Bolsonaro procura Petrobras para falar sobre impacto nos combustíveis de ataque dos EUA
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que procurou a Petrobras para conversar sobre riscos de uma possível alta de combustíveis no país devido ao ataque dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassim Suleimani.
Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, na TV Band, Bolsonaro declarou que o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, teria afirmado acreditar que a pressão sobre os preços do petróleo, que influenciam na cotação dos combustíveis, não deverá perdurar por muito tempo.
"Eu acredito muito na experiência do Castello Branco, da Petrobras, que falou comigo hoje de manhã. Ele acha que esse pequeno aumento no combustível agora --quer dizer, pra nós, que já tá alto, é grande, 5%, 6%-- não vai perdurar por muito tempo, volta à normalidade rapidamente", afirmou Bolsonaro.
Os preços do petróleo saltaram para seu maior nível em mais de três meses nesta sexta-feira, depois que o ataque aéreo dos Estados Unidos em Bagdá matou o chefe da força de elite Quds, do Irã. O petróleo Brent, referência internacional, fechou com alta de 3,6%.
A atual política de preços da Petrobras tem buscado seguir preços de paridade de importação, mas sem repassar volatilidades ao mercado interno.
Em comunicado divulgado à noite, após as declarações de Bolsonaro, a estatal afirmou que "segue com processo de monitoramento do mercado internacional" em decorrência dos últimos acontecimentos no Oriente Médio.
A Petrobras afirmou ainda que "decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços" e que "não há periodicidade pré-definida para os reajustes."
Mais cedo, ao conversar com jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro havia admitido que a ação dos EUA vai impactar o preço do petróleo no mercado internacional, o que poderia repercutir no Brasil.
"Que vai afetar, vai. Agora vamos ver o nosso limite aqui", disse ele a jornalistas, quando ainda não havia conseguido contato com Castello Branco.
O presidente disse ainda que o governo não pode intervir no preço do combustível e defendeu que uma política de tabelamento adotada no passado "não deu certo".
Anteriormente, a Petrobras acumulou prejuízos ao não repassar para o mercado interno a alta das cotações externas do petróleo.
Bolsonaro também voltou a defender a quebra do que chamou de "monopólio" no setor de combustíveis, além de mudanças na cobrança do tributo estadual ICMS como forma de baratear o preço dos derivados de petróleo.
"A questão do combustível, temos que quebrar o monopólio. A distribuição é a coisa que mais pesa no combustível", afirmou.
A Petrobras, que detém um monopólio no refino de combustíveis no Brasil, está vendendo aproximadamente metade de sua capacidade, como forma de concentrar seus investimentos no pré-sal e reduzir a dívida.
Já a maior fatia do setor de distribuição de combustíveis é dominada por algumas grandes empresas, como BR Distribuidora, Raízen e Ipiranga, mas o segmento de revenda (postos) é bastante pulverizado no país.
Ao falar novamente com jornalistas no fim desta sexta-feira, o presidente reiterou que uma solução caso a alta dos preços do petróleo impacte os combustíveis poderia envolver mudanças na cobrança do ICMS.
Ele também afirmou ter conversado durante o dia com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e com o ministro da Economia, Paulo Guedes, além de Castello Branco, e reafirmou que não irá intervir nos preços.
PREOCUPAÇÃO LEGÍTIMA
Edmar de Almeida, professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do Instituto de Energia da PUC, ponderou à Reuters que a declaração do presidente mostra sensibilidade em relação a uma questão cara para o seu eleitorado, principalmente os caminhoneiros.
No entanto, o especialista frisou que já está amadurecendo no Brasil a avaliação de que qualquer ação do governo para minimizar impactos "não pode ser às custas do mercado e das empresas".
Segundo Almeida, uma solução precisa partir de uma política associada aos impostos, inclusive estaduais e municipais.
"O presidente tem direito de ficar preocupado com o preço do combustível, aliás, deveria ficar preocupado... O que vai fazer com essa preocupação que é o problema", destacou, apontando ser necessária a criação de um mecanismo que permita aliviar impostos em momentos de alta de preços, sem prejudicar a arrecadação.
Para Almeida, a tensão no Oriente Médio é uma das questões que vêm contribuindo com a sustentação dos preços, mesmo em um cenário de demanda fraca. "Esse fato de hoje foi importante em um cenário de deterioração das relações entre o Ocidente e o Oriente Médio", afirmou.
EUA, DAVOS, ÍNDIA
Bolsonaro afirmou ainda na entrevista que vai em fevereiro aos Estados Unidos para visitar empresários que irão apresentar uma solução de transmissão de energia elétrica "sem meios físicos", tecnologia que segundo o presidente poderia eventualmente ser uma saída para a crise energética do Estado de Roraima, que não está conectado ao sistema elétrico nacional.
A demanda de Roraima tem sido atendida por termelétricas enquanto o governo tenta destravar a construção de uma linha de transmissão que deverá passar por reserva indígena.
O presidente disse também que neste mês está prevista sua ida ao Fórum Econômico Mundial de Davos e, posteriormente, uma viagem à Índia.
Ele destacou que a Índia é um país que tem um comércio enorme e está interessado em abrir mais portas para o Brasil.
Bolsonaro afirmou que está à disposição de conversar com o presidente da Argentina, Alberto Fernandez, com quem teve desentendimentos públicos desde a corrida eleitoral do país vizinho.
Ele destacou que há um bom comércio entre os dois países em várias áreas.
"Espero que as medidas que estão tomando lá de sobretaxar a exportação de grãos e o trigo também não valha para nós", ressalvou.
O presidente disse ainda que não está previsto um encontro entre ele e Alberto Fernandez, mas mostrou-se simpático à aproximação.
"Não está previsto, mas não me furtaria. Se quiser falar comigo, eu o receberia com todas as honras que um chefe de Estado merece", frisou.
Na saída da entrevista, Bolsonaro afirmou que iria visitar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que está no hospital após passar por um procedimento cirúrgico.
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