Irã diz que militares do país derrubaram avião ucraniano em "erro desastroso"

Publicado em 11/01/2020 14:27

DUBAI (Reuters) - O Irã disse neste sábado que as Forças Armadas do país abateram por engano um avião ucraniano, matando todas as 176 pessoas a bordo, e afirmou que as defesas aéreas foram disparadas por engano enquanto estavam em alerta após os ataques de mísseis iranianos contra alvos norte-americanos no Iraque.

O Irã negou por dias após o acidente de quarta-feira que tinha sido responsável pela queda do avião, embora um importante comandante da Guarda Revolucionária iraniana tenha dito nesta sábado que informou as autoridades sobre o ataque não intencional no mesmo dia em que ocorreu.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que até este sábado estava em silêncio sobre o acidente, disse que as informações devem ser divulgadas ao público, e autoridades públicas e militares pediram desculpas.

Mas a televisão estatal sugeriu que revelar a verdade sobre o que aconteceu poderia ser usado pelos "inimigos do Irã", geralmente uma referência aos Estados Unidos e Israel.

O acidente aumentou a pressão internacional sobre o Irã, depois de meses de atrito com os Estados Unidos e ataques de ambas as partes. Um ataque de drone dos EUA matou um importante comandante militar iraniano no Iraque em 3 de janeiro, levando Teerã a disparar contra alvos norte-americanos na quarta-feira.

O Canadá, que tinha 57 cidadãos a bordo do avião ucraniano derrubado, e os Estados Unidos já tinham afirmado acreditar que um míssil iraniano tinha atingido a aeronave, embora tenham dito que provavelmente foi um erro.

"A República Islâmica do Irã lamenta profundamente esse erro desastroso", escreveu o presidente iraniano, Hassan Rouhani, no Twitter, prometendo que os responsáveis pelo incidente serão processados. "Meus pensamentos e orações vão para todas as famílias de luto".

Especialistas disseram que a crescente fiscalização internacional tornaria praticamente impossível esconder sinais de um ataque de míssil em qualquer investigação, e o Irã pode ter sentido que reconhecer a falha seria melhor do que enfrentar as crescentes críticas no exterior e aumentar a dor e a raiva dos iranianos, como muitas vítimas iranianas com dupla nacionalidade entre os mortos.

No Twitter, iranianos irados perguntaram por que o avião foi autorizado a decolar diante das tensões na região. O avião caiu no momento em que o Irã estava em alerta para possíveis represálias dos EUA nas horas seguintes ao lançamento de foguetes iranianos contra tropas norte-americanas em bases iraquianas.

"INVESTIGAÇÃO ABRANGENTE"

A Guarda Revolucionária do Irã, em uma rara admissão de erro, pediu desculpas à nação e assumiu toda a responsabilidade.

O comandante sênior da Guarda, Amirali Hajizadeh, disse que havia informado as autoridades do Irã na quarta-feira sobre o ataque não intencional -- um comentário que levantou questões sobre por que as autoridades o negaram publicamente por tanto tempo.

Em resposta ao anúncio do Irã, a Ucrânia exigiu desculpas e compensações oficiais. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pediu "uma investigação completa e abrangente", com a total cooperação do Irã.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que "um erro humano no momento da crise causada pelo aventurismo dos EUA levou ao desastre", citando uma investigação inicial das Forças Armadas sobre a queda do Boeing 737-800.

Um comunicado militar informou que o avião ucraniano voou perto de um local sensível da Guarda Revolucionária em um momento de alerta, embora a Ucrânia tenha dito que o avião estava em um corredor de voo normal.

A Ukraine International Airlines disse que o Irã deveria ter fechado o aeroporto de Teerã. Seu vice-presidente disse que a empresa não recebeu nenhuma indicação de que enfrentava uma ameaça e foi liberada para decolar.

Especialistas em aviação disseram que cabe a um país fechar seu espaço aéreo quando houver risco.

