Bolsonaro cita apoio da Globo ao golpe de 64 e TV responde com editorial (PODER360)

Publicado em 03/08/2018 20:39 e atualizado em 05/08/2018 07:44
Programa teve maior audiência da série

O candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, lembrou durante entrevista à GloboNews nesta 6ª feira que o Grupo Globo apoiou o regime militar instaurado após o golpe de 31 de março de 1964.

A declaração de Bolsonaro provocou uma reação do Grupo Globo, que decidiu veicular uma nota oficial, em formato de editorial, ao final do programa. No texto, vocalizado pela jornalista Míriam Leitão, o apoio ao golpe de 64 foi admitido, mas lembrando que essa posição foi depois invertida em 2013, quando a empresa afirmou que cometera 1 erro.

Bolsonaro levantou o assunto ao responder a uma pergunta do jornalista Roberto D’Ávila a respeito de o candidato do PSL achar que o Brasil não teria passado por uma ditadura militar.

Ao responder a D’Ávila, o candidato disse:

“Eu quero aqui elogiar, saudar a memória do senhor Roberto Marinho. Editorial de capa do jornal ‘O Globo’ de 7 de outubro de 1984, ‘Senhor Roberto Marinho’: ‘Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada’.

“O senhor Roberto Marinho… O senhor [referindo-se a Roberto D’Ávila] acha que ele foi um democrata ou um ditador? Eu acabei de falar, por favor, me responda, um democrata ou um ditador?

Ao ser indagado, D’Ávila respondeu: “Não, eu vou lhe perguntar, o senhor [acha que] houve ditadura no Brasil ou não houve ditadura?”.

Bolsonaro continuou: “Houve períodos de exceções. Até pode ver, falar de fechar o Congresso, tá certo? O que que é o Congresso fechado? (…) Olha só, o que que é um Congresso fechado, mais ou menos 10 meses, mais ou menos [durante a ditadura militar]… No total. Não tinha nenhum cabo na porta [ordenando]‘ninguém entra, ninguém sai’. O Congresso não produzia leis, fechado. Do [José]Sarney pra cá, o Congresso esteve fechado por mais de 10 anos por medida provisória [que trancam a pauta e impedem o funcionamento do Legislativo enquanto não são analisadas as propostas do Executivo]. Quem foi mais violento com o Congresso? Aquele período lá, 10 meses [de Congresso fechado], ou 10 anos [de Sarney para cá]?”.

A declaração de Bolsonaro foi durante o programa “Central das Eleições”, que foi ao ar nesta semana diariamente com entrevistas de presidenciáveis, às 22h30. Foram recebidos por uma bancada de 9 jornalistas da emissora Alvaro Dias(Podemos), na 2ª feira, Marina Silva (Rede), na 3ª feira, Ciro Gomes (PDT), na 4ª feira, e Geraldo Alckmin (PSDB) na 5ª feira.

Ontem, 6ª feira, o programa com Bolsonaro teve a maior audiência de todas as 5 entrevistas da semana, segundo apurou o Poder360. Antes, a maior audiência havia sido a conversa com Ciro Gomes. A GloboNews não divulga os dados exatos de quantas pessoas sintonizaram o canal.

O programa com Bolsonaro teve 1 desfecho diferente dos anteriores. Ao final da entrevista, a jornalista Miriam Leitão vocalizou 1 editorial preparado pela direção do Grupo Globo.

O texto era para ter sido lido a partir de 1 teleprompter –equipamento que fica entre o narrador e a câmera e mostra as frases que devem ser lidas. O TP, como se diz no jargão televisivo, falhou.

Para resolver o problema, o texto foi então enviado para a jornalista por meio de 1 ponto eletrônico –o fone de ouvido sem fio que permite aos jornalistas entrevistadores ouvir o que diz a direção do programa a partir da mesa de edição de imagens. Miriam Leitão passou a ouvir cada uma das frases do editorial do Grupo Globo e repetiu tudo no ar, ao vivo, de maneira pausada.

Eis o texto vocalizado por Míriam Leitão:

“Em relação às declarações do candidato Jair Bolsonaro sobre O Globo em 1964, o Grupo Globo emitiu a seguinte nota:

“O candidato Jair Bolsonaro disse há pouco que Roberto Marinho, em editorial de 1984, afirmou que participava do que chamava de ‘Revolução de 64’. Identificado com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas. É fato. Como todos os grandes jornais à época –com exceção da ‘Última Hora’–, ‘O Globo’ apoiou editorialmente o golpe –com o objetivo reiterado de Roberto Marinho 20 anos depois.

