Afastamento de ministro do Trabalho estende imbróglio no pasta e enfraquece ainda mais Temer
BRASÍLIA (Reuters) - O afastamento do ministro do Trabalho, Helton Yomura, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira por suspeita de envolvimento em um esquema de concessões irregulares de registros sindicais, amplia imbróglio que atinge o ministério desde o final do ano passado e debilita ainda mais o presidente Michel Temer.
Sem comentários oficiais de imediato do governo, fontes do Planalto ouvidas pela Reuters indicaram que a postura inicial do governo era tentar desviar o problema diretamente para o PTB, partido que controla o ministério desde que Temer assumiu a Presidência da República.
Mas o anúncio do PTB de colocar o "Ministério do Trabalho à disposição do governo Temer" devolveu a bola ao colo do Planalto. Está previsto que o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, dê uma entrevista à imprensa após cerimônia no Palácio do Planalto.
Segundo uma das fontes, Marun esteve em reunião com Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
O impasse no ministério teve início no fim do ano passado, quando Ronaldo Nogueira anunciou que deixaria o cargo para tentar a reeleição à Câmara dos Deputados em outubro deste ano. O PTB indicou o deputado Pedro Fernandes (MA) para substituí-lo. Mas a proximidade do parlamentar com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) --opositor ferrenho do governo Temer-- levou a um veto a seu nome.
No início de janeiro, o presidente do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson, indicou sua filha, a deputada Cristiane Brasil, para o cargo. Condenada em processo trabalhista, Cristiane viu sua indicação questionada, levando a uma batalha jurídica que só acabou no final de fevereiro, com a desistência da deputada de ocupar o cargo.
Yomura assumiu o ministério de forma provisória inicialmente, sendo efetivado apenas em abril.
No mês seguinte, a Polícia Federal lançou a primeira fase da operação Registro Espúrio, quando fez buscas nos gabinetes de deputados, nas sedes do PTB e Solidariedade e em centrais sindicais.
Na segunda etapa, lançada em junho, o principal alvo foi a deputada Cristiane Brasil. Nesta quinta-feira, com a terceira fase, o ministro Helton Yomura foi afastado.
Além de abrir mão do controle do ministério, Jefferson defendeu as investigações e negou participação em qualquer irregularidade.
"Como já foi dito, se houve irregularidade na pasta caberá aos responsáveis responder à Justiça por seus atos", diz Jefferson em nota.
"Não concordamos, todavia, com inferências divulgadas antes que as investigações estejam concluídas. Pessoalmente, insisto: não participei de qualquer esquema espúrio no Ministério do Trabalho. E acrescento que minha colaboração restringiu-se a apoio político ao governo para que o PTB comandasse a pasta."
A poucos meses da eleição e do final do governo, com esse movimento, o PTB deixa de ter motivos para dar apoio a Temer no Congresso.
Na semana que vem, o PTB deve anunciar seu apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)
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