Epidemia do coronavírus entra em fase de transmissão comunitária no Brasil

Publicado em 14/03/2020 10:16 e atualizado em 16/03/2020 06:06

Brasília, 13 mar (Xinhua) -- O Ministério da Saúde brasileiro anunciou nesta sexta-feira que o país entrou na fase de transmissão comunitária do novo coronavírus, com casos confirmados nas suas duas maiores cidades e as mais afetadas pela epidemia, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo o balanço oficial divulgado pelo Ministério da Saúde na tarde desta sexta-feira, há 98 casos confirmados no país, mas depois da divulgação, as secretarias de saúde de vários estados confirmaram mais contágios e o número total seria de 107 casos. Outras 1.485 pessoas são consideradas suspeitas e até agora, foram descartados 1.344 casos.

Os casos de transmissão comunitária oficiais são quatro, dois em São Paulo e dois no Rio de Janeiro.

O anúncio dessa fase, que ocorre quando o caso de origem da transmissão não pode ser identificado, fechou uma semana na qual o coronavírus foi a principal notícia do país, afetando não só a economia como também a política.

Até então, só havia registros de casos importados, pacientes que se infectaram em viagens ao exterior e casos de transmissão local, pacientes que se contagiaram pelo contato próximo com casos suspeitos ou confirmados com o novo coronavírus.

No anúncio, o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, explicou que, onde há a transmissão comunitária, muda o modelo de vigilância nestes locais, que passa da fase de contenção da epidemia, ou seja, quando são tomadas medidas para prevenir e limitar a transmissão do vírus, para a fase de mitigação, quando os serviços de saúde se concentram nos casos graves, a fim de evitar mortes.

Segundo o secretário, a nova fase significa que o Ministério da Saúde, que até agora dava orientações aos órgãos locais, passa a dar recomendações e pode chegar, em certas situações, a estabelecer medidas que devem ser cumpridas obrigatoriamente.

Oliveira ressaltou que as medidas não farmacológicas, ou seja, as que visam limitar o contrato entre as pessoas e a transmissão do vírus, são essenciais nessa etapa.

Entre essas medidas, estão a redução dos contatos sociais de idosos e doentes crônicos, cancelamento de eventos em locais fechados com mais de cem pessoas ou que estes ocorram sem público, a redução do fluxo de circulação da população, a suspensão de aulas nas instituições de ensino e até a decretação de quarentena quando 80% dos leitos de UTI de uma determinada região estiverem ocupados.

"Nos países que estão enfrentando este problema, a adoção destas medidas não farmacológicas reduziu a velocidade de transmissão e retardou o pico da epidemia, dando melhores condições para que os serviços de saúde impactados pelo aumento da demanda possam se recuperar", disse Oliveira.

Na entrevista, o secretário recomendou também sobre a necessidade de isolamento domiciliar por sete dias das pessoas que chegarem ao país, embora não tenham sintomas da COVID-19.

Oliveira orientou todos os viajantes a buscarem um posto de saúde se sentirem falta de ar ou tosse e reforçou que as pessoas com sintomas devem ficar isoladas por 14 dias.

Segundo o Ministério da Saúde, se as ações propostas não forem adotadas, é possível que o número de casos positivos do novo coronavírus no Brasil dobre a cada três dias.

Brasil tem 98 casos confirmados de coronavírus, diz ministério; RJ e SP anunciam restrições

Pessoas utilizam máscaras de proteção contra coronavírus na Universidade de Brasília, DF
  •  SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os casos confirmados de coronavírus no Brasil chegaram a 98 nesta sexta-feira, informou o Ministério da Saúde em plataforma online, registrando um avanço de 22 em relação aos números da véspera.

São Paulo continua como o Estado com maior número de infecções confirmadas, atingindo 56, uma alta de 15 na comparação com quinta-feira, enquanto o Rio de Janeiro segue com a marca de 16 casos confirmados.

Segundo a pasta, as capitais de ambos os Estados possuem confirmações de transmissão comunitária, que ocorre quando é atestada a doença em um paciente que não viajou ao exterior e não tem contato conhecido com um indivíduo coronavírus positivo.

Goiás, com três casos, Santa Catarina (2) e Rio Grande do Norte (1) tiveram pela primeira vez registros confirmados pela plataforma do ministério.

Além deles, o Paraná soma seis infecções e o Rio Grande do Sul tem quatro. Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia e Pernambuco registraram dois casos cada, enquanto Espírito Santo e Alagoas têm um.

Ao todo, o Brasil tem agora 1.485 casos suspeitos.

RJ REFORÇA MEDIDAS

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), anunciou nesta sexta-feira medidas para prevenir a disseminação do Covid-19, incluindo a suspensão por 15 dias de aulas nas redes pública e privada de ensino a partir de segunda-feira e a recomendação para que pessoas não frequentem praias.

O decreto de Witzel também proíbe por 15 dias a realização de eventos com grande concentração de pessoas, como shows, comícios e passeatas, e atividades coletivas como cinema, teatro e espetáculos. Jogos de futebol poderão ocorrer, mas com portões fechados.

"É momento de tomar medidas de forma a prevenir que um quadro mais grave possa acometer a população... O principal objetivo é reduzir a movimentação de pessoas e evitar aglomerações", disse o secretário de Saúde fluminense, Edmar Santos.

