Vírus, pobreza e vacinas: peronistas enfrentam dificuldades em ano eleitoral na Argentina
Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - Os peronistas que governam a Argentina enfrentam eleições parlamentares cruciais em outubro, e institutos de pesquisa dizem que a maneira como estes lidam com a pandemia e suas consequências serão fundamentais para limitar os danos eleitorais.
Acelerar uma campanha de vacinação estagnada e abalada por alegações de nepotismo que levaram um ministro da Saúde a renunciar pode ser decisivo agora que a coalizão de centro-esquerda defende sua maioria no Senado e sua posição forte na Câmara, na qual é o maior bloco.
"Vacinas são o que importa", disse o empresário do setor têxtil Matías Pérez Montalvo, de 49 anos, que votou no governo atual em 2019, mas disse que não o fará na votação de 24 de outubro depois das interdições que mantiveram as escolas fechadas durante a maior parte do ano passado.
"Aquele foi o momento em que eu disse que não quero mais este governo... se tivéssemos mais vacinas, não teríamos que passar por tudo isto de novo", acrescentou.
Uma segunda onda de infecções de Covid-19 atinge o país produtor de grãos, pressionando os hospitais e prejudicando a recuperação econômica incipiente.
Mas o governo espera que o tempo esteja a seu favor enquanto se apressa em assinar acordos de vacinas, retomando conversas com a Pfizer e pressionando a AstraZeneca a acelerar um acordo de suprimento, além de contar com a continuação de remessas frequentes da Rússia e da China.
"O governo vencerá as eleições legislativas em três pontos-chave: o progresso sustentado na vacinação, a recuperação econômica que ganha força a cada mês e a unidade do peronismo", disse uma fonte governista, que pediu para não ser identificada.
A economia argentina vinha se recuperando lentamente de um forte golpe em 2020, embora dados recentes tenham mostrado uma nova estagnação da atividade econômica.
CONTROLE NO CONGRESSO
Há 127 cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados, de um total de 257, e 24 assentos em jogo dos 72 lugares do Senado.
Pesquisadores esperam que o governo perca assentos nas eleições, embora o desafio possa não anular a maioria no Senado.
Shila Vilker, diretora de consultoria e pesquisadora da Trespuntozero, disse que atualmente cerca de 28% dos eleitores apoiam o partido governista, em comparação com 48% da oposição, embora isso provavelmente se reduza com o aquecimento das campanhas.
"Esse apoio eleitoral fraco é realmente uma crítica à gestão econômica e de saúde (do governo)", disse Vilker.
Nas eleições de 2019, o presidente Alberto Fernández venceu seu antecessor conservador, Mauricio Macri, no 1º turno, prometendo mais apoio do Estado para tirar a Argentina da turbulenta crise econômica, da dívida e da moeda, que haviam alimentado a pobreza.
No entanto, agravados pela pandemia, os níveis de pobreza continuaram a subir, enquanto os gastos do Estado esgotaram as reservas que o governo necessita para pagar as dívidas reestruturadas aos credores privados e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Um controle peronista mais fraco sobre o Congresso poderia potencialmente criar um obstáculo para fazer avançar as reformas econômicas e judiciais que o governo espera conseguir aprovar. As negociações da dívida com o FMI também precisam do carimbo do Legislativo.
A forte posição do governo até agora permitiu que ele aprovasse projetos de lei polêmicos, como a legalização do aborto.
Silvia Lospennato, deputada nacional do partido de centro-direita Proposta Republicana (PRO), que faz parte da principal coalizão de oposição, disse que uma atuação mais forte da oposição "colocaria um freio" nas propostas mais divisórias do governo que vão adiante.
Salvador Anido, de 23 anos, estudante em Buenos Aires, disse, no entanto, que embora o governo tenha cometido erros ao lidar com a pandemia, ele ainda votaria em seus candidatos na metade do mandato.
"O governo está consertando as complicações deixadas pelo governo anterior e, sem hesitação, eu votaria neles novamente", disse.
(Reportagem adicional de Agustín Geist)
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