A Casa Branca não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o anúncio deste sábado feito pelo Irã.

Imagens de celulares postadas na internet e que circularam entre iranianos comuns no Twitter após o acidente indicaram que o avião caiu em chamas e explodiu quando atingiu o chão.

O desastre fez lembrar um incidente de 1988, quando um navio de guerra dos EUA derrubou um avião iraniano, matando 290 pessoas. Os EUA disseram que foi um acidente. O Irã disse que foi intencional.

Guarda do Irã sabia que míssil era causa da queda de avião desde dia do acidente

DUBAI (Reuters) - Um alto comandante da Guarda Revolucionária do Irã afirmou neste sábado que soube que um míssil tinha derrubado um avião ucraniano no mesmo dia do acidente e que assumia total responsabilidade pela queda, dizendo que sua força agiu por engano diante de um alerta para "guerra total".

O Irã negou por dias que um míssil tivesse atingido o Boeing 737-800 na quarta-feira pouco depois de decolar de Teerã a caminho de Kiev, mas reconheceu a responsabilidade neste sábado. Todas as 176 pessoas a bordo da aeronave morreram.

"Eu gostaria de poder morrer e não testemunhar um acidente assim", disse o chefe da divisão aeroespacial da Guarda, Amirali Hajizadeh, à televisão estatal.

O avião caiu pouco depois que o Irã lançou ataques com mísseis contra alvos dos Estados Unidos no Iraque em retaliação pelo assassinato de Qassem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda, pelos EUA no Iraque. O Irã esperava represálias dos EUA.

"Naquela noite, estávamos preparados para uma guerra total", disse Hajizadeh, acrescentando que as unidades de defesa aérea estavam em alerta máximo e que uma camada extra de defesas havia sido instalada em Teerã.

O comandante afirmou que a Guarda solicitou que voos comerciais fossem interrompidos, mas disse que os pedidos não foram atendidos. Ele acrescentou ter sido informado sobre o ataque com mísseis ao avião de passageiros ucraniano na quarta-feira.

Empresa ucraniana diz que não recebeu alerta de risco antes da queda de avião no Irã

KIEV (Reuters) - A Ukraine International Airlines disse neste sábado que seu avião que caiu no Irã na quarta-feira não recebeu qualquer aviso do aeroporto de Teerã sobre uma possível ameaça à sua segurança antes de decolar a caminho de Kiev.

Em entrevista a jornalistas, o presidente e o vice-presidente da companhia aérea também negaram que a aeronave tenha saído de seu curso normal, após um comunicado militar iraniana afirmar que o avião voou perto de um local militar sensível da Guarda Revolucionária.

Os executivos da companhia aérea se irritaram com o que eles disseram serem sugestões do Irã de que a tripulação não agiu corretamente.

O Irã afirmou mais cedo que seus militares derrubaram o avião por engano, dizendo que as defesas aéreas foram disparadas equivocadamente enquanto estavam em alerta máximo após o ataque de mísseis iranianos contra alvos dos Estados Unidos no Iraque. Todas as 176 pessoas a bordo morreram.

As autoridades da companhia aérea pediram ao Irã que assuma total responsabilidade pelo acidente e disseram que as autoridades iranianas deveriam ter fechado o aeroporto.

"Se você se joga em uma guerra, jogue o quanto quiser, mas há pessoas normais em volta que você tinha que proteger", disse o vice-presidente da companhia, Ihor Sosnovsky.

"Se eles estão atirando de algum lugar para outro, eles eram obrigados a fechar o aeroporto. Obrigados. E depois atire o quanto quiser."

Ele acrescentou que o avião girou 15 graus para a direita depois de atingir 6.000 pés, de acordo com as instruções do aeroporto.

Segundo o governo da Ucrânia, 11 ucranianos, incluindo nove tripulantes, morreram no acidente.

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Fonte:
Reuters

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