Tratores e caminhões bloqueiam estradas na Índia com agricultores ampliando protestos

Publicado em 06/02/2021 18:42

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Kundli, Índia (Reuters) - Milhares de agricultores ao redor da Índia bloquearam estradas neste sábado com tendas improvisadas, caminhões, tratores e pedras para pressionar o governo a recuar em reformas sobre o setor agrícola que motivaram meses de protestos.

Embora os protestos iniciais tenham sido impulsionados por cultivadores de arroz e trigo do norte da Índia que acamparam nos arredores de Nova Délhi, manifestações se espalharam pelo país, especialmente em estados não governados pelo partido do primeiro-ministro Narendra Modi.

O governo federal ofereceu algumas concessões aos agricultores, mas se recusa a revogar três leis passadas ano passado, que defende serem cruciais para trazer novos investimentos ao setor, que representa quase 15% da economia de 2,9 trilhões de dólares da Índia e aproximadamente metade da sua força de trabalho.

Os agricultores temem que as reformas os deixarão à mercê do poder de grandes corporações, uma vez que está previsto o encerramento gradual de um programa atual de compras de produtos agrícolas asseguradas pelo governo.

O bloqueio das estradas de três horas neste sábado, chamado “chakka jam”, começou por volta do meio-dia ao redor do país, exceto em Nova Délhi e alguns estados vizinhos. Os protestos foram majoritariamente realizados em estadas federais e estaduais, mas sem causar grandes transtornos na maioria das cidades.

Avik Saha, secretário do Comitê de Coordenação Kisan Sangharsh, uma organização que reúne grupos de fazendeiros, afirmou que cerca de 10.000 locais ao redor da índia foram bloqueados por três horas.

“O chakka jam claramente mostrou ao governo que este é um protesto de toda a Índia”, afirmou Saha, em um discurso em vídeo transmitido ao vivo pela plataforma de streaming Periscope.

Em uma estrada próxima à capital, alguns agricultores fumavam narguilé enquanto músicas tocavam nos alto-falantes.

Eles ocuparam uma estrada nos Estados de Odisha, no leste, e Karnataka, no sul, com bandeiras e faixas protestando contra as leis. Alguns carregavam cartazes pedindo que o governo não os trate como inimigos.

“Agricultores ao redor do país estão unidos contra isso e continuaremos unidos até que as leis sejam revogadas”, disse Dilbag Singh, agricultor de 65 anos que protestava em Kundli, perto da fronteira de Délhi.

“CONTER-SE AO MÁXIMO”

Dezenas de milhares de agricultores estão enfrentando o inverno de Nova Délhi ao dormir a céu aberto há meses nas estradas federais em protesto contra as medidas. Os atos têm sido majoritariamente pacíficos, mas uma manifestação com tratores em 26 de janeiro gerou tumulto quando alguns agricultores entraram em conflito com a polícia.

Desde então, as autoridades derrubaram a internet móvel em partes da capital e colocaram barricadas em estradas de fronteira para impedir que os manifestantes entrem na cidade novamente.

“Os direitos de reunião pacífica e expressão têm que ser protegidos online e offline”, afirmou o gabinete do Alto Comissário das Nações Unidos para Direitos Humanos no Twitter, pedindo que autoridades e manifestantes “se contenham ao máximo”.

“É crucial encontrar soluções justas com o devido respeito aos #DireitosHumanos para todos”.

O assunto tem atraído atenção internacional, com celebridades como a cantora Rihanna e a ativista ambiental Greta Thunberg anunciando apoio aos agricultores. Os Estados Unidos também pediram que a Índia retome negociações com a categoria.

Twitter nega pedidos da Índia e gera debate sobre liberdade de expressão e compliance

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NOVA DÉLHI (Reuters) - A recusa do Twitter em cumprir ordens do governo da Índia que exigiram o bloqueio de mais de 250 contas e publicações colocou a gigante das redes sociais no centro de uma tempestade política em um dos seus principais mercados.

