intervenções ao observar os movimentos pontuais de saída.
Mas Alfredo Menezes, sócio-fundador da Gestora Armor Capital, disse em post no Twitter acreditar "que hoje foi o último dia do ano de fluxo no dólar muito ruim. A partir daqui o fluxo alivia. E janeiro é bem mais tranquilo."
Além da intervenção do BC no mercado à vista, o real também foi amparado nesta quinta-feira pela fraqueza internacional do dólar.
O índice da divisa frente a seis rivais fortes caía 0,3% nesta tarde, enquanto peso mexicano, peso chileno e dólar australiano, divisas consideradas sensíveis a risco, tinham ganhos.
Alguns investidores apontaram maior apetite por risco após os mercados terem recebido de forma benigna, no geral, a notícia de que o Federal Reserve vai acelerar a redução de seu estímulo, abrindo caminho para três aumentos de juros em 2022 --embora custos de empréstimos mais altos nos EUA sejam vistos como positivos para o dólar.
"O movimento de preços de ontem sugere que um Fed bastante 'hawkish' (duro com a inflação) já estava totalmente precificado, e é plausível que as moedas de países emergentes continuem a operar melhor no curto prazo", disseram em nota desta quinta-feira estrategistas do Citi.
Mesmo assim, "no quadro mais amplo, o ambiente para o câmbio de países emergentes continuará desafiador com a chegada do primeiro aumento de juros do Fed", afirmou o banco norte-americano.
RISCO FISCAL
Ainda nesta quinta-feira, Campos Neto afirmou que o risco fiscal é um elemento que influencia a precificação do câmbio, ressaltando que a autoridade monetária não conta em seu cenário básico com novas ações que piorem o quadro das contas públicas.
Investidores apontam há meses a deterioriação da credibilidade fiscal --após pressão do governo por mais gastos no ano que vem, quando Bolsonaro deve tentar a reeleição-- como impulso para o dólar, que sobe 9,41% contra o real no acumulado de 2021.
Recentemente, com a promulgação da PEC dos Precatórios, que abre espaço fiscal para o financiamento do Auxílio Brasil, instalou-se uma maior previsibilidade nos mercados locais, mas a alteração da regra do teto de gastos contida no texto ainda é vista como forte golpe à reputação do país.
Aos temores fiscais, somam-se receios políticos, já que os brasileiros irão às urnas em 2022. A eleição provavelmente polarizada pode minar a atratividade da moeda brasileira ao elevar as incertezas sobre os rumos da conduta econômica do país a partir de 2023, disse à Reuters Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos.
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