Novos surtos da variante delta mantêm mercados globais em alertas; soja na contramão
O mercado internacional de commodities está um pouco mais calmo nesta quarta-feira (4), à exceção ainda do petróleo, que tem perdas de mais de 3% de baixa na tarde de hoje. Perto de 14h (horário de Brasília), o barril do WTI era cotado a US$ 68,00 e o do Brent, US$ 70,56. No mesmo momento, acompanhavam o recuo os futuros do milho e do trigo na Bolsa de Chicago e do açúcar na Bolsa de Nova York. Na contramão, entre as agrícolas, altas na soja, no café e no algodão.
Embora o rápido crescimento do número de casos de Covid-19 na China, Estados Unidos e alguns países da Europa pela variante delta ainda esteja bem forte no radar dos traders, os futuros do petróleo são pressionados também pelos dados sobre os estoques norte-americanos informados pela Administração de Informações de Energia (EIA, na sigla em inglês).
Os números mostraram que os estoques de petróleo dos EUA vieram em 439,2 milhões de barris, com um aumento de 3,626 milhões de barris na posição de 20 de julho, enquanto o mercado esperava uma baixa de aproximadamente 3,102 milhões.
Ainda assim, os especialistas seguem monitorando o que esse aumento do números de infectados com o coronavírus, em especial na nação asiática, pode significar para os mercados e para a retomada da economia global. O país foi dividido entre províncias que passam agora por alto risco e outras por risco médio e por mais sério que seja o quadro, ainda é menos intenso o problema do que o observado no início da pandemia.
E neste ambiente, analistas de mercado ouvidos pela Bloomberg, afirmam que parte destas quedas por três dias consecutivos no petróleo se dão pelos temores sobre a demanda chinesa pela commodity. "Temos visto um contínuo crescimento da demanda por combustíveis, o que é um sinal da recuperação econômica. Mas também uma clara preocupação com a variante delta", diz Quinn Kiley, gerente da Tortoise à agência internacional de notícias.
Já Ole Hansen, head de commodities do Saxo Bank A/S afirma que "os futuros do petróleo continuam sendo negociados entre seus fundamentos e o risco para a demanda por conta do rápido espalhamento do coronavírus pela delta em um país como a China, que é importador-chave neste mercado".
E as incertezas sobre a demanda chinesa por petróleo chegam na sequência do acordo firmado pela Opep (Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo) de aumentar gradualmente a oferta, depois da necessidade de redução no início do ano diante de um colapso do consumo - nos picos mais agressivos da pandemia - que exerceu uma severa pressão sobre as cotações.
São mais de 200 milhões de casos confirmados de Covid-19 em todo mundo, de acordo com dados apurados pela Reuters Internacional, número que cresceu muito rapidamente nas últimas semanas em função da variante delta, que tem como uma das principais e mais preocupantes características seu rápido contágio. Ainda de acordo com a agência internacional, cerca de um terço dos países do mundo passa por essa situação agora, principalmente naqueles onde os processos de vacinação estão mais lentos e uma parcela maior da população ainda não recebeu a primeira dose da vacina.
E assim, as especulações e preocupações sobre o futuro e o caminhar da segunda maior economia do mundo estão em evidência e trazendo alguma pressão sobre os mercados globais. O governo chinês já informou que está revisando todos os seus protocolos e revendo as medidas de isolamento social.
"A variante Delta é o maior teste da estratégia zero-COVID da China desde o surto inicial no ano passado. Mas, dado o histórico do país em lidar com o vírus até agora, nossa suposição é que eles irão suprimir o surto antes que saia do controle. É claro que isso terá algum custo econômico", disse Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics para a China À Reuters.
Os vôos estão sendo cancelados, cadeias logísticas estão sendo comprometidas e centros industriais estão sendo fechados para garantir a segurança da população de quase 20 das 32 províncias chinesas. "Nos últimos dias, muitos lugares foram gradualmente bloqueados. Fomos oficialmente instruídos a interromper as operações hoje e todos os nossos funcionários não foram à fábrica", disse o gerente de uma fábrica de brinquedos à agência internacional de notícias.
Os serviços de turismo já estão sendo sentidos também, com a suspenção de algumas atividades, fechamento de pontos turísticos e de viagens dentro do país. Algumas agências de viagens deram férias coletivas a seus funcionários. "Estamos aguardando o aviso de quando poderemos começar a trabalhar novamente", disse a funcionária da Agência de Viagens Internacional Zhangjiajie China também à Reuters.
COMMODITIES AGRÍCOLAS
Nesta terça-feira, o Notícias Agrícolas apurou as informações e análises preliminares dos efeitos que os mercados de commodities poderiam sentir caso o quadro se agrave ainda mais na China. O destaque entre os especialistas se deu sobre o petróleo, algodão, mas com as commodities alimentares ainda mantendo sua força diante dessa situação.
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"Vimos que com a pandemia as commodities todas subiram, e impactos sobre a demanda são pontuais, como foi em 2020. Depois vimos o movimento que as commodities fizeram, principalmente por conta da segurança alimentar. O financeiro sente mais, porque o mercado fica nervoso, com os fundos liquidando algumas posições", explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado.
Assim, para a soja, por exemplo, ele não acredita que um novo lockdown, caso aconteça, possa ter força suficiente para mudar o quadro fundamental. "Pesa mais a questão da segurança alimentar. Temos o fundamento forte dos estoques baixos de soja", diz.
Os primeiros setores a sentirem de forma mais agressiva o novo surto seriam os de consumo, o varejo, refletindo a contração da atividade econômica da nação asiática devido aos lockdowns, como foi registrado no início da pandemia.
"Hoje, a China é a maior potência em vendas de varejo do mundo. Somente no ano passado as vendas de varejo somaram U$$ 6,05 trilhões, redução de 3,9% em relação a 2019", explica analista de mercado da Hedge Point Global Markets.
Com informações da Investing, Bloomberg e Reuters Internacional
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