Autoridades do governo, empresários e internautas comuns estão divididos entre a liberdade de expressão e as práticas de compliance da empresa norte-americana, em uma controvérsia que ocorre pouco após uma diretora do Twitter na Índia ter renunciado.

A polêmica, que começou depois de a empresa se recusar nesta semana a obedecer ordem de remover publicações e contas que o governo considerou como um risco de incitação à violência, é o mais recente exemplo do deterioramento das relações entre o governo do primeiro-ministro Narendra Modi e plataformas de redes sociais dos EUA, como Facebook e WhatsApp.

Há muita coisa em jogo para o Twitter em um país com 1,3 bilhão de pessoas, onde a plataforma tem milhões de usuários e é ardorosamente usada por Modi, seu ministério e outros líderes em sua comunicação com o público.

Agricultores estão conduzindo protestos cada vez maiores contra novas leis agrárias, com dezenas de milhares de pessoas acampando nos arredores de Nova Délhi e lançando bloqueios sobre estradas pelo país neste sábado.

Com a crise piorando, o governo buscou esta semana um “bloqueio de emergência” contra a hashtag #ModiPlanejaOGenocídioDosAgricultores no Twitter, por considerá-la “provocativa”, pedindo também o bloqueio de dúzias de contas.

O Twitter inicialmente cumpriu a ordem, mas depois restaurou a maioria das contas, citando “justificativas insuficientes” para manter as suspensões.

O ministério da Tecnologia alertou a empresa, em uma carta vista pela Reuters, que haveria "consequências" legais que poderiam incluir multas ou prisão, dizendo que o governo não precisava justificar seu pedido para banir contas.

A diretora local de política pública do Twitter, Mahima Kaul, renunciou recentemente do seu cargo, disseram duas fontes. Um anúncio no LinkedIn mostrou a empresa buscando candidatos para a posição, que é chave nas relações com o governo.

Kaul não respondeu um pedido de comentários.

O Twitter confirmou a renúncia de Kaul, dizendo ela ficaria no cargo até março e está ajudando com a transição, mas se recusou a comentar além disso.

A empresa disse nesta semana que restringiu acesso ao conteúdo ao receber uma “solicitação com o escopo adequado de uma entidade autorizada”.

“NÃO SÃO LEGISLADORES”

Ativistas pela liberdade de expressão dizem que o governo não deveria tentar usar provisões legais para amordaçar a liberdade de expressão, enquanto outros argumentam que o Twitter deveria cumprir as ordens estatais ou questioná-las na Justiça.

“O Twitter está brincando com fogo”, disse um executivo de redes sociais da Índia que ficou surpreso com a recusa da empresa. “Se houver uma solicitação legal, você precisa tirar o conteúdo do ar. Você é livre depois para questionar (na Justiça)”.

Uma parlamentar do partido de Modi que lidera uma comissão sobre privacidade de dados, Meenakashi Lekhi, criticou o Twitter por desobedecer as ordens do governo, acrescentando que ainda não decidiu se convocaria executivos da empresa para explicações.

“O Twitter precisa entender que eles não são legisladores”, disse Lekhi à Reuters. “Não é a política deles que funcionará, é a política do Estado, do país, que funcionará”.

Para Prasanth Sugathan, do Centro de Liberdade de Software da Índia, o governo tem uma "abordagem seletiva" ao pedir às empresas de mídia que removam conteúdo, focando naqueles que não se adequam à sua narrativa oficial. "Isso sufoca a liberdade de expressão e de imprensa."

Milhares protestam contra golpe em Mianmar apesar de bloqueio à internet

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(Reuters) - Milhares de pessoas foram às ruas em cidades de Mianmar neste sábado para denunciar o golpe desta semana e exigir a libertação da líder eleita Aung San Suu Kyi, apesar de um bloqueio à internet pela junta militar que tomou o poder.

