China tenta ancorar economia e primeira morte de novo coronavírus ocorre fora do país

Publicado em 02/02/2020 13:31

PEQUIM/MANILA (Reuters) - A China elevou neste domingo medidas para conter a epidemia de coronavírus e ancorar a economia atingida por restrições de viagens e fechamentos de empresas, enquanto a primeira morte causada pela infecção foi registrada fora do país.

Um chinês de 44 anos de idade da cidade de Wuhan, na província de Hubei, epicentro da epidemia, viajou para as Filipinas e morreu lá no sábado, informou o Departamento de Saúde das Filipinas.

O surto do novo coronavírus ainda é "grave e complicado" disse o vice-governador de Hubei, Xiao Juhua, em entrevista a jornalistas.

Um total de 304 pessoas morreram vítimas do coronavírus na China, informou a Comissão Nacional de Saúde neste domingo. As infecções na China subiram para 14.380 até o sábado, depois de registrarem o maior aumento diário, disse a comissão.

Outros 171 casos adicionais foram reportados em mais de 20 países e regiões, incluindo Estados Unidos, Japão, Tailândia, Hong Kong e Inglaterra. No Brasil, onde ainda não há registro de infecções confirmadas, os casos suspeitos subiram no sábado de 12 para 16.

CHINA ISOLADA

A China está enfrentando crescente isolamento, conforme são adotadas restrições de viagens por outros países, companhias aéreas suspendem voos e governos retiram seus cidadãos da nação asiática. O pânico arrisca gerar uma desaceleração ainda maior da segunda maior economia do mundo.

O banco central da China afirmou que vai injetar 1,2 trilhão de iuans (173,8 bilhões de dólares) em liquidez aos mercados na segunda-feira, em uma medida para preparar o país para a reabertura das bolsas após o prolongado feriado do Ano Novo Lunar.

Em Pequim, alguns shopping centers continuaram abertos durante o feriado, mas funcionários usando máscaras ficaram do lado de fora das lojas para testar a temperatura dos clientes. Muitas outras lojas e cafés da capital chinesa e de outras cidades preferiram fechar as portas.

"Não podemos ficar sem trabalhar e ficar sem dinheiro. Eu prefiro trabalhar a ter de ficar em casa sem fazer nada", disse Wu Caixia, um funcionário de um restaurante, em Pequim.

Em Pequim, foram montados balcões nas entradas de conjuntos habitacionais, onde voluntários usando faixas e máscaras vermelhas anotam detalhes de moradores voltando de suas cidades natal, após o feriado do Ano Novo Lunar. 

“Enquanto eu estiver protegido e não ir a lugares lotados, eu não temo minha cidade natal ou Pequim”, disse um trabalhador migrante de 58 anos cujo sobrenome é Sun.

Mas outros se mostraran mais preocupados. "Haverá muitas pessoas voltando para a cidade, acho que colocará Pequim sob risco de mais infecções”, disse Zhang Chunlei, 45, outro trabalhador migrante que retornava.

A Organização Mundial de Saúde, que nesta semana declarou o surto como uma preocupação global de saúde pública, disse que restrições ao comércio global e a viagens não são necessárias.

Mas Cingapura e os Estados Unidos anunciaram medidas, na sexta-feira, para proibir a entrada em seus territórios de estrangeiros que estiveram recentemente na China.

EVACUAÇÕES

A Austrália seguiu a mesma linha, com o primeiro-ministro, Scott Morrison, dizendo que o país negará a entrada a todos os estrangeiros viajando da China continental a partir de sábado.

“Estamos na verdade operando com uma abundância de cuidado nestas circunstâncias”, disse Morrison a repórteres, em Sydney. “Para que os australianos possam seguir suas rotinas com confiança.”

As companhias aéreas Qantas Airways e a Air New Zealand afirmaram que proibições de viagens forçaram as empresas a suspender voos diretos da China a partir de 9 de fevereiro. Todas as três maiores companhias aéreas norte-americanas disseram na sexta-feira que cancelarão seus voos que partem da China continental.

Por volta de 10 mil voos foram suspensos desde o surto do novo coronavírus, segundo a empresa de análise de dados de viagem Cirium, ilustrando as preocupações de que haveria uma desaceleração econômica na China e em outros locais.

Muitas nações têm organizado voos fretados para repatriar cidadãos da China e colocá-los em isolamento por aproximadamente duas semanas, período de incubação do vírus. Mais de 300 sul-coreanos retornaram para casa no sábado, e oficiais indonésios afirmaram que por volta de 250 dos seus cidadãos foram retirados de Hubei.

O Reino Unido afirmou que estava retirando alguns funcionários de sua embaixada e de seus consulados na China.

“Caso a situação fique pior no futuro, a habilidade de a embaixada e consulados do Reino Unido de fornecer auxílio a cidadãos britânicos na China pode ser restrita”, disse o governo britânico em um comunicado.

Muitas das caras clínicas privadas cuidando de estrangeiros na China começaram a recusar pessoas com febre, levantando preocupações entre expatriados de que eles terão que depender de instalações locais lotadas.

“Não quero ir a um hospital local com uma dor de garganta e então pegar algo mais sério”, disse a tcheca Veronika Krubner, em Tianjin, que está considerando deixar o país com sua filha de 21 meses.

