Concretização de expectativas para PIB este ano depende de serviços, dizem analistas
Mais afetado pelas medidas de isolamento para contenção da pandemia de Covid-19, o desempenho do setor de serviços no segundo semestre será crucial para que a atividade econômica do Brasil atinja as expectativas neste ano.
A atividade de serviços brasileira cresceu 0,4% no primeiro trimestre sobre os três meses anteriores, contribuindo para o Produto Interno Bruto (PIB) avançar 1,2% no período e retomar o nível pré-pandemia.
O resultado melhor do que o esperado já está levando analistas a elevarem suas projeções para o PIB este ano, com expectativas chegando a uma expansão de 5%. A avaliação é de que crescimento da indústria e da agropecuária deve se sustentar, favorecido por preços internacionais favoráveis e a recuperação da economia global.
Serviços, que responde por cerca de 70% do PIB, é o setor que tem potencial de mudar o jogo.
"O setor-chave é serviços. A história para os próximos meses deve ser de mercado de trabalho melhorando muito gradualmente e queda da inflação, que tende a acalmar nos próximos meses após explodir recentemente. Tudo isso empurra o setor de serviços", disse o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
A pandemia criou um cenário específico para a crise econômica, afetando com mais profundidade os serviços prestados às famílias, dependentes do contato presencial e que ainda estão bem aquém dos níveis pré-pandemia.
Após esboçar reação depois do impacto inicial da Covid no ano passado, o volume de serviços no Brasil voltou a sofrer com força em março, quando o país se tornou epicentro mundial da pandemia e novas restrições foram adotadas em todo o país.
"O principal componente para o segundo semestre, até porque existe uma demanda reprimida, são serviços prestados às famílias. O IBGE vem mostrando recuperação firme em outros setores como transportes e comunicação. No entanto, os serviços prestados às famílias ainda estão 45% abaixo do nível pré-pandemia", destacou o economista da XP Rodolfo Margato, que não descarta revisar sua estimativa para o crescimento do PIB em 2021 de 4,1% para algo em torno de 5%.
Para deslanchar, o consumo em atividades como bares, restaurantes, cinemas, academias e salões de beleza depende, contudo, do avanço da vacinação no país.
"O cenário é mais favorável para o crescimento, mas a materialização dele depende essencialmente de avanços na campanha de imunização contra a Covid. A dinâmica da Covid segue como o principal risco", completou Margato.
Outra atividade de serviços que tende a se normalizar no segundo semestre com o avanço da vacinação é a de administração pública, que envolve entre outros hospitais, escolas e creches, de acordo com o economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa.
"Essa parte também está em níveis deprimidos porque as escolas ainda tentam reabrir, ainda há atividade em educação que precisa normalizar. A atividade em hospital público também caiu muito porque as pessoas não vão até eles por medo de pegar Covid", disse o economista, cuja previsão de expansão do PIB de 5% em 2021 tem viés de alta.
RISCOS NO RADAR
Embora a possibilidade de uma terceira onda de Covid no Brasil seja apontada como o principal risco para a atividade na segunda metade do ano, começam a entrar no radar dos especialistas agora as questões de racionamento de energia e água.
A própria Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia citou o risco hidrológico entre fatores de alerta no curto prazo ao comentar nesta terça-feira o resultado do PIB.
"O que temos que ver para o segundo semestre é a questão relacionada a riscos e entra nessa equação agora o risco hidrológico. Se tivermos problemas de água ou de fornecimento de energia, pode haver impacto na atividade", destacou o economista-chefe do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso.
Por enquanto o impacto estaria restrito à inflação com a elevação da bandeira tarifária sobre as contas de luz. Mas a questão do racionamento de energia também deve ser acompanhada de perto pelo potencial de afetar a economia no início de 2022.
"Se não chover no último trimestre como estamos esperando e os reservatórios não forem recompostos, o risco vai ser maior no ano que vem, e pode provocar revisão para baixo do PIB de 2022 por causa do impacto na indústria", destacou o economista João Leal, da Rio Bravo.
0 comentário
Ações sobem após dados de inflação, mas acumulam queda na semana
Dólar cai após BC vender US$7 bi e Senado aprovar pacote fiscal
Taxas futuras de juros voltam a ceder com aprovação do pacote fiscal e comentários de Lula
Transição com Galípolo mostra que BC técnico permanece, diz Campos Neto
Ações europeias têm pior semana em mais de três meses, com queda no setor de saúde
Presidente do Fed de NY diz que BC dos EUA segue no caminho certo para cortes de juros