"Precisamos da colaboração para desacelerar o processo de infecção."

SÃO PAULO ACOMPANHA

O governo de São Paulo também divulgou medidas de combate à propagação da doença, entre elas a suspensão gradativa das aulas nas escolas estaduais.

De 16 a 23 de março, as escolas estarão abertas para aula normal e fornecimento de orientações às famílias, segundo o governo; a partir de então, as atividades serão suspensas.

O secretário de Educação do Estado, Rossieli Soares, afirmou em entrevista coletiva que é importante que não haja uma interrupção brusca nas aulas antes de as famílias dos estudantes conseguirem se organizar.

"Não adianta parar as aulas e as crianças estarem com o vô, com a vó, que são o público que nós mais temos que nos preocupar", disse ele.

Em relação a eventos, foi indicada pelo governo a suspensão de atividades com mais de 500 pessoas, como musicais e esportivas. Também foi recomendado que universidades públicas e privadas suspendam aulas a partir de segunda-feira.

"(Essas medidas) estão corretas do ponto de vista técnico, científico e principalmente do tempo, do 'timing' e da maneira como se vai fazer", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em coletiva ao lado de autoridades paulistas, incluindo o governador João Doria (PSDB).

Ações de combate nos Estados preveem o 'pior cenário'; casos estão se multiplicando

A crise do contágio da covid-19 chegou com força aos Estados, levando as equipes a trabalharem com a previsão de uma explosão no número de casos nas próximas três semanas. "Todas as ações já estão sendo planejadas com o pior cenário", disse ontem Janaína Fonseca Almeida, diretora de Vigilância de Agravos Transmissíveis da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, durante entrevista sobre a doença em Belo Horizonte.
 
De acordo com a diretora, pelos dados da Organização Mundial da Saúde, observados pelos técnicos nos estudos de projeção do crescimento da doença, a previsão é de um crescimento que multiplica por dez o número de casos atualmente registrados.

No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) também fez reunião extraordinária de governo e usou sua rede social para avisar que havia decretado medidas de restrição de viagens e atendimento dos serviços públicos para tentar conter a doença. "As ações de prevenção são em respeito às pessoas que estão à volta", afirmou o governador. Àquela hora, o Estado tinha quatro casos confirmados. No início da noite, subiu para seis infectados, ambos residentes em Porto Alegre. "Um deles é um homem, de 38 anos, que viajou para Portugal, Dinamarca e Inglaterra e uma mulher, de 59 anos, com passagem pelos Emirados Árabes Unidos", informou a Secretaria da Saúde. Segundo o governador, a preocupação não deve ser somente com o contágio pessoal. Ficam restritas viagens de servidores, e eventos públicos devem ser cancelados ou transferidos. Em Florianópolis, eventos públicos também foram cancelados para conter o avanço da doença.

No vizinho Paraná, também com seis doentes confirmados - cinco em Curitiba e um em Cianorte -, o governo estuda a decretação de emergência. Mas a decisão ainda não foi tomada, explicou Maria Goretti David Lopes, diretora de Atenção à Saúde da Secretaria Estadual da Saúde. "Nós ainda temos uma situação um pouco confortável sobre a covid-19 neste fim de semana", disse Maria Goretti. Para ela, a preocupação no momento é com a preparação do sistema de saúde para enfrentar os próximos dias.

De acordo com a diretora, o Paraná já vive no nível 3 do Plano de Contingência, mas ela lembra que todos os casos são "importados". Não há casos de transmissão local. Para Maria Goretti, um agravante enfrentado na rede de atendimento de saúde é o número de casos de dengue. Ela contou que já foram registradas pelo menos 37 mortes pela doença transmitida pelo Aedes aegypti.

Na Bahia, a preocupação também aumentou. Ontem à tarde, boletim da Secretaria da Saúde apontava 7 casos confirmados, com 289 suspeitas de infecção. Outros 153 foram descartados pelo serviço de análise. Entre os confirmados, 4 são de Feira de Santana e 3 da capital.

Os dados divulgados pelos Estados diferem do balanço nacional de ontem porque parte dos números ainda não havia sido consolidada pelo ministério. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Transmissão fecal-oral é possível em casos pediátricos da COVID-19, segundo pesquisa

Guangzhou, 14 mar (Xinhua) -- Pediatras chineses publicaram nesta sexta-feira um estudo na revista Nature Medicine com base em uma pesquisa de 10 casos pediátricos de infecção pela COVID-19, para proporcionar referência ao diagnóstico e tratamento de casos infantis a nível mundial.

O estudo, escrito por uma equipe de pesquisa do Centro Médico Materno e Infantil de Guangzhou, assinalou que os sintomas nestes casos não são específicos e que nenhuma criança requereu apoio respiratório nem cuidados intensivos. As radiografias do tórax carecem de sinais definitivos de pneumonia, uma característica distintiva da infecção em casos de adultos.

Entretanto, notavelmente oito crianças deram positivo persistentemente em amostras retais, mesmo após o teste nasofaríngeo dar negativo, elevando a possibilidade da transmissão fecal-oral, explica o ensaio.

O estudo foi compartilhado com a Organização Mundial da Saúde (OMS) ao mesmo tempo em que foi publicado online.

Ações de combate nos Estados preveem o 'pior cenário'

 

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Fonte:
Xinhua/Estadão Conteúdo/Reuters

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