Comércio entre Brasil e Argentina sofreu queda de 50% na última década
A relação econômica entre Brasil e Argentina apresentou queda acentuada no fluxo de transações comerciais bilaterais entre 2010 e 2020. O diagnóstico foi apresentado nesta quarta-feira (27/10), durante webinar internacional realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com indicadores, o fluxo comercial entre os dois países caiu pela metade no período analisado (queda de 50%), tendo como influência a retração nos investimentos e acordos comerciais no âmbito do Mercosul.
O estudo mostra que, em 2010, os intercâmbios comerciais entre Brasil e Argentina totalizaram US$ 32,94 bilhões. Porém, uma década depois, o montante comercializado caiu para US$ 16,38 bilhões. A pesquisa aponta movimento semelhante de queda no fluxo de importações, influenciada pela crise industrial em ambos os países. De acordo com o levantamento, as importações brasileiras de origem argentina caíram de 12% para 5% entre 2000 e 2020. No mesmo período, as compras argentinas de produtos do Brasil declinaram de 25,6% para 20,4%.
O estudo contou com a participação de sete pesquisadores, incluindo integrantes da Diretoria de Estudos Internacionais do Ipea. Na avaliação de Pedro Silva Barros e Fernando Ribeiro, autores da pesquisa, o levantamento aponta os desafios na agenda comercial entre os vizinhos sul-americanos. Segundo eles, a eventual redução da Tarifa Externa Comum (TEC), embora possa trazer benefícios para ambos os países, poderá gerar efeitos ainda mais negativos sobre o comércio bilateral. “A iniciativa prejudicaria diversos setores na agenda comercial do Mercosul e, consequentemente, enfraqueceria a integração econômica entre Brasil e Argentina, além do fluxo comercial com outros países membros do bloco”, explica Ribeiro.
O levantamento mostra ainda que a Argentina respondeu por apenas 4,5% do comércio exterior brasileiro em 2020. Ao mesmo tempo, desde 2000, o peso relativo da China e da Ásia no comércio com o Brasil apresentou ampliação gradual. Na avaliação dos autores, essa aproximação com o mercado do Pacífico também contribui para o enfraquecimento na agenda de comércio bilateral entre Brasil e Argentina.
Webinar
A abertura do webinar foi realizada pelo diretor da área de estudos internacionais do Ipea, Ivan Oliveira. Segundo ele, a cooperação econômica entre Brasil e Argentina tem caráter estratégico para o desenvolvimento do Mercosul e para fortalecimento das duas economias. “Sabemos da importância comercial dos dois países dentro do bloco econômico. Temos dedicado grande atenção a essa agenda, analisando os desafios futuros que estão lançados para a ampliação dos acordos comerciais”, disse.
O evento contou com a participação da embaixadora Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacionais do Ministério de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto da Argentina. Ela citou o recente processo de ampliação comercial entre Brasil e China, especialmente no setor de commodities, e destacou que a aproximação pode representar a porta de entrada do Mercosul ao mercado Ásia-Pacífico. “A atividade de livre comércio busca por oportunidades, e o mercado chinês desempenha esse papel atualmente ao Brasil”, afirmou. “Sabemos que esse fluxo pode beneficiar também o Mercosul e estamos trabalhando conjuntamente para construir novos acordos e fortalecer a relação comercial entre Brasil e Argentina.”
Na avaliação de Carlos Henrique Mussi, diretor do Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil, o debate sobre o fortalecimento da relação comercial Brasil-Argentina também passa pelo debate atual das novas políticas de integração comercial no Mercosul. Ele citou o projeto do corredor Rodoviário Bioceânico, iniciativa de integração da estrutura física que conectará os portos do Atlântico e do Pacífico. “É através da ampliação do Mercosul que conseguiremos fortalecer a relação comercial Brasil-Argentina”, disse ele.
Ao fim do evento, o diretor Ivan Oliveira anunciou o próximo ciclo de debate internacional, dando sequência à agenda de trabalhos voltada ao comércio exterior brasileiro. O próximo webinar, agendado para 01/12, irá tratar da relação comercial entra Brasil e China, debatendo temas como o comércio agrícola e investimentos bilaterais.
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