INTERRUPÇÕES

Infecções aumentaram em duas cidades próximas de Wuhan, levantando preocupações de que novos epicentros estão surgindo, apesar de rígidas restrições de viagens.

Em uma delas, Huanggang, autoridades pediram a moradores que designassem um indivíduo para sair de casa, disse um jornal local. A cidade tem população de aproximadamente 7,5 milhões.

A cidade de Tianjin, no norte, que abriga aproximadamente 15 milhões de pessoas, suspendeu negócios e escolas até segunda ordem.

Embora a OMS tenha elogiado as tentativas da China de conter o vírus, o órgão Defensores dos Direitos Humanos na China, baseado nos EUA, pediu as restrições de movimentos fossem aliviadas e que fosse combatida a discriminação contra moradores de Wuhan e Hubei.

“Direitos humanos não podem ser uma baixa do trabalho do governo para conter o surto de coronavírus que matou quase 200 pessoas e afetou milhões”, disse o grupo.

Ainda assim, os esforços para conter o vírus causaram perturbações e o risco de exacerbar a desaceleração da segunda maior economia do mundo.

O crescimento já havia diminuído no último quarto para apenas 6%, menor marca em 30 anos. O impacto do vírus levou a Capital Economics a diminuir quase pela metade sua estimativa de crescimento do país para o primeiro trimestre, de 5,7% para 3%.

O banco central chinês afirmou que o impacto era temporário e que fundamentos econômicos permanecem sólidos, mas aumentaria o apoio monetário e de crédito, inclusive diminuindo custos de empréstimos para empresas afetadas.

A Apple afirmou neste sábado que fechará todas suas lojas oficiais e escritórios corporativos na China até 9 de fevereiro, a mais recente de uma dezena de grandes empresas, incluindo a sueca IKEA e o Walmart, que restringiram viagens e operações no país devido ao surto.

China injetará 174 bilhões de dólares nos mercados na segunda-feira

XANGAI (Reuters) - O Banco Central da China afirmou que vai injetar na segunda-feira 1,2 trilhão de iuans (174 bilhões de dólares) de liquidez nos mercados em forma de operações de recompra (repos) reversa. O dia marcará a reabertura do mercado em meio a uma epidemia do novo coronavírus que já pressionou as principais bolsas de valores do mundo nas semanas anteriores.

    Autoridades chinesas prometeram usar várias ferramentas de política monetária para garantir liquidez no mercado e apoiar empresas afetadas pela epidemia, que já causou 305 mortes, 304 delas na China.

    O Banco do Povo da China anunciou as medidas em comunicado emitido neste domingo, acrescentando que a liquidez total do sistema bancário será 900 bilhões de iuans maior do que no mesmo período de 2019.

    De acordo com cálculos da Reuters, baseados nos dados oficiais do banco central, 1,05 trilhão de iuans em repos reversos devem vencer na segunda-feira, o que significa que a injeção real será de 150 bilhões de iuans.

    Investidores esperam um dia muito volátil nos mercados chineses quando os mercados reabrirem na segunda-feira, depois de uma pausa pelo Ano Novo Lunar, que acabou estendida pelo governo em função da epidemia. Os mercados de ações, moedas e títulos da dívida estão fechados na China desde 23 de janeiro e deveriam ter sido reabertos na sexta-feira passada.

    Mas a reabertura não será mais adiada, de acordo com o regulador do mercado de seguridades, em entrevista ao jornal People’s Daily.

    O órgão fiscalizador dos mercados financeiros da China, CSRC, informou que tomou a decisão após avaliar diversos fatores e acredita que o impacto da epidemia no mercado será de curto prazo.

    Para apoiar empresas afetadas pela epidemia, a CSRC afirmou que companhias com contratos na bolsa poderão pedir prorrogações e que solicitará aos investidores para estender as datas de vencimento.

    A comissão também considera lançar ferramentas de hedging para o mercado “A-Share” para ajudar a aliviar o pânico, e suspenderá sessões da noite de trading futuro na segunda-feira.

    “Acreditamos que a introdução e implementação sucessiva de políticas vai melhorar as expectativas do mercado e evitar comportamentos irracionais”, disse a comissão ao jornal.

    A China está enfrentando um crescente isolamento, com outros países implementando proibição de viagens, companhias aéreas suspendendo voos e governos retirando seus cidadãos, o que se configura em um alto risco de desaceleração da segunda maior economia do mundo.

    A agência de notícias estatal Xinhua informou neste domingo que a economia da China é resistente para conter o choque causado pelo vírus, e afirmou que comentários feitos por uma autoridade federal norte-americana de que o vírus poderia levar os empregos de volta aos Estados Unidos eram “egoístas, antiprofissionais e antiéticos”.

    O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, afirmou na semana passada que o vírus pode forçar as empresas a reavaliar suas cadeias de suprimentos, potencialmente retornando alguns empregos para os EUA.

    “Os comentários só servem para manchar a imagem dos EUA como um player global”, informou a Xinhua. “Uma epidemia de uma doença como essa não pode servir de base para multinacionais que fazem investimentos sérios e de longo prazo na China. Se a economia chinesa desacelerar dramaticamente, a economia dos EUA também sofrerá.”    (Reportagem adicional de Samuel Shen e Winni Zhou em Xangai)

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Fonte:
Reuters

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