Bolsonaro enviará projeto para mudar ICMS de combustíveis; governadores reagem

Publicado em 03/02/2020 15:45

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(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro anunciou que o governo enviará ao Congresso um projeto para mudar a cobrança do ICMS, imposto estadual, sobre a gasolina e o diesel, alegando que as reduções recentes anunciadas pela Petrobras nas refinarias não têm se refletido nas bombas.

"Pela 3ª vez consecutiva baixamos os preços da gasolina e diesel nas refinarias, mas os preços não diminuem nos postos, por quê? Porque os governadores cobram, em média, 30% de ICMS sobre o valor médio cobrado nas bombas dos postos e atualizam apenas de 15 em 15 dias, prejudicando o consumidor", escreveu o presidente na noite de domingo em sua conta no Twitter.

"O que o presidente da República pode fazer, para diminuir então o preço do diesel/gasolina para o consumidor? Mudar a legislação por lei complementar de modo que o ICMS seja um valor fixo por litro, e não mais pela média dos postos (além de outras medidas). O presidente da República encaminhará proposta ao Legislativo e lutará pela sua aprovação", acrescentou.

Bolsonaro não deu mais detalhes sobre a proposta que pretende encaminhar ao Legislativo. O preço do diesel é um tema sensível para os caminhoneiros, categoria que realizou uma greve nacional em 2018 que gerou desabastecimento e impacto econômico. O presidente teve apoio de lideranças dos caminhoneiros na eleição de 2018.

Hoje o ICMS sobre combustíveis é cobrado sobre o valor da mercadoria, no modelo "ad valorem". Por isso, quando os preços da gasolina e do diesel ficam mais caros --seja pelo aumento do dólar ou pelo avanço dos preços internacionais do petróleo-- os Estados arrecadam mais.

Em nota, 21 governadores reagiram à mensagem do presidente, clamando por "um debate responsável acerca do tema" e reiterando a disponibilidade para, "nos fóruns apropriados, debater e construir soluções".

"Diante da forma como o tema foi lançado pelo Presidente da República, exclusivamente por intermédio de redes sociais", os governadores afirmaram que o "ICMS está previsto na Constituição Federal como a principal receita dos Estados para a manutenção de serviços essenciais à população, a exemplo de segurança, saúde e educação".

Anteriormente, Estados já haviam apresentado restrições a uma sugestão do presidente de usar o ICMS como forma de aliviar pressões sobre os preços dos combustíveis, argumentando que o tributo é fonte importante de receita.

Os governadores disseram ainda que o ICMS sobre combustíveis deriva da autonomia dos Estados na definição de alíquotas e responde por, em média, 20% do total da arrecadação deste imposto nas unidades da Federação. Eles lembraram também que 25% do ICMS é repassado aos municípios.

"Segundo o pacto federativo constante da Constituição Federal, não cabe à esfera federal estabelecer tributação sobre consumo. Diante do impacto de cerca de 15% no preço final do combustível ao consumidor, consideramos que o governo federal pode e deve imediatamente abrir mão das receitas de PIS, Cofins e Cide, advindas de operações com combustíveis."

Na nota, os Estados defenderam ainda a realização de uma reforma tributária que "beneficie a sociedade e respeite o pacto federativo".

(Por Eduardo Simões, em São Paulo; com reportagem adicional de Ricardo Brito em Brasília)

Governadores se unem contra proposta de Bolsonaro sobre cobrança de ICMS

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Em comunicado conjunto, 22 governadores reagiram à proposta do presidente da República, Jair Bolsonaro, de encaminhar um projeto ao Congresso para alterar a forma de cobrança do ICMS que incide sobre a gasolina e o diesel. Os governadores afirmam que o ICMS é a principal receita dos Estados para a manutenção de serviços essenciais à população, como segurança, saúde e educação. Eles reclamam que esse debate tem de ser feito de forma responsável e no fórum adequado.

"Os governadores têm enorme interesse em viabilizar a diminuição do preço dos combustíveis. No entanto, o debate acerca de medidas possíveis deve ser feito nos fóruns institucionais adequados e com os estudos técnicos apropriados", diz a carta, que foi divulgada pelo governo de São Paulo.

Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a divulgação da carta começou a ser preparada ontem mesmo pelos governadores como resposta ao presidente.

A ideia do presidente é acelerar a chegada dos cortes feitos nas refinarias, pela Petrobras, ao consumidor.

O presidente anunciou a proposta ontem na sua conta no Twitter, o que causou grande desconforto nos governadores, já que o ICMS é um tributo dos Estados.

Há uma avaliação entre os governadores de que o presidente adota uma postura populista ao tentar colocar no colo dos Estados uma responsabilidade dos preços altos para enfraquecê-los nas próximas eleições. Eles avaliam que Bolsonaro deveria trabalhar para reduzir a tributação federal.

No post, o presidente propõe a incidência de um valor fixo de ICMS por litro, e não mais sobre a média de preço cobrado nos postos.

"Os governadores cobram, em média, 30% de ICMS sobre o valor médio cobrado nas bombas dos postos e atualizam apenas de 15 em 15 dias, prejudicando o consumidor", escreveu Bolsonaro.

