Menor apetite por risco e ruídos políticos domésticos impulsionam dólar contra real
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava fortemente contra o real nesta quarta-feira à medida que o otimismo global -- provocado pela vitória eleitoral de Joe Biden nos Estados Unidos e notícias de sucesso em uma vacina contra a Covid -- perdia força, com ruídos políticos domésticos colaborando para a aversão a risco.
Às 10:00, o dólar avançava 0,55%, a 5,4209 reais na venda, enquanto o dólar futuro tinha alta de 0,30%, a 5,4365 reais.
Os investidores globais continuavam atentos ao cenário político norte-americano, depois de vitória democrata na Casa Branca, e aos sinais de forte progresso no desenvolvimento de uma vacina da Pfizer, que afirmou ter alcançado 90% de sucesso na prevenção da Covid-19.
No entanto, vários analistas citaram arrefecimento no movimento de compra de ativos de risco, com o índice do dólar ante uma cesta de pares fortes subindo cerca de 0,4%. Peso mexicano, rand sul-africano e dólar australiano eram negociados em queda contra a divisa norte-americana.
Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora, citou em nota o avanço global do coronavírus e a resistência do atual presidente norte-americano, Donald Trump, em aceitar o resultado das eleições dos EUA como fatores que se opunham às manchetes otimistas que geraram forte procura por risco mais cedo na semana.
Internamente, chamava a atenção dos investidores a fala adotada pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira, quando afirmou, referindo-se à diplomacia Brasil-Estados Unidos, que "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora".
Bolsonaro se referiu indiretamente a declarações do presidente eleito dos EUA, Biden, sobre levantar barreiras comerciais contra o Brasil para interromper o que o norte-americano chamou de destruição da floresta.
O presidente afirmou também que é preciso enfrentar a pandemia do novo coronavírus de "peito aberto" e que o Brasil tem de deixar de ser "um país de maricas", numa referência pejorativa ao receio com a Covid-19, que já matou mais de 162 mil e infectou 5,67 milhões de pessoas.
"A celeuma acontece a poucos dias da volta de Brasília às atividades pós-eleições municipais para discutir o orçamento de 2021, incluindo as PECs de revisão de despesas e o programa de transferência de renda – um desafio que não é trivial", disseram em nota analistas políticos da XP Investimentos.
"Era recomendado que o governo concentrasse esforços nesses dias que antecedem o retorno para chegar na semana que vem com o tema encaminhado – o desconcerto de ontem mostra que estamos na direção contrária."
A saúde das contas públicas tem dominado o radar dos investidores domésticos, que temem que o governo fure seu teto de gastos ao tentar conciliar o financiamento de um novo programa de assistência social a um Orçamento apertado para 2021.
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou na segunda-feira que tudo indica que o Congresso não vai votar o Orçamento ainda este ano e isso poderá afetar o rating do Brasil nas agências de classificação de risco.
No ano de 2020, o dólar acumula salto de quase 36% contra o real.
Na véspera, a moeda norte-americana à vista registrou alta de 0,11%, a 5,3913 reais na venda.
O Banco Central fará neste pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em abril e agosto de 2021.
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