“O candidato Bolsonaro esqueceu-se, porém, de dizer que em 30 de agosto de 2013, ‘O Globo’ publicou um editorial em que reconheceu que o apoio ao golpe de 64 foi um erro. Nele, o jornal disse não ter dúvidas de que o apoio pareceu, aos que dirigiam o jornal na época e viveram aquele momento, a atitude certa, visando ao bem do país.

“E finaliza com essas palavras o editorial [de 2013]: à luz da história, contudo, não há porque não reconhecer hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro. Assim como, equivocadas foram outras decisões editoriais no período em que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto e corre risco. E ela só pode ser salva por si mesma”.

 

FOTOS COM FUNCIONÁRIOS DA GLOBO

Aliado de Bolsonaro, o senador Magno Malta (PR) registrou momento em que funcionários da emissora tiraram foto com o pré-candidato do PSL. Assista:

 
 

😱 *Ver os funcionários da Globo disputando pra fazer foto com Bolsonaro antes da entrevista não tem preço!* 👇🏼 😂😂

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O QUE NOS DIFERENCIA DELES?, por RODRIGO CONSTANTINO  (Gazeta do Povo)

“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.” (Nelson Rodrigues)

O jogo político é sujo, pesado, e certamente não é para amadores ou puristas. Entendo isso perfeitamente, não sou um idealista, e sou capaz de dosar meus anseios mais românticos com boas pitadas de pragmatismo. Os resultados importam.

Dito isso, acho que nunca podemos perder de vista quem somos, o que queremos e, principalmente, como pretendemos chegar lá. Tenho um texto em tom de confissão, da época da Veja (e da época em que a revista não tentava tirar leitores da CartaCapital), em que admito que o PT me faz ser uma pessoa pior. E faz mesmo.

Se o objetivo é impedir a volta dessa quadrilha terrível ao poder – e se trata de um objetivo louvável – então vale tudo? Se enxergamos um risco iminente de o Brasil virar uma Venezuela, então não temos que lutar com todas as armas para evitar tal destino trágico?

O problema é quando essa mentalidade vai criando um clima de tudo ou nada, de guerra plena, onde o adversário deve ser eliminado – e o adversário é todo aquele que não endossa cegamente a minha escolha específica para derrotar o inimigo. Nesse caso, viramos sectários, membros de uma seita, uma tribo fanática, onde a única meta importante é derrotar o inimigo, custe o que custar. O inimigo, nesse caso, já venceu.

Sim, pois esquecemos a razão do combate para começo de conversa. Não era justamente para impedir totalitários radicais de chegarem ao poder? Mas se pudermos utilizar os mesmos métodos em nome dos resultados políticos, então qual a grande diferença? Se virarmos mesmo um PT de sinal trocado, como alertou Janaina Paschoal, então o PT saiu vitorioso, de qualquer jeito.

Muitos seguidores meus ficam cobrando uma defesa mais enfática da candidatura de Bolsonaro, e reclamam quando critico o capitão. Confundem o papel de um jornalista ou mesmo de um pensador de direita com o de cheerleader de político. Até me esforço para entender o raciocínio: ele é o único que sobrou à direita com chance concreta, então temos que unir forças agora para derrotar a esquerda. Ok, mas o que realmente está em jogo aqui?

A salvação do Brasil? Impedir a volta do Foro de São Paulo e o destino venezuelano? Calma, gente. O Brasil não será salvo numa gestão, e Bolsonaro está longe de ser o ideal conservador, como muitos reconhecem. Tampouco há real risco de venezualização num eventual governo tucano, por exemplo. Seria de esquerda, sim, e ruim, em minha opinião. Mas essa tática de misturar tudo e todos sem qualquer gradação é puramente eleitoral, não uma análise séria.

Eis, aliás, o grande perigo que vejo para essa postura: abandonar o papel de analista ou de pensador independente preocupado com o longo prazo da nação e mergulhar na função menos nobre e mais míope de militante partidário e cabo eleitoral de candidato. Virar um puxa-saco de político, um bajulador disfarçado de intelectual. Novamente, não é o que sempre fizeram os petistas?

Lula deu algumas “entrevistas” para aqueles blogueiros chapa-branca, num patético jogo de cartas marcadas. Que me perdoem os que acham que vale tudo na disputa política: eu achava aquilo lamentável do lado petista, e continuo achando do “nosso” lado. “Jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”, resumiu Millor Fernandes.