Na maior cidade do país, Yangon, manifestantes furiosos entoavam gritos contra a ditadura militar e a favor da democracia, segurando cartazes onde se lia "Contra a ditadura militar”. Pessoas que passavam pelas ruas ofereciam comida e água aos participantes do ato.

Muitos entre a multidão usaram vermelho, cor da Liga Nacional pela Democracia (NLD, sigla em inglês) de Suu Kyi, que ganhou as eleições de 8 de novembro por goleada, um resultado que os generais se recusaram a reconhecer, alegando fraudes.

As ruas de Yangon tinham uma atmosfera festiva, com o barulho das buzinas dos carros ecoando pela cidade. Milhares marcharam em direção à prefeitura. Motoristas se projetavam de seus carros e saudavam manifestantes, que retornavam os gestos. Alguns carregavam bandeiras da Liga Nacional ou fotos de Suu Kyi. Muitos aplaudiam e dançavam.

Milhares de pessoas se reuniram também na capital construída pelos militares, Naypyidaw, na região central de Mianmar, buzinando em motos. Elas gritavam slogans contra o golpe e pediam a libertação de Suu Kyi.

Os protestos foram organizados apesar de um bloqueio à internet imposto quando as primeiras manifestações começaram a se formar. Durante todo o dia, a TV estatal MRTV exigiu imagens elogiando os militares.

O grupo de monitoramento NetBlocks relatou um “blackout de escala nacional na internet”, dizendo que a conectividade do Twitter havia caído a 16% dos níveis habituais. Testemunhas relatam um desligamento dos serviços de dados e wifi.

A junta militar não respondeu a pedidos de comentários.

Os militares no poder ampliaram repressão às redes sociais mirando o Twitter e o Instagram, depois de terem buscado silenciar as divergências ao bloquear temporariamente o Facebook, que tem metade da população como usuária.

O Facebook pediu que a junta militar desbloqueie a rede social.

“Neste momento crítico, o povo de Mianmar precisa de acesso a informações importantes e da possibilidade de se comunicar com seus entes queridos”, afirmou o chefe de política pública do Facebook para a Ásia-Pacífico, Rafael Frankel, em comunicado.

O gabinete de direitos humanos das Nações Unidas afirmou no Twitter que “serviços de internet e comunicação precisam ser totalmente restaurados para garantir a liberdade de expressão e acesso à informação”.

A operadora de internet móvel norueguesa Telenor afirmou que as autoridades ordenaram a todas operadoras de celulares que fechassem temporariamente as redes de dados, embora serviços de voz e SMS tenham continuado a funcionar.

Organizações da sociedade civil de Mianmar apelaram para que as fornecedoras de redes de internet e de celular resistissem às ordens da junta militar, dizendo em um comunicado conjunto que elas estavam “essencialmente legitimando a autoridade dos militares”.

A Telenor lamentou o impacto sobre as pessoas, mas disse que sua atuação é limitada pela lei local e que sua primeira prioridade é a segurança de seus trabalhadores locais.

O vice-diretor regional da Anistia Internacional, Ming Yu Hah, afirmou que fechar a internet em meio a um golpe e uma pandemia é uma decisão “hedionda e imprudente”.

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

O chefe do Exército, Min Aung Hlaing, assumiu o poder alegando fraude, apesar de a comissão eleitoral ter dito que não encontrou evidências de irregularidades abrangentes na votação de novembro.

A junta militar anunciou um estado de emergência de um ano e prometeu entregar o poder após novas eleições, sem anunciar um cronograma.

A vencedora do Nobel da Paz, Suu Kyi, 75, foi indiciada pela importação ilegal de seis walkie-talkies, enquanto o presidente deposto Win Mying é acusado de desprezar as restrições contra a Covid-19. Nenhum deles foi visto desde o golpe. Seus advogados dizem que eles estão sendo detidos em suas casas.

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Fonte:
Reuters

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