A expectativa é que outros governadores integrem a lista nas próximas horas. Até a publicação deste texto, participam do comunicado conjunto os governadores de: SP, RJ, MA, AP, PI, SE, ES, BA, RS, MT, PA, SC, PR, AL, MS, RN, PE, RR, CE, AM, MG, PB.

Veja a íntegra da carta.

"Posicionamento de vinte e dois governadores em relação ao ICMS sobre combustíveis

Os Governadores dos Estados têm enorme interesse em viabilizar a diminuição do preço dos combustíveis. No entanto, o debate acerca de medidas possíveis para o atingimento deste objetivo deve ser feito nos fóruns institucionais adequados e com os estudos técnicos apropriados.

Diante da forma como o tema foi lançado pelo Presidente da República, exclusivamente por intermédio de redes sociais, cumpre aos Governadores esclarecer que:

1 - O ICMS está previsto na Constituição Federal como a principal receita dos Estados para a manutenção de serviços essenciais à população, a exemplo de segurança, saúde e educação.

2 - O ICMS sobre combustíveis deriva da autonomia dos Estados na definição de alíquotas e responde por, em média, 20% do total da arrecadação deste imposto nas unidades da Federação. Lembramos que 25% do ICMS é repassado aos municípios.

3 - Segundo o pacto federativo constante da Constituição Federal, não cabe à esfera federal estabelecer tributação sobre consumo. Diante do impacto de cerca de 15% no preço final do combustível ao consumidor, consideramos que o governo federal pode e deve imediatamente abrir mão das receitas de PIS, COFINS e CIDE, advindas de operações com combustíveis.

4 - O governo federal controla os preços nas refinarias e obtém dividendos com sua participação indireta no mercado de petróleo - motivo pelo qual se faz necessário que o governo federal explique e reveja a política de preços praticada pela Petrobras.

5 - Os Estados defendem a realização de uma reforma tributária que beneficie a sociedade e respeite o pacto federativo. No âmbito da reforma tributária, o ICMS pode e deve ser debatido, a exemplo dos demais tributos.

6 - Nos últimos anos, a União vem ampliando sua participação frente aos Estados no total da arrecadação nacional de impostos e impondo novas despesas, comprimindo qualquer margem fiscal nos entes federativos.

Os Governadores dos Estados clamam por um debate responsável acerca do tema e reiteram a disponibilidade para, nos fóruns apropriados, debater e construir soluções.

Brasília, 3 de fevereiro de 2019."

 

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Fonte:
Estadão Conteúdo

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2 comentários

  • Elvio Zanini Sinop - MT

    Bem colocado sr. Paulo Rensi; Está na hora dos estados enxugarem a máquina pública porque a força de trabalho dos miseráveis está cada dia menor; e a proxima geração vai trabalhar menos; O nosso Brasil vai sofrer os desmandos dos políticos que na maioria trabalham para seu bem???

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Os sujeitos dizem assim, a solução deve vir por via institucional, mas diacho, não são as instituições que garantem a permanencia no poder desses que nos roubam noite e dia? Essas nulidades, esses politicos e funcionários publicos mequetrefes pensam e acreditam que são grandes coisas quando, na verdade, não passam de um peso no lombo do pobre.

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Sr. Rodrigo, se me permite ... Vou dar um "pitaco"... Onde você cita "instituições", no meu vocabulário cito "corporações". Pois, são classes que se apoderaram daquele espaço na sociedade. .Num relatório de 2019, contatou-se que 60% da "classe média alta" são de indivíduos do setor público. ... A renda mensal da "classe média alta" segundo o IBGE é de 10 a 20 salários mínimos. Hoje seria uma renda mensal de R$ 10.390,00 a R$ 20.780,00 por mês. Com um detalhe ...COM ESTABILIDADE VITALÍCIA !!!

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    • sandro roberto lautert condor - RS

      Meu amigo, como um Promotor ou Juiz aqui no RS vai ganhar de R$ 20.000 a 40.000 p/mes ou um Escrivão de Policia vai se aposentar com R$ 15.000 a 18.000 p/mes??!!! Logo, o imposto tem de ser alto.

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    • Deocleciano Pentello Goiânia - GO

      O funcionalismo público necessita de uma boa reforma, em especial o judiciário, mas vamos lembrar que a maior dos servidores públicos estaduais, policiais militares, professores do ensino básico, profissionais da saúde, recebem um salário bem enxuto. Essa do ICMs é demagogia e populismo do presidente, sempre responsabilizando os outros...

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    • Luiz Alberto Garcia Rio de Janeiro - RJ

      Normalmente o contribuinte conhece pouco sobre o funcionalismo do país. Não é uma questão só de formação acadêmica, e sim basicamente de informação. Como, normalmente, é um assunto complexo e extenso, não interessa o seu conhecimento aprofundado por grande parte da população. Estabilidade, salário e demais benefícios do funcionalismo só deveriam existir para garantir bons serviços em prol do contribuinte. Tudo com base na lei na ética e moral.

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