Dólar tem queda acentuada ante real com foco em Fed e Brasília
O dólar trabalhava em queda contra o real nesta quarta-feira, chegando a atingir uma mínima desde o final de fevereiro, com os investidores à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve e digerindo os mais recentes desdobramentos políticos em Brasília, como a instalação da CPI da Covid-19 e mudanças no Ministério da Economia.
Às 10:24, o dólar recuava 0,98%, a 5,4090 reais na venda, depois de chegar a tocar 5,4016 reais na mínima da sessão, seu menor patamar intradiário desde 24 de fevereiro deste ano.
O contrato mais líquido de dólar futuro perdia 0,84%, a 5,409 reais.
Esse movimento de queda do dólar estava em linha com o comportamento da moeda norte-americana ante outras divisas emergentes, como peso mexicano, peso chileno, lira turca e rand sul-africano,.
Entre as razões para essa movimentação, vários analistas chamavam a atenção para a reunião de política monetária do banco central dos Estados Unidos, que se encerra nesta quarta-feira. A expectativa dos mercados é de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed mantenha sua postura de política monetária flexível.
"Há entre os investidores a visão de que está surgindo uma pressão inflacionária nos Estados Unidos, e que a economia está dando fortes sinais de recuperação, mas o Fed ainda deve manter o tom bastante 'dovish'", disse à Reuters Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua Investimentos.
O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, "já deu a entender que emprego e inflação ainda podem crescer", disse ele, referindo-se às condições estabelecidas pelo banco central para que haja um aperto em sua postura monetária: emprego máximo e inflação de 2%.
Vários analistas defendem que a perspectiva de juros baixos por mais tempo nos EUA tende a favorecer o apetite por ativos mais arriscados, uma vez que os investidores passam a buscar rendimentos mais elevados em outros países.
Enquanto isso, "fatores internos no curto prazo podem levar a um câmbio mais depreciado", alertou Netto.
Entre os ruídos políticos domésticos que poderiam levar a uma maior cautela dos operadores, ele destacou a instalação da CPI da Covid, na véspera. Seu relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse na terça-feira que o Brasil tem o direito de saber quem foram os responsáveis pelas mortes, sinalizando que o governo não terá vida fácil na comissão.
Em segundo plano, ficava a notícia de mudanças no Minstério da Economia pelo ministro Paulo Guedes, anunciada na terça-feira. Guedes negou ter havido pressão política para a saída de Waldery Rodrigues do cargo de secretário especial da Fazenda, agora ocupado por Bruno Funchal, e destacou o "desgaste natural" como um dos fatores para as alterações.
Sobre os outros destaques do dia, alguns especialistas chamavam a atenção para dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) que mostraram recuperação na confiança do consumidor brasileiro em abril.
"Embora tenha sido um mês difícil para estabelecimentos, expectativas de uma recuperação mais rápida estão surgindo", avaliou em comentários Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos. "Os dados são bons e mostram uma perspectiva melhor adiante."
Na terça-feira, o dólar à vista registrou alta de 0,25%, a 5,4625 reais na venda.
A divisa norte-americana acumula perda de aproximadamente 4% contra o real no mês de abril, o que muitos analistas atribuíram ao alívio momentâneo na frente fiscal após a sanção com vetos do Orçamento de 2021.
Ainda assim, "o fiscal ainda é o fator primário de preocupação quando se fala de câmbio", afirmou Netto. "Há aumento do endividamento em meio à pandemia, e não só no Brasil, alta dos preços das commodities... Isso gera uma pressão inflacionária grande."
Agora, disse ele, é ficar de olho na reação do Banco Central a esse cenário, acompanhando o ritmo de aumento da taxa de juros, e nas medidas de equilíbrio fiscal que o governo pode adotar.
O Banco Central fará nesta sessão leilão de swap tradicional para rolagem de até 17 mil contratos com vencimento em novembro de 2021 e abril de 2022.
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