Vamos supor que Bolsonaro vença: a turma da direita deverá se abster de críticas e perguntas incômodas só porque ele é um dos “nossos”? Qual postura decente esse pessoal espera das lideranças liberais e conservadoras num eventual governo Bolsonaro? A de marqueteiros ou a de quem cobra coerência, resultados e alinhamento doutrinário?

É importante questionar isso antes, pois se engana quem pensa que agora é necessário deixar diferenças e “detalhes” de lado em prol da vitória, para depois cobrar do vitorioso as medidas desejadas. Os mesmos que pedem coro aos elogios e silêncio na hora de críticas, pois está em jogo a derrota da esquerda, vão continuar demandando a mesma postura quando a direita estiver no poder. Afinal, criticar um dos “nossos” é dar arma para o inimigo, arriscar sua volta ao poder.

E sem perceber, agindo assim, vamos caminhando para o lado de lá, adotando os mesmos métodos, esquecendo e abandonando aquilo que nos diferencia deles. E o que seria isso? Ora, os princípios. Nossos valores. A capacidade de autocrítica. A honestidade intelectual, o principal ativo de quem pretende ser um analista independente e, mais importante, um ser humano livre.

Aquele que se presta ao papel de marqueteiro de candidato ou bajulador de político perde credibilidade como analista independente. É possível ser um deles; não ambos. Quem quer ficar levantando bola para seu candidato cortar, seja “lacrando”, seja “mitando”, não poderá exigir do público muito respeito depois como pensador ou analista.

Paulo Cruz resumiu com perfeição: “Contem comigo para debater seriamente a coisa, não para torcer. Já disse e repito: falei bem muitas vezes e continuo defendendo quando necessário, mas não sou capacho de ninguém. Sou livre. Saudações”. Quem abandona essa liberdade em troca da política deve aceitar as consequências. Uma delas alertada pelo próprio Cruz: “Só vou dizer uma coisa: nunca mais reclamem das entrevistas ‘chapa-branca’ da esquerda”.

O duplo padrão é a marca registrada da esquerda. A hipocrisia, a seletividade, o uso de réguas diferentes para medir as coisas, isso é justamente o que tentamos derrotar em nome do avanço da civilização e da busca da verdade. Se a direita passar a agir da mesma forma, então qual a grande diferença? Por exemplo: Ana Amélia era respeitada até ontem, e hoje passou a ser detonada, com seu passado resgatado, como quando pediu votos para a comunista Manuela (uma vergonha mesmo). Mas o passado de Bolsonaro não pode ser questionado? Ele mudou, mas ninguém mais pode ter mudado?

Viver como se todo dia fosse um segundo turno eleitoral é destruir qualquer possibilidade de diálogo sério e construtivo entre pessoas que pensam diferente dentro de certos parâmetros aceitáveis. Uma pergunta sincera que faço aos eleitores de Bolsonaro: vocês estão preparados para admitir que alguém inteligente, honesto e patriota não pretende votar nele por não considera-lo uma boa opção? Ou essa pessoa automaticamente se torna um comunista safado e globalista?

Responder a essa questão, de preferência após uma reflexão honesta, é importante para lembrar que Bolsonaro passa, mas o Brasil fica, e que o movimento liberal-conservador é maior e deve estar acima de um político qualquer. Não espero que todos me entendam. Sei como o clima está polarizado, tenso, de “vai ou racha”, e que alguns vão me acusar de “isentão” (logo eu!). Não ligo. Não estou aqui para uma corrida de cem metros rasos, mas sim para uma maratona. E esta exige fôlego, paciência e tolerância.

O que nos diferencia deles? Eis a pergunta que devemos fazer todo santo dia. “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, alertou Nietzsche. Eu vou continuar lutando contra monstros. Mas sempre tomando o cuidado para não me transformar em um também. Afinal, quem foi que disse que existem somente monstros vermelhos?

Rodrigo Constantino

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Fonte:
Poder360

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1 comentário

  • carlo meloni sao paulo - SP

    Pois é, a Globo e' igualzinha à religiao catolica que, durante a escravidao, ficou calada, e depois acordou ... alegando que a sociedade tinha uma divida social... Como sempre trabalham com o dinheiro dos outros.... Bonito neh !!!

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      As vezes tentando nao escrever demais esqueço a ideia principal----A Globo arrecadou na campanha CRIANÇA ESPERANÇA 600 milhoes de reais e entregou para a UNESCO so' 10%---

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