Agronegócio e parcerias tecnológicas marcarão visita de Bolsonaro à Índia
O presidente Jair Bolsonaro chega nesta sexta-feira, 24, à Índia para uma viagem de quatro dias em que deve assinar 12 acordos de investimento e cooperação comercial em áreas como agronegócio e tecnologia. No domingo, 26, ele participará das celebrações do Dia da República - data em que entrou em vigor a Constituição indiana - e terá reuniões com empresários e líderes políticos, entre eles o primeiro-ministro Narendra Modi.
Na pauta das discussões estará a ambição dos dois países em aprofundar o comércio e as relações bilaterais. Em 2019, o intercâmbio comercial entre Brasil e Índia foi de U$ 7,5 bilhões. "Não há razão para não alcançar metas mais ambiciosas, como duplicar o comércio nos próximos três ou cinco anos", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o cônsul da Índia em São Paulo, Amit Kumar Mishra.
Entre as áreas com maior potencial está o agronegócio. Os indianos pretendem direcionar parte da produção de cana - que hoje vira açúcar - para aumentar a porcentagem de álcool na gasolina. Hoje, essa mistura não passa de 7%.
O objetivo é chegar a 10%, até 2022, e a 20%, em 2030. A redução da oferta de açúcar teria um impacto nos preços internacionais do produto. Segundo o governo indiano, para atingir a marca, a experiência do Brasil no setor de biocombustíveis é fundamental.
Antes do embarque, Bolsonaro falou sobre a expectativa para a viagem durante uma rápida entrevista na saída do Palácio da Alvorada. O presidente declarou que o Brasil gostaria de ver a Índia utilizar mais etanol em seus combustíveis. "É um grande interesse nosso que eles usem mais etanol no combustível deles, que daí, entre a lei da oferta e da procura, eles produzem menos açúcar e ajudam a equilibrar o mercado", afirmou o presidente.
Já os indianos, que são referência em tecnologia e inovação, podem oferecer soluções em áreas como análise de big data, inteligência artificial, internet das coisas e segurança cibernética. Hoje, a Índia é o segundo país com mais startups de tecnologia no mundo.
Diplomacia
"Precisamos de um envolvimento mais próximo entre os interessados nessas áreas nos dois países para resolver nossos desafios de desenvolvimento e crescimento", resume o cônsul.
Outro fator comum importante que une os dois países é a liderança nacionalista de Bolsonaro e Modi. Ambos lideram grupos políticos conservadores, de tons populistas e com fortes elementos econômicos de caráter liberal.
Brasil e Índia compartilham ainda uma reivindicação histórica: uma vaga de membro permanente na eventual ampliação do Conselho de Segurança da ONU - embora o chanceler Ernesto Araújo tenha dito algumas vezes que a vaga "não é mais uma prioridade" do governo brasileiro.
Bolsonaro será o convidado de honra de Modi para a cerimônia de domingo, a principal festa nacional da Índia - apenas Fernando Henrique Cardoso, em 1996, e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004, tiveram o mesmo privilégio. Na prática, o convite simboliza o interesse em reforçar os laços com o Brasil - em edições anteriores das comemorações, o governo indiano convidou aliados históricos, como EUA, França, Japão e África do Sul.
"Quando a Índia faz um convite honorário para qualquer presidente é um símbolo de que queremos uma parceria internacional com esse país. Estamos compartilhando valores", explica o professor Umesh Mukhi, do Departamento de Administração da FGV-EAESP. A Índia é o segundo maior mercado do mundo e um dos países que cresce a ritmo mais acelerado. Desde 2015, o PIB vem aumentando a um ritmo de 7%.
Comitiva
Um dos atos mais simbólicos será neste sábado, 25, na entrega de flores no túmulo do líder pacifista Mahatma Gandhi, decisivo na independência da Índia e uma referência do país de 1,3 bilhão de habitantes. Bolsonaro também deve visitar o Taj Mahal, mausoléu localizado na cidade de Agra, antes de voltar ao Brasil, na segunda-feira.
A agenda do presidente será intensa, inclui encontros com as autoridades indianas e empresários de diferentes setores da economia. Ao seu lado estarão os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Tereza Cristina (Agricultura), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Osmar Terra (Cidadania) e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Paulo Beraldo, enviado especial
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